Terminou um período eleitoral difícil, cujas dificuldades, entretanto, deram para desculpar quase tudo no rescaldo da noite eleitoral.
Eu escrevi, aqui, para Vós Leitores, sobre esta temática enigmática do populismo, in porque é que o povo não vota, se bem se lembram:
“Eu…acho que é outra coisa: oportunismo”! … “e não me esqueço que, em política, quando há um oportunista é porque existem muitos mais distraídos, negligentes …’!
E fi-lo a pensar que, tal como defende Fernandõ Schüler “0 líder populista é o tipo que aprendeu mais rápido a lidar com este universo caótico e não por acaso está em alta nas democracias”.
Se há quem aprende mais rápido, é porque há quem aprende mais lento, ou nem sequer chega a aprender coisa nenhuma!
E porque é que eu disse aquilo aos meus conterrâneos, com os quais tenho um contrato inquebrável de transparência?
Vejamos:
Populismo é genericamente definido como “…um conjunto de práticas políticas que se justificam num apelo ao “povo” geralmente contrapondo este grupo a uma “elite”…”.
! Poucos actores políticos se descrevem a si mesmos como populistas e, na realidade concreta do nosso país -que é o que para aqui interessa- aplicam sempre o termo aos outros, seus adversários e pejorativamente !
Ora,
Quando a miopia chega ao discurso político e não é apreendida pelos seus “pacientes” como verdadeira para si próprios, é por que alguma coisa vai mal! miopia é a antecâmara da cegueira e estes cegos não vêem nada à sua frente…a não ser os seus interesses objectivos.
Tenho escrito muito sobre isso; tenho muito respeito pela política; tenho ainda mais por políticos impolutos que desenvolvem a sua profissão em observância das regras da ética, sem se deixarem levar pela onda generalizada da corrupção.
Por isso quero dizer que há mais do que um tipo de populismo, contrariamente ao que nos é vendido pelas ditas elites políticas que arvoram superioridade intelectuais e, no geral, pela comunicação social dita independente mas paga por nós todos.
O populismo de esquerda:
Que consubstancia a combinação da retórica e dos termos e temas da esquerda, mais esquerda com o populismo. Normalmente diz que concentra sentimentos anti-elitistas, por oposição ao sistema hegemónico e busca unificar uma voz em nome do “povo comum”.
Os temas maioritários do populismo de esquerda incluem o anticapitalismo, a justiça social e a antiglobalizacão…;
O populismo de direita:
Consubstancia a rejeição do consenso político, combinando laissez-faire, etnocentrismo e antielitismo.
É considerado populismo por causa do seu apelo ao “homem comum” em oposição às elites.
Este tipo de populismo congrega as visões tradicionais da direita, como a oposição ao Estado Social, à emigração…;
Ernesto Laclau, Argentino, morreu em 2014 e já não pode desenvolver as questões mais recentes que têm feito evoluir o populismo; … mas fica, aqui, a sua visão:
“De qualquer maneira, seja de esquerda, seja de direita, decisivamente o populismo se constitui sempre em torno de um corte. Em certo momento, o sistema institucional vigente entra em obsolescência e mostra sua incapacidade de absorver as novas demandas sociais pelas vias tradicionais;… em decorrência disso tais demandas tendem a se aglutinar fora do sistema “!
E chegamos, assim, aos resultados eleitorais do Domingo passado, que foram desastrosos para os populismo de esquerda e deram uma força enorme ao populismo de direita, até ao que discretamente encarna o Professor Marcelo, quando janta aparentemente sozinho um bife com ovo a cavalo que quer -e consegue- transformar em notícia eleitoral, tão espartano é.
O que nos permite concluir que foi o populismo de esquerda, ao fracassar assim tão brutalmente, que deu força ao populismo de direita…
Não se pode andar na Europa a beneficiar de benesses extravagantes, sem pagar impostos e vir pra cá caçar o voto a dizer cobras e lagartos da mesma Europa que lhes permite vidas de elite com que nunca sonharam, sequer: isso é populismo barato…do mais barato que existe!
O tal povo comum/homem comum, ou que que se queira chamar, foi votar, livre e independente, em condições difíceis, num país de tremendas desigualdades que não vão lá com geringonças de discursos contraditórios e oportunistas e disse das suas razões.
Razões incrivelmente assustadoras, mas razões!
Já não vai haver mais Marisas, nem Ferreiras, nem Anas nos discursos do futuro, porque passaram há história dos derrotados e não vão enganar mais ninguém; … e vai sobrar um Ventura, desenvolto de aventura, que ainda pode ser travado no seu crescimento, o que depende muito da não distração dos democratas sem ismos.
Luis Pais Amante
Uma contribuição importante para um mundo onde muitos sabem pouco, como escreve o autor. E quando muitos sabem pouco não existe muito espaço para a tolerância, nem espaço para um mundo mais cooperativo e nem espaço para a esperança. Luís, continue esse seu trabalho de inverter o pêndulo da ignorância. Parabéns
DUMA PENADA o Luis fez o Funeral da Esquerda que não gosta ,fez o Funeral,mesmo em tempos de “Pandemia”,mas quando transformamos o nosso desejo emrealidade perdemos objectividade …….
mas pelo menos salvou a “geringonça” quando os seus Padrinhos ,já abandonaram a a filhada ,continue a acarinha-la ,tvz surgam outros “Padrinhos”para adopta la ……dizer que a Esquerda é Populista pq é anti elitista(!)….quando a sua implantação é sobretudo na Civitas e Universitas em contraponto com o Rural….No Teatro ,na Literatura ,na Ciência nas artes ,no Cinematografia ,i é em toda aCultura ,i é, nas elites C culturais e Cientificas ,como sabe ,o Populismo alimenta~se da ignorância e de outros males que afectam o Povo que sofre ,pq algumas “elites” sse servem do Povo e não o servem como deveria ser na Res-publica….
