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O Dia Mundial da Saúde Mental é celebrado a 10 de outubro de cada ano, com o objetivo de sublinhar a importância da saúde mental e combater o estigma associado à mesma. Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e emocional e não apenas a ausência de doença. Já a saúde mental, resulta indiscutivelmente de fatores biológicos, psicológicos, mas também sociais. Por ser tão importante quanto esquecida, não hesitei em agarrar a oportunidade de vos falar dela neste espaço.

Se pensarmos apenas na saúde mental da população portuguesa, concluímos que as perturbações de ansiedade são as que apresentam maior prevalência, atingindo 16,5% da população. A depressão vem logo a seguir, atingindo cerca de 8% da população. Basta pensarmos nas pessoas que constituem o nosso grupo de amigos e a nossa família para conseguirmos, com alguma facilidade, entender estes números. Muitas destas pessoas lidam em silêncio com a sua doença, o que lhes traz sofrimento e as impede de darem o seu melhor no trabalho, de manter relações saudáveis com os amigos, familiares e até de lidar com situações banais do dia-a-dia! O isolamento impede que as pessoas ao seu redor se apercebam ou sequer suspeitem da dor e do sofrimento psicológico que viver lhes pode trazer todos os dias, o que adia indefinidamente um diagnóstico e um tratamento adequados.

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Se é verdade que uma em cada cinco pessoas em Portugal tem uma doença mental (22,9%) em alguma fase da sua vida, porque continua a ser tão difícil falar sobre ela? Porque continuam cerca de 75% destes doentes a não receber qualquer tratamento? É fundamental quebrar o estigma e banalizar as conversas sobre saúde mental. Seja na pausa do café na empresa, na mesa do almoço de família ao domingo, em conversa com a vizinha que encontrámos à porta do prédio ou num jantar com os nossos amigos, é banal ouvirmos doentes com hipertensão ou diabetes falar sem hesitações das suas últimas análises e das indicações que trouxeram da sua última consulta de vigilância. Menos provável será alguém falar sem hesitar da sua depressão ou do seu distúrbio de ansiedade, da sua última consulta com o psiquiatra ou do ajuste na medicação que foi necessário fazer na última consulta. Falo de depressão e de ansiedade por serem as perturbações psiquiátricas mais frequentes e com maior impacto direto e indireto na vida destas pessoas e das suas famílias, mas também na sociedade. De qualquer forma, existem doenças psiquiátricas ainda mais graves, que se refletem sobretudo no comportamento e na relação com os outros e é sobre elas que recai o estigma associado às doenças mentais. Quantas vezes já os ouvimos serem chamados de “malucos”, “tolinhos” ou de “loucos”? Estas pessoas não fingem ter uma doença. Estas pessoas fingem estar bem na maior parte do tempo! Não está na moda estar deprimido! Estas pessoas têm doenças reais, tão reais como a hipertensão arterial do nosso pai ou a diabetes do nosso avô. Em consequência a este rótulo, surge o medo e a vergonha da exposição e do julgamento, que acabam por ser mais fortes que a coragem de pedir ajuda, o que muitas vezes leva à sua discriminação – tanto social como profissional.

É fundamental combater o desconhecimento e desbloquear a conversa sobre saúde mental e consciencializar as pessoas, ajudar a combater o estigma e quebrar preconceitos. Foi nesse sentido que a Direção-Geral da Saúde desenvolveu, em conjunto com a associação ManifestaMente, o “Kit Básico de Saúde Mental”. Este kit é um curso online, com a duração de 90 minutos, que está disponível no website da associação e que pretende informar sobre saúde e doença mental. Destina-se a qualquer cidadão, é gratuito e podemos ter acesso ao mesmo aqui: https://www.manifestamente.org/.

Talvez alguns ainda não se tenham apercebido, mas a pandemia de Covid-19 que vivemos tem afetado a saúde mental das populações em todo o mundo, mais do que possamos imaginar. A incerteza sobre o futuro e de quanto tempo esta situação irá durar, são algumas das questões que mais ansiedade geram. É verdade que o Homem é capaz de se adaptar à maioria das coisas, mas até que ponto esta adaptação é compatível com um estado funcional a longo prazo? Até que ponto este estado nos consegue fazer sentir felizes? Que impacto terá em nós este estado novo normal? Se houve coisas que a pandemia nos ensinou, houve outras tantas (muitas!) que nos tirou e que nos fez desaprender, implicando alterações profundas na nossa rotina familiar e no trabalho. É preciso lavar as mãos exaustivamente, o contacto físico está desaconselhado e os abraços estão completamente contraindicados. É urgente manter uma distância de segurança. Conviver passou a constituir um comportamento de risco e duvido que alguém ainda se lembre da sensação de um aperto de mão. Até quando conseguiremos ficar perto do coração, mesmo que longe da vista? Não há problema nenhum em admitir que tudo isto nos faz sentir impotentes e que a ausência de controlo da situação nos faz ficar ansiosos. Quando deixamos de conseguir lidar com tudo isto sozinhos, é preciso procurar ajuda do nosso Médico de Família, recorrer a uma consulta de Psiquiatria (ou mesmo recorrer ao serviço de urgência do vosso hospital) ou de Psicologia e fazê-lo não deve ser motivo de desconforto ou de vergonha. Esta mensagem serve especialmente para os que se acham fortes o suficientepara ultrapassar tudo sozinhos: não precisam! Ser forte não tem de ser sinónimo de controlar tudo e resolver tudo – pelo contrário! Deixo a seguir algumas linhas de apoio que também podem usar e partilhar.

Posto isto, podemos assobiar para o lado, pensar que não é connosco, mas é. Um dia será connosco, seremos nós ou um dos nossos. Parem e olhem à vossa volta. Pode haver quem ainda não tenha tido coragem de pedir ajuda na vossa casa, no vosso grupo de amigos, no vosso local de trabalho. Não desvalorizem o facto dos outros lidarem com a mesma situação de uma forma diferente da vossa. Não digam que “já passa” ou “tens de te animar”. Vivemos numa sociedade que coloca o trabalho (que nunca é suficiente), em vez do nosso bem-estar, no centro das nossas vidas. Mas estamos sempre a tempo de cuidarmos de nós e de quem nos rodeia, de nos respeitarmos, de nos conhecermos melhor. Não tenham medo de pedir ajuda!

Centro SOS – Voz Amiga

213544545

912802669

963524660

(das 16h às 24h)

www.sosvozamiga.org

Conversa Amiga

808 237 327

(das 15h às 22h)

Linha SOS Palavra Amiga

232424282

(das 21h à 1h)

SOS Estudante

969554545

(das 20h à 1h)

SNS24 – Linha de Aconselhamento Psicológico

808242424 (opção 4)

24h por dia: Psicólogos Clínicos

 

Joana Fernandes Duarte – Mestre em Medicina, com especialização em Cuidados Continuados e Paliativos

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