Aqui pela Serra, tal como por todas as outras serras e seus vales confina-se. A continuar assim ainda corremos riscos de amofinar. Procurei por aqui palavras doces que possam eventualmente ajudar a pintar com aguarelas coloridas dias tenebrosos e futuros negros de tão incertos. E como quem procura sempre encontra eu encontrei o Principezinho de Saint-Exupéry. Serão as suas palavras a descer hoje da Serra. Sobre o autor não posso acrescentar nada que não seja do conhecimento do mundo por isso não vou contribuir para o amofinamento. Neste livro mostra-nos que na vida as coisas não têm todas o mesmo valor, que a pressa de ser “gente” nos pode fazer passar por coisas muito importantes sem lhes atribuir o verdadeiro valor. Usa a voz de uma criança e a figura de um pequeno e doce príncipe para nos abrir os olhos. É um livro a ler com carinho e atenção, que nos ajude a apreciar as coisas boas da vida independentemente de tudo.
O Pincipezinho
“Foi assim que vivi sempre sozinho, sem ter ninguém com quem falar, mas falar a sério, até ao dia em que, há seis anos, tive uma avaria em pleno deserto do Sahara. O motor tinha qualquer coisa partida.
Era uma questão de vida ou de morte. A água para beber mal chegava para oito dias.
Na primeira noite, deitei-me em cima da areia e adormeci a mil e uma milhas de qualquer lugar habitado, bem mais isolado do que um naufrago agarrado a uma jangada no meio do mar. Imaginam, por tanto, qual não foi a minha surpresa, quando ao romper do dia, fui acordado por uma voz muito fininha, a pedir:
– Por favor … desenha-me uma ovelha!”
SINOPSE
O Principezinho pode ser lido como um romance autobiográfico. Nele encontramos um pequeno príncipe que pode ser encarado à primeira vista como alguém a quem nunca faltou nada, que tem uma vida muito agradável e facilitada. À medida que a obra progride verificamos que a vida desta criança nem sempre foi fácil. Pelo caminho encontrou demasiados escolhos que só princípios muito fortes e valores consistentes lhe permitem ultrapassar.
Ao ler este livro não podemos deixar de relembrar o tempo da nossa infância, em que a nossa vida se pautava por valores diferentes dos dos adultos, em que tudo era bastante mais simples e claro. Contudo este não é um livro para crianças, a mensagem que existe nas entrelinhas ainda não as atinge, uma vez que ainda não foram corrompidas pelo tempo e pela necessidade de complicar tudo até lhe conferir um ar adulto. É uma viagem pelas vivências do autor e pelas suas experiências de vida, que não devemos esquecer, incluem o campo de batalha da segunda guerra mundial.
Para além do narrador e do principezinho, que nunca respondia a nenhuma pergunta, da ovelha numa caixa e da flor manipuladora a panóplia de personagens é enorme para um livro tão pequeno. Quando estava triste o principezinho deleitava-se com o por do sol (assistiu a 43 num único dia…). Viajou por vários asteroides e pouco de bom encontrou. Na Terra cativou uma raposa, ganhou uma ovelha numa caixa e para empreender a viagem final tem encontro marcado com uma serpente. Será ela que lhe vai permitir alijar a carga e regressar ao seu pequeno planeta com a sua ovelha para o perfume da sua amada flor, que mesmo sendo uma vulgar rosa o cativou um dia e por isso se tornou única no universo.
Para além da escrita, nesta obra encontram-se desenhos originais do autor.
Boa semana com livros!