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Ulisses Baptista assina uma nova rubrica no Penacova Actual, através da qual escreverá sobre o Ambiente e tudo aquilo que o influencia, sem esquecer as consequências que a atuação do ser humano provoca neste frágil ecossistema que, apesar de ser tão maltratado, ainda assim nos permite viver com todas as condições necessárias. Natural de Penacova, Ulisses Baptista é licenciado em Engenharia do Ambiente pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu, e assume o compromisso de nos dar a conhecer este maravilhoso mundo onde (sobre)vivemos

 

A Terra é tudo menos infinita, quer no seu tamanho, quer nos seus recursos. Esta é uma afirmação claramente óbvia para muita gente, mas não assim tanto para outros.

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Somos muito pequenos em relação a ela e vivemos, na maioria dos casos, pelo menos no mundo ocidentalizado, muito confortáveis, a maior parte dos dias da nossa existência. A Terra alimenta-nos, veste-nos, aquece-nos e delicia-nos com as suas paisagens maravilhosas, porque evoluímos para sermos, cada um de nós, mais um elemento desta Natureza que nos domina e sustenta, mas também nos pode aniquilar num breve instante, se não respeitarmos os nossos limites físicos ou as regras fundamentais da nossa alimentação.

Quando o Homem teve oportunidade de captar uma imagem da Terra a partir do espaço, verificou o quanto exíguo é o nosso planeta. Teve consciência que ali naquele pequeno ponto perdido no espaço estávamos todos nós. Essa deve ser uma experiência arrepiante, arrebatadora e conclusiva da nossa pequenez. A nossa marcha inexorável em direção ao progresso científico e tecnológico leva-nos a acreditar levianamente numa capacidade infalível para resolver todos os problemas com que nos deparamos.

Mas isso não é bem assim. Temos muito que aprender no que diz respeito à nossa própria humildade. Por vezes, parecemos ser bastante críticos em relação à capacidade da ciência para nos resolver os nossos problemas, desconsideramos os seus domínios e, por outro lado, alguns de nós aceitam de ânimo leve que a ciência tem poderes ilimitados.

Neste período mais crítico que atravessamos, devido à pandemia, é determinante verificar como a máxima ambiental “agir localmente pensando globalmente” nunca foi tão óbvia.

De início, o confinamento reduziu substancialmente as emissões poluentes e o ruído. A Natureza ficou a ganhar, passámos a ver animais selvagens aproximarem-se das cidades, os dias límpidos, um silêncio quase perturbador, em certos casos.

Depois, progressivamente, fomos adotando medidas individuais para impedir o avanço da doença. As máscaras descartáveis ganharam cada vez mais espaço, abandonadas por uns em qualquer lugar, não recolhidas por outros devido ao receio legítimo de contaminação.

Os descartáveis sempre a ocupar um espaço privilegiado, nos serviços de saúde, infantários, nos lares e centros de dia, nos serviços para fora e entregas ao postigo da restauração. Foi um retrocesso na diminuição do uso do plástico com consequências ao nível do ambiente. Parece que o ambiente fica sempre a perder em momentos destes.

Mas não tem de ser assim, não deveria ser assim. A biodiversidade do planeta encontra-se cada vez mais ameaçada. As alterações climáticas, a pressão populacional, a adoção de medidas regulamentares pouco restritivas sobre o uso do solo ou das zonas costeiras e a perturbação dos ecossistemas naturais estão a contribuir claramente para isso.

Todos temos um papel ativo com as nossas atividades individuais e coletivas, quer seja aqui, na China ou num país africano qualquer. A biodiversidade regula o clima, a quantidade de água potável e o oxigénio disponível no planeta, a transformação e enriquecimento dos solos terrestres, a quantidade de alimentos que temos disponíveis. Tudo está relacionado numa rede intrincada de ligações. Por sua vez, as alterações climáticas com efeito na diminuição das calotes polares e dos glaciares de montanha, provocam uma progressiva diminuição da salinidade e aumento do nível da água do mar.

Os gelos polares e dos glaciares de montanha são assim um termostato do clima terrestre. As correntes termohalinas, que são diretamente dependentes das variações da concentração e das diferenças de temperatura da água do mar, têm um papel bastante importante para manter as condições de equilíbrio que permitem o não desaparecimento da biodiversidade marinha.

Basta citar como exemplo a perturbação que se tem notado nos recifes de coral, um ecossistema extremamente sensível. Todos os oceanos estão interligados em zonas do globo que são algo estreitas, é verdade, mas simboliza isso mesmo, a ligação que existe entre tudo o que existe no nosso planeta, a nossa casa comum.

Tudo aquilo que fizermos numa parte do mundo tem repercussões maiores ou menores em todas as outras partes. Precisamos compreender bem o quanto isso é verdadeiro para respeitar ainda mais o local maravilhoso onde nascemos, vivemos e morremos. Precisamos entender que a Terra é um planeta único, pelo menos para nós e que todo o mal que lhe fizermos estamos a fazer a nós próprios.

Ulisses Baptista

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