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A Família é um ser frágil como a tília

E quebra como o vidro leve se não for ágil

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… Na construção dos afectos

Ou na preservação dos seus hábitos mais predilectos

Faz tempo que não nos democratizamos

Que não arranjamos modos nem meios de estarmos juntos

Que não nos confrontamos com a amizade

Nem com a diversidade

Passaram (pois é) já quase 40 semanas de abstinência

De ausência no carinho

Ficou cada conjunto no seu ninho

Como se fôssemos um passarinho

Estamos cada qual no seu reduto

Como que em usufruto

Da distância do amor

Mas estamos contra-natura

Contrariando a lógica só por se pensar segura

Fazendo a vida transformar-se em coisa dura

Não podemos juntarmo-nos pra comer

Cozido à Portuguesa

Nem pra ir a casas do pasto familiar

Não podemos conversar as coisas da natureza

Não podemos ter os filhos ao pé para lhes dar na cabeça

Nem podemos ir buscar os netos ao Jardim Escola

Nem levar-lhes mimos bons escondidos na sacola

Nem com eles naturalmente brincar

Ou jogar

Ou cantar

Ou senti-los rabujar

Só temos imagem tremida

Interrompida pela net desfalecida

Ou vídeos que nos mostram os putos já bem crescidos

E nos fazem morrer de saudades nos corações derretidos

Ou de como todos estamos mesmo bem sofridos

Fartos de estar em casa

Com solidão acompanhada

Que, assim, fica como prisão

A Família interrompeu-se

Suspendeu-se nos seus basilares propósitos

Seja ela mais de cariz cristão

Ou até de seres mais agnósticos

… porra pra isto!

 

Luís Pais Amante (Re)pensando a Família

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8 COMENTÁRIOS

  1. Meus Caros Leitores do PenacovaActual,
    … e Penacovenses
    Desde a ocorrência dos lançamentos dos meus livros de Poesia em Penacova, no Centro Cultural, que tenho vindo a consolidar a ideia de que sou bafejado pela sorte de me seguirem, lendo os poemas que escrevo.
    A poesia será sempre lida e apreciada e comentada, se atingir -com realidade- quem a lê, que é como quem diz os destinatários.
    E esses, no meu caso sous Vós: Amigos, Familiares e Penacovenses.
    Muito obrigado a todos e bem assim ao Pedro Viseu que tem sido um suporte da divulgação cultural na nossa terra.

  2. Poema lindo. Para nos fazer lembrar, as coisas simples e boas que estamos a perder, e queremos muito em breve recuperar. Esperemos que esta situacao, seja recordada mais tarde, como um ano triste, mas que nos fez valorizar o que mais importa, o afeto e a relacao com os nossos amores. Momento complicado em que um abraco e considerado um comportamento de risco. Esperemos muito em breve pudermos dar abracos e beijinhos a dobrar aos nossos pequeninos, que sao quem mais tem perdido nesta altura tao dificil para todos. Obrigada

  3. Dr. Luís Amante, como sempre a apresentar poemas atualizados, que fazem parte do nosso dia a dia.
    Não está fácil viver com a pandemia, espero que com a anunciada vacina as coisas comecem a mudar.
    Pois a família é o nosso maior pilar.
    Um forte abraço para vocês com muitas saudades.

  4. O Luís, meu marido, revela bem neste seu poema (de muitos outros que já dedicou à Família) a extrema sensibilidade para exprimir em poesia a sua maior e profunda paixão.
    E é isto que nos toca tão intimamente.
    Que orgulho meu amor

  5. Dr. Luís País Amante, já sabe ser alguém que muito respeito. Ao ler o seu poema, aquilo que senti foi que mais alguém me tinha por dentro. Mais alguém sente, como eu, a ausência: a distância: a saudade. É bom sentir que, ainda que desta forma longínqua, não estamos sós. Estamos, isso sim, a zelar e proteger os que mais amamos. E esse sacrifício valerá sempre a pena. Não será inglório. Vamos, então, ver e sentir os nossos por estes fios sintéticos que ora nos unem: porque os laços, os verdadeiros, esses nada irá conseguir desatar.

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