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Hoje da Serra correm umas palavras leves, para ajudar a superar os tempos difíceis que todos atravessamos. Escudemo-nos nas palavras leves e alegres, na gargalhada que nos possam propiciar. Pode ser que assim a nossa sanidade mental corra um risco um pouco menor. Deliciem-se com as palavras de Federico Andahazi em “O Anatomista”.

Federico Andahazi – Foto de Rafa Salafranca

O Anatomista

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“Mona Sofia tinha uma estatura augusta. Usava um vestido cuja saia se abria até ao começo das coxas. A seda deixava ver à transparência o seu corpo. Os seios agigantavam-se a cada passo na orla do decote que deixava ver metade do diâmetro dos mamilos. Pendia-lhe da testa uma esmeralda que apenas se destinava a desluzir-se comparada com o esplendor dos seus olhos verdes.

Mona Sofia foi recebida por um verdadeiro carrilhão, uma centena de viris badaladas.”

 SINOPSE

Romance histórico, passa-se durante o século XVI, época histórica em que se cruzam a sede de conhecimento dos renascentistas e o medo de perder o controle dos inquisidores. Mateo Renaldo Cólon é um anatomista da universidade de Pádua. Enquanto anatomista procura desvendar os segredos do corpo humano, quer seja homem quer seja mulher. Enquanto homem procura o segredo do corpo/amor femininos. Na narrativa cruzam-se várias personagens, muito diferentes entre si, mas sempre com algo em comum. A mulher virtuosa e a “puta” têm em comum o anatomista, que, no corpo de uma descobre o caminho para o coração da outra.

Dentro da universidade o trabalho do anatomista é seguido de muito perto pelo reitor. Este é um homem pouco dotado em termos de inteligência, mas o que lhe falta nesse domínio sobra em maldade, inveja e prepotência. Por outro lado, conhece as pessoas certas nos círculos certos e isso vai-lhe permitir controlar o trabalho dos professores uma vez que representa a máxima autoridade na universidade, sendo também o braço longo e pesado da igreja e do seu poder inquisidor.

Quando Mateo é chamado para acudir a uma maleita misteriosa que afecta uma virtuosa mulher, que usa a sua fortuna para acudir a quem lhe parece merecedor, a igreja…, fica desconcertado ao descobrir uma pequena verga entre as suas mais íntimas pregas de carne. Ao “trabalhar” esta pequena verga descobre que a mulher reage com o mesmo ímpeto de um homem. O tratamento continua e Mateo tem a certeza que acabou de descobrir a chave para o coração das mulheres. Anos a tentar descobrir esta chave, muitas beberragens preparadas, que deixaram a Inquisição de olho nele, mas que não tiveram nenhum outro mérito e afinal a chave reside no próprio corpo da mulher.

A “puta” é a mulher mais bela com que Mateo se cruzou e que o subjugou completamente, por ela perde todo o cuidado em relação à inquisição, mesmo sendo muito avesso ao cheiro da carne queimada, principalmente da sua. Por ela vai buscar essa chave do coração da mulher, por ela quase vai parar á fogueira. Só um golpe de sorte faz com que seja poupado e se torne o médico pessoal do Papa. Essa sorte permite-lhe enriquecer e por fim ir procurar a sua amada, mas é tarde! A sífilis encontrou-a primeiro.

A escrita tem uma ironia subtil, um sarcasmo permanente que alegra o espírito e dá cor ao texto. A misoginia dos que defendem o prazer clitoriano como forma de controlar a mulher está muito bem retratada, mas as mulheres, acreditando nessa subjugação conseguem provocar uma mudança de cenário que acaba com o domínio recém conquistado….

Boa semana com livros!

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