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Esta foi uma semana dominada por dois temas, Covid 19 e Trump. Confesso que ambos me enfastiam, ambos me provocam o mesmo tipo de asco que me leva perto da náusea, mas mesmo que me apeteça armar em avestruz e enfiar a cabeça na areia não posso. De CoVid nada posso dizer porque nada sei, mas de ditadores alucinados já posso dizer qualquer coisinha.

Os tempos que correm apontam para extremos: para odio cego, mas bem direcionado; para nacionalismos exacerbados mas vazios de conteúdo; para uma busca colectiva de culpados para o estado (Mau? Bom? Péssimo? Excelente?) em que se vive hoje, sabendo, todos os justiceiros destas causas, que serão sempre os outros os responsáveis. Estes extremos acabam sempre mal, as ditaduras são sempre terríveis sejam de esquerda ou de direita. Aqueles de entre nós que militam à esquerda ou à direita como se fosse a Académica precisam de abrir os olhos. A política cega e acrítica conduz ao buraco, este pode ser metafórico ou real…Trump foi derrotado! Mas, ao contrário do esperado por tantos, foi uma derrota renhida. Falo em derrota pois esta era a única vitória possível, contada voto a voto. Será a sua saída da casa branca pacifica?? Aceitará a criatura a decisão do povo dos Estados Unidos da América? A semente foi deitada à terra, o discurso de odio está a crescer e este tipo de fenómenos são cíclicos. Temendo este futuro, esta semana da Serra sairão palavras de um dos meus escritores de sempre, que certamente voltará a aparecer por aqui. Desta feita poderá ser, para muitos, uma leitura dolorosa. Escolho A Festa do Chibo, que nos fará recuar até 1961. Trata-se de um romance histórico político baseado na ditadura Dominicana encabeçada pelo Generalíssimo Trujillo. Convém agora relembrar que Llosa não é apenas escritor ou docente, é também um político de primeira linha, daí que este tipo de romance flua das suas teclas como se estivesse inscrito no seu código genético.

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Foto de Marcos Borga

A Festa Do Chibo

“Urania. Os seus pais não lhe tinham feito um favor; (…) Urania que ideia!

SINOPSE

Na república dominicana o chibo, entre nós também conhecido por bode, é idolatrado pelo seu poder e força, daí ser a alcunha do ditador.

A festa do Chibo relata alguns dos horrores cometidos na República Dominicana subjugada pelo ditador Trujillo. A narrativa começa com a insónia de Urania, que é filha de um dos esbirros do Generalíssimo, que voltou sem saber bem porquê, eventualmente para ver o pai morto em vida graças a um piedoso AVC. Toda a obra é densa e tensa. A tensão existe em cada página tornando a leitura fisicamente dolorosa. A construção de cada personagem é cuidadosa e elaborada, todas têm defeitos e virtudes levando-nos a sentir compaixão e repugnância em simultâneo. As descrições psicológicas transportam-nos para o interior da narrativa de forma a tomar parte dela. Pela mão delas descemos todos os ciclos do inferno de Dante e eventualmente mais uns quantos por ele não sonhados. Pela pena de Vargas vamos conhecer os requintes de sadismo com que eram assassinados aqueles sobre quem bastava cair uma suspeita, as torturas supervisionadas por um médico, para impedir a piedade da morte, seriam, para a maioria de nós, impensáveis. Pela cabeça de que alma normal passaria a ideia de arrancar, literalmente, os testículos a um homem e obrigá-lo a come-los??? E já agora para quê? Nas ditaduras a besta, ou as bestas soltam-se e o terror nasce, cresce e demora até morrer. É a isto que vamos assistir nesta obra. Que se leia, que se pense…

Boa semana com livros!

 

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