É na adega do Palace do Bussaco que nasce um dos vinhos mais icónicos de Portugal, o Buçaco. Criado por Alexandre de Almeida em 1917, fundador da cadeia de hotéis com o mesmo nome, uma das mais antigas em Portugal. A ideia nasce após inúmeras viagens por hotéis Europeus, onde se apercebeu do conceito de “adega de hotel”. Adotou, então, a ideia de aliar a hotelaria de luxo a uma adega própria.
Este é um marco na história dos vinhos portugueses. O vinho Buçaco viria a tornar-se um ícone, mas que sempre foi mantido, intencionalmente, fora das luzes da ribalta. Durante vários anos, o vinho do Buçaco esteve restrito aos seus hóspedes, pelo que somente podia ser provado no hotel. Foi servido a reis, rainhas e a chefes de estado. O rótulo clássico que mantém até hoje reflete a nobreza da sua origem.
Os Buçaco são produzidos com uvas provenientes de duas regiões, Dão e Bairrada. No caso do tinto as castas utilizadas são a Baga e a Touriga Nacional. Já o Branco é composto por três castas: Encruzado, Bical e Maria Gomes. Esta mistura de duas regiões garante um vinho único, que evolui nobremente em garrafa. Com mais de um século de história, estes vinhos sempre foram vinificados da mesma maneira e com os mesmos métodos de antigamente. O vinho fermenta e estagia em barricas de carvalho francês durante 12 meses.
Acontece que, pela lei portuguesa, um vinho que utiliza uvas proveniente de regiões diferentes não pode ter a classificação DOC, nem IGP. Ou seja, ele acaba por ser classificado apenas como “Vinho”, o que antigamente se considerava “Vinho de Mesa”, o mais baixo patamar da classificação portuguesa. Neste caso, a classificação em nada corresponde à qualidade do vinho. O termo “Reserva” é-lhe vedado e é por isso que no rótulo consta como “Reservado”. Até mesmo o ano de colheita tem de ser colocado no rótulo de forma dissimulada.
Tanto o vinho tinto como o branco são considerados excecionais e com uma capacidade de envelhecimento incrível, capazes de durar muitas décadas, num estilo completamente tradicional e fascinante. São vinhos que merecem envelhecer alguns anos em garrafa antes de serem apreciados.
O Buçaco Vinha da Mata Reservado é, sem dúvida, um dos melhores vinhos tintos do produtor. Trata-se de um vinho elaborado com uvas de uma única vinha, singular na Bairrada, em plena Mata do Bussaco. É engarrafado apenas em anos excecionais.
São vinhos caros – as colheitas mais recentes rondam os 40€ e os tintos de colheitas mais antigas chegam às centenas – mas este é um daqueles casos em que o valor que se dá por uma garrafa se reflete no momento da degustação. É, sem dúvida, um vinho superior. Caso tenha um familiar aficionado pelo mundo dos vinhos, garanto-lhe que oferecer-lhe um Buçaco será uma prenda singular que tornará este Natal de 2020 inesquecível!
Ricardo Ferreira, jovem escanção natural de Penacova, assina a rubrica de vinhos no Penacova Actual.