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Hoje as palavras que descem da Serra podem ser encaradas como um grito de alerta para o potencial destruidor da nossa espécie, Homo sapiens. Andamos por cá há pouquíssimo tempo, mas as marcas que estamos a deixar são tremendas.

A Terra terá uma idade interessante, cerca de 4,5 mil milhões de anos. Os primeiros 500 milhões foram usados pela jovem Terra para se aperaltar: para arrefecer; para reter à sua volta uma atmosfera que com o passar do tempo se tornou altamente protectora; para desenvolver uma crosta sólida e suficientemente fria para acumular água no estado líquido. Por volta dos 4 mil milhões ocorre uma orgia química nas poças de água quente e surgem macromoléculas. Estas são muito exigentes e em pouco tempo formam associações complexas capazes de garantir a sua integridade. Surgem, assim, os primeiros seres vivos, muito rudimentares, mas capazes de metabolizar energia (com a qual mantêm as exigentes macromoléculas estáveis e integras) e de se continuar indefinidamente pela via da reprodução. Daqui até nós não foi um saltinho.  A Terra assistiu a pelo menos duas extinções assustadoras, uma no final da era Paleozoica e outra no final da Mesozoica. A mais famosa foi esta última porque deixou caminho aberto ao nosso aparecimento. No final da Era Mesozoica, há 60 milhões de anos, os dinossauros e muitas outras formas de vida extinguiram-se. Com o desaparecimento dos gigantes, que ocupavam fisicamente todo o Ecossistema Terra, sobraram nichos ecológicos para os sobreviventes. Entre estes contavam-se alguns mamíferos, insignificantes na altura, que evoluíram até ao género Homo, acredito que depois deste género a Evolução encontrou um obstáculo difícil de ultrapassar… Hoje somos a única espécie deste Género, mas isto só aconteceu há poucos milhares de anos. A nossa espécie é muito jovem, tem cerca de 150 000 anos, em coexistência com outras do mesmo Género durante pelo menos 80 000. Depois… depois fizemos aquilo em que somos os maiores, extinguimos a concorrência e ficamos com a Terra toda para nós. Hoje já não nos chega e vamos passeando pela Lua com pretensões de ir mais longe…

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Porque esta História é fabulosa, hoje da Serra sai Sapiens: Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari.

Yuval Noah Harari é historiador, professor e investigador na Universidade Hebraica de Jerusalém. Entre outras áreas da História interessa-se por estabelecer, a relação entre a Biologia e a História. A sua escrita é provocante e obriga-nos a pensar até naquilo que damos por certo e imutável.

Sapiens: história Breve da Humanidade

“No entanto, andar em posição ereta tem as suas desvantagens. O esqueleto dos nossos antepassados primatas evoluiu ao longo de milhões de anos para suportar uma criatura que andasse sobre quatro patas e tivesse uma cabeça relativamente pequena. Adaptar-se a uma posição ereta foi um desafio bastante grande, sobretudo se tivermos em conta que o esqueleto tinha que suportar um crânio desmedido. A humanidade pagou, com dores de costas e torcicolos, pela sua vista desafogada e pelas suas mãos hábeis.

As mulheres pagaram ainda mais. Uma postura ereta requeria ancas mais estreitas. Apertando o canal vaginal- e isto precisamente numa época em que as cabeças dos bebés começavam a ficar cada vez maiores.”

“Os mitos e as ficções habituavam as pessoas, quase desde o nascimento, a pensarem de determinada forma e a cumprirem determinadas regras.”

“Degradação ecológica não é o mesmo que escassez de recursos”

Sinopse

Sapiens é um texto longo (considero que tem algumas repetições desnecessárias, mas que por outro lado tornam a compreensão das ideias mais fácil…) mas de uma leveza que o tornam leitura compulsiva. O tema é denso, afinal fala-se de Homo e de humanidade. Com uma escrita muito atrativa, apoiada em dados provenientes da paleontologia, da antropologia e da sociologia o autor conduz-nos pelas diferentes revoluções que a nossa espécie protagonizou e confronta-nos com o seu impacto no nosso destino e dos demais seres vivos do planeta. A apresentação dos nossos actos, por exemplo a criação massiva de animais, sem qualquer respeito pelo ser vivo, é feita de forma crua, sem lugar a dramas excessivos ou paninhos quentes apaziguadores.

A viagem começa na Idade da Pedra, com todas as espécies do género Homo coexistentes, e segue até amanhã. Pelo caminho percebemos melhor como foi importante o fogo, como a cozinha permitiu desenvolver a inteligência, as liberdades permitidas e as limitações impostas pela Revolução Agrícola, a importância do mito e da ficção no estabelecimento de sociedades organizadas, a evolução da economia até se tornar em Economia (a divindade que hoje é!!).

A letalidade ambiental da nossa espécie é-nos apresentada como uma característica, sem dúvida problemática, de sempre e não apenas de hoje. Sempre que se deslocou para um novo espaço o sapiens primou pela capacidade de eliminar espécies, sobretudo as que ocupavam os topos da cadeia alimentar, aos nosso dias chegaram apenas os gigantes aquáticos, que estamos de momento a tentar, com muito sucesso, eliminar.

Para quem gosta de pensar, este livro tem assunto.

Boa semana com livros!!!

 

Anabela Bragança

 

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