Dizer duma penada que Anas (GOMES )ANDAM A ENGANAR O Povo ,ié ,não vão enganar mais ninguém é apagar a Historia duma Cidadãque como é sabido prestou serviços relevantes ao seu País …….tempos houve em que tb se apagavam da História Homens e Mulheres que incomodavam pela sua verticalidade e ideias ,mas acredito que não seja esse o seu desejo Democrático ,nem queira proscrever aqueles e aquelas Cidadãos(ãs) que nela votaram e tem Direito às suas ideias e diferenças ,assim como aqueles que fizeram outras escolhas que não atentam contra a Democracia e defendam Guetos ,esses sim tem como objectivo o Populismo que tragicamente e historicamente conhecemos……
O rescaldo das recentes eleições presidenciais está a dar-nos muito material para reflexão, debate, polémica…
Sem que isso possa ser entendido como um suposto funeral de certas esquerdas – desiderato porventura algo prematuro e precipitado, do meu modesto ponto de vista – ainda assim, para o bem da nossa vivência comum afigura-se importante que exista um esforço de reflexão no sentido de tentar perceber as causas que estejam por trás dos populismos que por aí andam à solta.
Podemos dizer que, ao optar por Marcelo Rebelo de Sousa, com 60.7% dos votos expressos, o centro venceu as eleições presidenciais, que isso trará alguma estabilidade política, e que, afinal, tudo está bem. Mas não está.
Não podemos esquecer que o nível da campanha eleitoral por vezes deixou muito a desejar e que o grande vencedor destas eleições foi a abstenção, pois, por receio ou desinteresse, 60,5% dos eleitores inscritos não exerceram o seu direito de voto. Ora as restrições á movimentação e concentração de pessoas por causa da pandemia, não explicam tudo.
Marisa Matias e João Ferreira, pagaram a factura dos erros de percurso e teimosias dos seus partidos, em época de crise a necessitar de união política, pois além de uma postura reivindicativa desajustada, quer o abandono da chamada geringonça e a insistência nos temas fracturantes, pela parte do BE, quer a teimosia em realizar a famigerada Festa do Avante, pela parte do PCP, terão tido custos eleitorais que os reduziram a níveis de votação inesperadamente baixos.
Tiago Mayan Rodrigues, sereno e com um discurso bem estruturado, fez o seu papel e terá captado o eleitorado possível. Quanto a Vitorino Silva, o popular Tino de Rans, com o devido respeito, alcançou o resultado previsível, sem mais.
Ana Gomes, francamente contida para o que é seu hábito, terá exagerado quanto a alguns dos seus temas de fundo, nomeadamente na ênfase relativa á ilegalização do Chega. Apesar de tudo, conseguiu um digno 2º lugar, face á génese da sua candidatura e aos inqualificáveis ataques de que foi alvo, antes e durante a campanha. Já no seu discurso da noite eleitoral, cometeu o tremendo erro de ter falado antes de André Ventura, deixando-lhe palco para uma “apoteose” absolutamente injustificada.
Quanto a André Ventura, perdeu em toda a linha, pois, contrariamente ao que propagandeava, não só não obrigou Marcelo a uma mirabolante 2ª volta, como também a sua votação foi inferior á de Ana Gomes. Mas, com a desfaçatez habitual, festejou-se euforicamente como um vencedor absoluto!
O homem está inchado, sente-se inchado, e não irá parar por aqui.
Por isso, pensemos um pouco e vejamos o que se pode esperar de alguém que adopta um estilo insultuoso, desafiador, provocatório e de permanente confronto, que constantemente se vitimiza e que tudo faz para ser sempre uma figura falada. Que instituiu a “lei da rolha”, no seu partido unipessoal, o Chega, pois não consegue lidar com aquele grande “saco de gatos”, onde, pelos vistos, cada um tem a sua visão pessoal e a sua reivindicação própria.
Numa sociedade políticamente organizada, por melhor que funcionem as suas estruturas e instituições, cíclicamente manifestam-se sempre insatisfações em certos dos seus estratos populacionais, às vezes até por questões menores, mas que criam tensões na organização político-social e que podem vir a provocar fracturas no seu funcionamento normal, quando não levar á sua destruição institucional.
O populismo, enquanto técnica de conquista e exercício do poder político, aproveita-se exactamente dessas insatisfações. Acontece(u) em Portugal, como acontece(u) em muitos outros países.
A vivenciar uma crise complexa – sanitária, económica e social – que tem originado tensões, ansiedades, medos, incertezas, desconfianças, negacionismos… – a sociedade portuguesa encontra-se particularmente vulnerável aos populismos, sejam eles de direita ou de esquerda, e é isso que nos deve preocupar, e muito.
Cabe aos decisores políticos estarem atentos às eventuais causas de insatisfação das populações que governam. Não quer isto dizer que se deseje uma mera “governação para as sondagens”, mas sim uma governação objectiva e sensata – o que, infelizmente, não tem acontecido nos últimos tempos!
Que a governação permita dar a devida atenção a essas insatisfações que, como sabemos, por vezes também resultam do alastrar duma postura excessivamente individualista e egoísta, de quem as expressa e que acaba por levar á instabilidade política e consequente fragmentação da vivência social.
É que, na actual direita portuguesa, André Ventura e o seu Chega estão á espreita e, depois, o futuro será complicado…