“O Fernando de Melo recomendou-lhe que não bebesse água de Penacova, se quisesse de lá sair solteiro, mas ele provou e acabou por beber, e sei bem que nunca se arrependeu de infringir o conselho do médico ilustre” – escreveu Alípio Barbosa.
Luís Duarte Sereno nasceu em Bruscos e foi nas suas funções de magistrado que conheceu Penacova, onde casou com Maria Pureza Correia Leitão.
Filho de Joaquim Duarte Sereno, negociante e natural de Aguim, e de Carolina Augusta de Almeida, “lavradora” e natural da freguesia de Sangalhos, nasceu na freguesia de Mamarrosa no dia 21 de Janeiro de 1863.
Formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 2 de Julho de 1887. De imediato foi colocado como Juiz Municipal em Albergaria-a-Velha, tendo em 1888 pedido a transferência para Vagos. Seguiu-se Penacova, para aqui ocupar o lugar de Delegado do Procurador Régio (com a criação, em 1832, do Supremo Tribunal de Justiça, o Procurador-Geral da Coroa e Fazenda, era coadjuvado por Procuradores Régios em cada Tribunal de 2ª Instância e por Delegados de Procurador Régio nos Tribunais de 1ª Instância.) Enquanto Delegado da Comarca, assumiu-se sempre como “magistrado austero no cumprimento dos seus deveres”.
Em 1893, aos 30 anos, casou com uma das filhas do Conselheiro Alípio Leitão. O seu elegante “chalet”, em Santo António, aparece em fotografias de 1909, por exemplo na Revista “Serões” e era considerado, a par do palacete de Joaquim Augusto de Carvalho, um dos ex-libris de Penacova.
Durante muitos anos esteve à frente da Misericórdia, como Provedor, ocupando esse cargo na altura em que foram negociadas, com Bissaya Barreto e a Junta da Província da Beira Litoral, as condições para a construção do Preventório e do Hospital. Esteve também ligado à Conferência de S. Vicente de Paulo que durante alguns anos funcionou na vila.
Em 1915, foi Governador Civil de Coimbra (de 5 de Fevereiro a 24 de Maio), durante o Governo de Pimenta de Castro, num período muito conturbado da vida política. O elenco governativo fora nomeado pelo presidente Manuel de Arriaga sem a sanção do Congresso da República e durou apenas de 25 de Janeiro a 14 de Maio. Aquando da morte de Luís Duarte Sereno, o “Notícias de Penacova” escreveu que, na altura, o Dr. Guilherme Moreira [que era Ministro da Justiça] lhe veio bater à porta a convidá-lo para Governador Civil de Coimbra, tendo aceitado: “E monárquico, serviu lealmente a República, como teria servido a Monarquia.”
O Conselheiro Luís Duarte Sereno faleceu na sua “casa solarenga” de Penacova no dia 23 de Fevereiro de 1948. O Governador Civil, Eugénio Mascarenhas Viana de Lemos, fez-se representar no funeral pelo Delegado Policial do concelho de Penacova. Acompanharam o cortejo fúnebre até ao jazigo de família no Cemitério da Eirinha, além das Irmandades do Santíssimo e de Santo António, a Cruzada Eucarística e as Crianças do Preventório.
David G. Almeida