A Gerontologia, enquanto disciplina, tem recorrentemente evidenciado que o envelhecimento é uma experiência mais positiva do que a sociedade ocidental contemporânea pressuponha que fosse.
Baltes e Baltes (1990), defendem que a reforma e o “ninho vazio” estão relacionados com a satisfação com a vida; Costa e colaboradores(1992) referem que a tendência a experienciar emoções positivas é de certa forma constante ao longo de todo o ciclo de vida.
Importa pois perceber a personalidade na Terceira Idade. E para falar sobre este tema, é necessário definir personalidade em termos mais abrangentes. A palavra personalidade tem étimo latino, derivando de “persona”, que significa máscara de actor. Nos escritos de Cícero, aparece com quatro sentidos, todos eles relacionados com teatro: a personalidade como um conjunto de características pessoais do actor, que representam o que a pessoa realmente é; a personalidade, vista como a forma pela qual a pessoa aparece aos outros e não como realmente é equivalendo, neste sentido, à máscara; o papel que a pessoa representa na vida, tal como a personagem num drama; e a personalidade, encarada como um conjunto de qualidades indicativas da distinção e personalidade, que fazem do actor, uma “estrela”. Kimmel (1984) salienta que existem dezenas de definições, mas que a maioria engloba três aspectos principais da mesma, a saber, que a personalidade se refere à unicidade do individuo, aquilo que o distingue de todos os outros; a um conjunto de características estáveis e duradouras, ao longo do tempo e das situações; ao estilo característico de ligação/ interacção entre o sujeito e o ambiente físico e social.
De facto, a análise da personalidade na terceira idade não se pode orientar por concepções simplistas.
A literatura sobre terceira idade tem dado relevo à deterioração do funcionamento biopsicológico e à dependência bem como à caracterização desta fase em função das perdas. Existe o pressuposto de que a última fase da vida é , um tempo de perdas(familiares, económicas, físicas, sociais), logo, considerado, um tempo de mudança, o que implica a deterioração da personalidade.
Como contrapondo desta visão, existem outros autores que defendem a evolução ao longo do ciclo de vida. Defendem que existe uma interacção entre o sujeito e o ambiente e que o desenvolvimento no adulto é, um processo contínuo e dinâmico. Surgem estudos com resultados bastante consensuais a favor da continuidade e da estabilidade das características psicológicas ao longo da idade adulta.
Alguns autores , como Costa e McCrae, em oposição às concepções que sustentam a existência de declínio ou de evolução, têm defendido a estabilidade da personalidade ( avaliada através de cinco grandes factores, a saber, o neuroticismo, a extroversão, a abertura à experiência, a amabilidade e a conscienciosidade), ao longo do segmento do ciclo de vida que designamos por idade adulta. A intenção destes autores foi acautelar a posição de que, no que concerne à personalidade, os indivíduos idosos não são em nada diferentes de qualquer outro adulto.
Reichard et al(1962) definiu cinco tipos gerais de personalidade segundo a capacidade de adaptação à mudança. Três delas são consideradas bem adaptadas e reflectem uma aceitação positiva de si. A personalidade mais bem adaptada seria a “madura”, caracterizando-se por ser construtiva nas suas relações com os outros. Esta personalidade dos adaptados construtivos faz boa adaptação às crises; tem tolerância; boas relações interpessoais; nível de satisfação elevado; activos. Os sujeitos considerados como tendo uma personalidade tipo “ Cadeira de baloiço”, embora se aceitem, são mais passivos e consideram a terceira idade como destituída de responsabilidades, sendo as suas relações com os outros caracterizadas pela dependência. A personalidade dos adaptados dependentes revela-se passiva; conformista; socialmente pouco activa; evita envolvimentos sociais. As personalidades ditas “ blindadas “ são também adaptadas mais rígidas, recorrendo constantemente a mecanismos de defesa para manter a sua adaptação. De outro modo, dir-se-á que as personalidades dos adaptados defensivos adaptam-se com dificuldade ao envelhecimento; são relativamente satisfeitos; defendem mais o dever do que o prazer; não gostam de introspecção ou discussões pessoais. Os outros dois tipos de personalidade são não adaptados. Existe a personalidade dos não adaptados descontentes, hostis. Estes apresentam má adaptação ao envelhecimento; são desconfiados e agressivos para com os outros; possuem más relações interpessoais e estão sempre ansiosos perante a morte. Por outro lado, a personalidade dos não adaptados, denominados “ auto-fóbicos”, Auto depreciativos apresentam-se depressivos; odeiam-se a si próprios; têm más relações interpessoais; recriminam-se permanentemente e agridem-se a eles próprios; encaram a morte como uma libertação do sofrimento de viver.
Na verdade, a Personalidade na Terceira Idade tem sido estudada na forma pela qual a pessoa aparece aos outros e o papel que a pessoa representa na vida. O que importa reter nesta abordagem da Personalidade na Terceira Idade é que só a diversidade de possibilidades permitirá à pessoa nesta fase do ciclo de vida encontrar a aceitação da sua especificidade pessoal. Cada pessoa é única e uma coisa é certa: “Os traços da personalidade evidenciados ao longo do ciclo de vida acentuam-se consideravelmente na velhice”. Tenho dito.
Por hoje termino esta crónica com um pensamento de Cecília Sfalsin que passo a descrever:
“ Passam-se os anos e o que fica são as marcas de um tempo vivido, sentido e vencido.”
Rosário Pimentel – Mestre em Gerontologia Social