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Nesta crónica de hoje, vou falar sobre o tema Envelhecimento e Cuidados de Saúde.

A organização, prestação e suporte dos custos dos Cuidados de Saúde aos Idosos constituem um problema incontornável e preocupante.

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Os pressupostos deste problema são, fundamentalmente:

1.Crescente número de idosos e muito idosos.

  1. Polipatologia e cronicidade das doenças neste grupo etário.
  2. Suporte financeiro dos Cuidados de Saúde.
  3. Suporte Assistencial

Se o primeiro é inevitável, o segundo poderá ser parcialmente controlável através de medidas de prevenção. Os dois últimos só dificilmente serão solucionáveis sem alterações significativas da ordem socioeconómica e política  que caracteriza o Estado.

Mas os grandes problemas que afligem os mais velhos, não se limitam à doença. Outros terão, quiçá, maior importância na óptica do idoso, porque mais determinantes da sua qualidade de vida futura. Pelo menos assim são referidas questões como a da solidão, no sentido da perda de contactos familiares e sociais que alteram a sua vida; a carência de recursos económicos ou de suporte social; a perda de autonomia, condicionante da sua incapacidade e dependência.

A solução dos problemas decorrentes do crescente envelhecimento populacional não pode por isso ser unidirecional. Encarar e tentar resolver só problema da doença é deixar que outros factores perpetuem o círculo vicioso em que o idoso pode facilmente cair.

No respeitante à doença é já hoje evidente que os idosos são os maiores consumidores de cuidados de saúde, quer a nível ambulatório quer a nível hospitalar. Maior número de consultas, maior número de visitas domiciliárias, maior consumo de medicamentos, maior ocupação de camas, maior duração média de internamento são parâmetros  que só uma nova abordagem em relação aos Cuidados Geriátricos, por parte dos profissionais de saúde e das entidades responsáveis, poderá melhorar.

Mas afinal, que Cuidados de saúde aos mais velhos?

As características que actualmente definem a patologia do idosos referem-se fundamentalmente à multiplicidade de patologias, ao seu carácter crónico ou definitivo, ao grau de dependência que originam. As consequências vão reflectir-se no progressivo aumento das consultas, da hospitalização e da institucionalização.

No respeitante ao ambulatório, é hoje ponto assente que a patologia do idoso, pelas suas características é da competência do Clinico Geral/ Médico de Família em aproximadamente 70% dos casos. Os restantes 20 a 30% poderão requere acompanhamento especializado, em ambulatório ou internamento, por Geriatra ou outro especialista.

Assim, diremos que é sobre o Clinico Geral, que irá recair a maior fatia dos Cuidados de Saúde ao Idoso prestados no Centro de Saúde ou no Domicílio. E cabe aqui mencionar que o domicílio é , na saúde e na doença, o local a privilegiar na assistência e apoio ao idoso. ( Cuidados no domicílio são mais humanos, mais eficazes e até mais baratos). E esta realidade impõe alterações significativas à prática dos  Clínicos Gerais  relativamente aos cuidados de saúde deste grupo etário dos idosos que se traduz por mais e melhor formação nesta área; pela redução do número de utentes nos ficheiros com grande percentagem de idosos; pela maior disponibilidade de tempo; pela aposta na educação e prevenção; pelo assumir dos Cuidados de saúde ao Idoso como tarefa  que continua para além das portas do Centro de Saúde.

No referente à hospitalização, reservada ao idoso cuja situação exige diagnóstico e terapêuticas especializadas, pressupõe a existência de Unidades Geriátricas com instalações e ambiente próprio onde a Equipa Geriátrica fará avaliação do idoso e lhe dará a orientação adequada: Unidade de Agudos; Serviço de Internamento; Hospital de Dia; Consulta ou Domicílio.

Esta é naturalmente a conduta em países onde os Cuidados de Saúde aos mais velhos são uma realidade. Em Portugal, no presente momento, o doente idoso é só mais um doente…

Esta óptica limitada e retrógada esquece por completo que o idoso, como indivíduo frágil, é muito mais sensível aos riscos da hospitalização e por isso mesmo, e com grande frequência, tem alta do hospital mais fragilizado e mais dependente do que quando foi internado. Efectivamente, a hospitalização dos idosos, em instituição não adequada, comporta sérios riscos, a saber:

A maior parte dos Hospitais Gerais não está preparada para tratar e readaptar idosos;

Psicologicamente o internamento hospitalar é um factor certo de degradação do idoso;

A hospitalização aumenta os riscos de infecção e de acidentes no idoso;

O Hospital agrava a tendência do idoso à imobilidade e à perda de autonomia;

É difícil, no Hospital Geral evitar o ageísmo do Pessoal de Saúde e as suas consequências;

Há pouca ou nenhuma planificação quanto à colocação do doente após a alta;

Quando o idoso é hospitalizado não é fácil reintegrá-lo na sua família, habitação ou actividade.

É importante pois que à semelhança do que já sucede na maioria dos países desenvolvidos, a formação geriátrica seja institucionalizada com o objectivo de instituir uma prática adequada à realidade dos Cuidados de Saúde que os idosos necessitam e merecem.

Urge a definição de uma politica de velhice e o estabelecimento de um Plano Gerontológico Nacional que permita definir a estratégia de intervenção a desenvolver junto da população idosa numa lógica de promoção de uma cidadania plena, de uma sociedade inclusiva e da qualidade de vida da pessoa.

Termino esta crónica com um pensamento de Simone de Beauvoir que diz  que  “ Viver é envelhecer, nada mais. “

Rosário Pimentel – Mestre em Gerontologia Social

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