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Não, não vou discutir o fenómeno da “Fonte Santa” de Chelo. A questão que agora vou colocar prende-se com a data que consta na lápide que atribui o ano de 1113 à fundação da chamada “Fonte Histórica”.

Que facto ou factos se deram nesse longínquo ano? Que documentos suportam esta datação? Com que fundamento?

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A Wikipédia refere que em 1113 no território que viria a ser o reino de Portugal estava em vigor a Era de César, sendo por isso, o ano 1151. Espreitando a cronologia da História de Portugal, ficamos a saber que o Conde D. Henrique tinha morrido um ano antes (1112) e que  governava D. Teresa, enquanto os Mouros continuavam a sul do Mondego. Naquele ano há notícia da restauração da diocese do Porto e sagração episcopal do arcediago Hugo de Compostela. Consultando outas fontes verifica-se que,  em relação a Lorvão, o mosteiro tinha sido doado, havia 4 anos, à Diocese de Coimbra. Só em 1116, a comunidade conseguiu restaurar a sua autonomia e o abade Eusébio foi reconduzido nas suas funções.

Nenhuma luz consegui obter sobre esta misteriosa data de 1113. Se alguém porventura tiver uma explicação, desde já agradeço que partilhe essa informação. Será um número meramente simbólico? Mas porquê fonte “histórica”? Por ser muito antiga? Ou porque isso confere maior solenidade e credibilidade ao local? Estaremos perante mais uma história mal contada?

Para quem não souber do que se está  a falar, recordemos um pouco da história da “Fonte Santa”[1], assim baptizada por Zulmira Ferreira, mais conhecida por Irmã Zulmira.

Em meados do séc. XX, a Chelo começaram a acorrer muitas pessoas em busca das curas milagrosas da “Irmã Zulmira”. Nem toda a aldeia concordava com aquela movimentação e em  Maio de 1969 o ambiente tornou-se pesado. “Crentes”, por um lado, e “não-crentes”, por outro,  começaram a gladiar-se.  O conflito agudizou-se em Janeiro de 1970. No dizer do Diário de Coimbra,  “o lugar foi posto em alvoroço pelas criaturas que mascarando-se de ‘santas’ fizeram levantar todo o povo, vindo para a rua armados de varapaus.” A Comarca de Arganil de Fevereiro de 1970 também noticiou que a D. Zulmira “arrastando consigo numerosos fanáticos levou o desassossego à outrora pacata povoação. Os seus apaniguados guardavam dia e noite a ‘Fonte Santa’ e tornaram um inferno a vida dos que não acreditavam.”

A Câmara de Penacova decidiu intervir e depois de esgotadas as tentativas de harmonizar a controvérsia, resolveu “pura e simplesmente, varrer aquela vigarice dali para fora”. São declarações  do Presidente da Câmara, Eng.º Júlio Nogueira Seco, ao Século Ilustrado.

A 18 de Fevereiro de 1970,  quarta-feira, pelo amanhecer, “um grupo de homens contratado pela Câmara, com a proteção de um pelotão militar reforçado e de uma secção de cavalaria da GNR ”, procedeu “ao desmantelamento do aparatoso cenário”, pondo termo “à crendice e à especulação.”

O Século Ilustrado de 28 de Fevereiro daquele ano publicou uma extensa reportagem sobre estes acontecimentos, com uma fotografia de Zulmira Ferreira preenchendo por completo a capa da revista.

À mesma revista dirá o Pároco da altura, Pe. Ulisses Carlos Dias: “A Zulmira é uma mulher espertíssima. Há uma propaganda muito bem organizada que espalhou as virtudes da água de Chelo aos mais variados pontos do país, com incidência especial nas regiões de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos.”

A apologia das virtudes da “Irmã Zulmira” acabaria por surgir alguns anos mais tarde.  Na década de oitenta foram publicados três volumes de uma obra intitulada “A Vida e a Mística da Irmã Zulmira” tendo como autor Marçal Pires Teixeira. O livro, além de apresentar dados biográficos de Zulmira da Fonseca Ferreira, nascida em Chelo a 3 de Abril de1904 e aí falecida a 24 de Julho de 1990, publica dezenas de testemunhos sobre muitas das graças recebidas por pessoas das mais diversas proveniências.

David G. Almeida

[1] O livro recentemente publicado, “De Coimbra a Lorvão pela estrada Verde”, de J. Leitão Couto e David Almeida, faz referência a estes episódios.

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