Publicidade

Francisco Araújo, Médico e coordenador do Centro de Saúde de Penacova, falou ao Jornal do Município de Penacova (edição de dezembro) sobre a sua carreira, a sua entrega a Penacova, como é lidar com esta pandemia e a esperança na vacinação.

As suas raízes encontram-se no Concelho. Vê-se como um penacovense que tem orgulho na sua terra?

Publicidade

Sim. De Penacova e com grande orgulho. Meu avô Álvaro era de Oliveira do Mondego, minha avó Berta, do Silveirinho, minha mãe também de Oliveira e meu pai embora nascido em Mortágua foi “adotado” por Penacova onde casou e sempre exerceu medicina.

O ponto de partida é Penacova…

Foi em Penacova que também nasci e iniciei os primeiros estudos, encontrei os primeiros amigos, onde há vinte anos exerço a minha profissão e possuo residência embora partilhada com Coimbra.

Como foi o seu ingresso em Medicina, e a sua vida de médico até hoje?

O ingresso, ou melhor, o gosto pela Medicina, perde-se no tempo e terá nascido comigo ou ter-me-á sido incutido pelo pai. Acompanhava-o de muito cedo nos domicílios que fazia de dia ou de noite. E de muito cedo também, apreciei a dedicação, o esforço e o encanto de numa observação e prescrição medicamentosa resultar o alívio da dor, do sofrimento. Numa palavra, do reequilíbrio para que melhor se viva.

É uma missão que o tem levado a andar pelo País…

Iniciei em 1985 e percorri vários locais e regiões de Portugal. Do Douro à Bairrada, do interior – Peso da Régua – ao litoral – Figueira da Foz. Posteriormente, e ainda no âmbito da Medicina, uma nova paixão pela Medicina Legal neste caso e mais uma vez com a interação do pai. Trata-se de aliar o fascínio da Medicina ao da descoberta do porquê do fim, do último suspiro que seja, embora a Medicina Legal não se esgote no domínio da Tanatologia.

Como encarou o desafio de coordenar a UCSP de Penacova?

Há cerca de três anos, mais precisamente desde maio de 2018, surgiu a coordenação do Centro de Saúde. Tratou-se de um convite com sabor a desafio mas também uma oportunidade de poder retribuir a Penacova tudo o que esta terra me deu desde que aqui nasci.

É um lugar exigente…

Estes são, genericamente, lugares ingratos por não dispormos de autonomia sequer para repor um vidro que se parta ou uma lâmpada que se apaga de vez; expôr aqui as vicissitudes de um coordenador de um Centro de Saúde seria como que um “tiro no pé”, por poder desincentivar quem me seguirá a curto prazo. Mas, por outro lado, tem sido um gosto especial, um privilégio, como usualmente se diz, coordenar um grupo de Colegas dos vários grupos profissionais que se entregam diariamente com vontade, qualificação e resiliência a um trabalho e desempenho de enorme desgaste pessoal.

Este tem sido um ano particularmente difícil.

Se nos detivermos no presente ano de 2020, ou melhor, na era Covid, então diria mais, diria que este grupo é, na sua essência, formado por pessoas de uma dedicação, força anímica, determinação e coragem que não conheci em outros locais por onde já passei. Desde fevereiro e até ao dia de hoje não há um único médico ou enfermeiro que tenha registado período de baixa por doença, incluindo exaustão, e eu bem sei quanto nos custa sermos e estarmos todos, todos os dias.

É preciso renovar diariamente a energia. Manter o ânimo, a motivação, a alegria e a vontade em patamar elevado é o grande desafio de quem coordena o grupo, tentando estar perto de todos e manifestando sempre igual atitude no dia-a-dia.

Depois, reconhecer também que os nossos doentes estando fragilizados, receosos e tristes, necessitam de uma atuação médica ou de enfermagem mais condizente com o tempo que se vive e, por isso, devemos ser, no Centro de Saúde ou na rua, escrupulosamente responsáveis no comportamento cívico exigido e recomendado pela D.G.S. e a todos passar essa mensagem como forma de minorar efeitos.

Como é coordenar um Centro de Saúde em tempo de pandemia? Terá sido para todos nós o maior desafio profissional – e eu vou já com mais de 35 anos de serviço, pelo que temos vivido com receio, cautela, mas mantendo uma carteira de serviços que não se esgota na problemática da Covid.

A gripe sazonal e a Covid-19 têm sintomas semelhantes. Como se faz a triagem?

O diagnóstico diferencial entre Covid e gripe é claramente analítico ou laboratorial. Só mesmo o teste de zaragatoa permite separar os dois grupos. Mas temos tido em Penacova o Grupo Germano de Sousa que, desde a primeira hora, tem manifestado uma enorme capacidade para, em tempo muito breve, identificar os utentes com ou sem Covid.

A resposta à pandemia tem sido um trabalho coletivo bem articulado em Penacova? Ainda relativo à pandemia, aqui fica também registado o trabalho da Delegada de Saúde Dra. Sara Silva e o grupo que tem coordenado de forma estoica, incansável, absolutamente alucinante pelo volume, pela exigência e, muitas vezes, sem o reconhecimento merecido.

O Município tem atuado bem na resposta a este flagelo?

O Município de Penacova tem sido, relativamente ao Centro de Saúde, o melhor parceiro que poderíamos desejar. Falar apenas no Presidente Humberto Oliveira seria muito redutor porque também da vereação, da Proteção Civil, de qualquer departamento autárquico, incluindo também os senhores Presidentes de Junta de Freguesia, o Centro de Saúde tem registado uma postura de inquestionável e permanente disponibilidade para ultrapassar questões que, de outra forma, seriam irresolúveis.

Para além dessa generosa contribuição reconheça-se também o modelo de gestão e atuação da Proteção Civil num grupo de pessoas que, com discrição, sobriedade e conhecimento, tem sabido estar e atuar no momento próprio. A este grupo, e na pessoa do Arquiteto Vasco Morais, o meu reconhecimento.

A UCSP estará preparada para a vacinação da COVID?

Avizinha-se agora uma nova fase – a da vacinação Covid, ansiosamente esperada, atabalhoadamente anunciada e esperemos que finalmente iniciada em janeiro próximo. A este assunto uma só reflexão: o Centro de Saúde dispõe de um grupo de Enfermeiros exímio na arte de fazer depressa e bem… Como me dizia um destes colegas, “quando vierem as vacinas nem as deixaremos pousar… será sempre a vacinar de dia e, se necessário, também em período noturno”. Pelo que pode a comunidade Penacovense descansar que, pela nossa parte, havendo vacinas, haverá de certeza pessoas vacinadas todos os dias.

Estamos no Natal? Como será (foi) o seu?

Termino como comecei, falando de Oliveira do Mondego, dos familiares que já partiram e que serão lembrados com muita saudade, dos que estão, e, por força das circunstâncias, apenas com a mulher e filhos e ainda com “una españolita” namorada de um filho. Por lá estaremos e que não falte alegria e vontade de vencer as adversidades.

Votos de Feliz Natal e a convicção sincera que melhores dias virão para todos nós!

Entrevista originalmente publicada na edição de dezembro do Jornal do Município de Penacova

Publicidade

Artigo anteriorCovid-19: Portugueses têm disponível a partir de hoje portal dedicado à vacinação
Próximo artigoAutoridade rodoviária lança campanha “Avance para 2021 com toda a segurança”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui