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Hoje da Serra vou por a correr umas palavras serenas, daquelas que apenas nos dão prazer, espicaçam o nosso espírito, mas somente para ver se somos sagazes e perspicazes, o quão bons detectives seriamos se tivéssemos um mistério por desvendar.

É uma primeira vez para mim com este autor, foi-me recomendado pela minha livreira, que sendo minorca, é destemida para me empilhar umas novidades. No caso deste é uma novidade muito bem aceite pelos leitores, tem vendido que nem “chupetas à porta da maternidade”, o que nem sempre é um critério de valor, mas… Neste romance senti que existe um pouco de “rosa” a mais, as descrições de ambientes e de personagens lembram-me a minha adolescência e as toneladas de romances de cordel que li, as desgraças e as graças são sempre extremas, diria mesmo extremíssimas.

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Gosto de ler tendo o meu caderninho preto por companhia, para tomar umas notas, registar o nome dos personagens e suas interacções, no fundo para poder “dar uma vista de olhos” no que foi o meu sentir sobre o texto e o que foi o texto em si. Nos romances policiais o caderninho e a caneta são obrigatórios!!! Sem eles não consigo por as cinzentinhas em funcionamento e limitar-me-ia a ler. O caderninho e a caneta são as armas de detective que me tornam a leitura ainda mais deliciosa. Com este não foi diferente. Agora que estou a ver as minhas notas verifico que esta trama está tão bem construída que andei (quase!!!) ao passo que o autor impôs, e isso é uma mais valia para o livro. É terrível quando decifro o mistério nas primeiras páginas, perco logo a vontade de ler. Não é o caso deste livro que tem vários mistérios e uma trama muito bem tecida… deixo-vos com O Enigma do Quarto 622 de Joël Dicker, um livro onde o amor, a intriga e a traição acabam como é suposto.

Joël Dicker

O Enigma do Quarto 622

“A Scarlett tinha de partir. Um táxi esperava-a diante do palácio. Descemos juntos os degraus do pórtico.

– Afeiçoei-me a si Scarlett- disse-lhe.

– Eu também me afeiçoei a si senhor escritor. Sei que vamos reencontra-nos um dia.

(…)

– Graças a si, fiquei com a sensação de ter conhecido um pouco o Bernard.

– Se os leitores deste romance sentirem o mesmo, então valeu a pena escrever o livro.”

“A vida é um romance cujo final já conhecemos: no último capítulo, o herói morre. O mais importante, por isso, não é como a nossa história acaba, mas a forma como enchemos as páginas até lá. Porque a vida, como um romance, deve ser uma aventura. E as aventuras são as férias da vida.”

Sinopse

Estamos perante um livro com páginas, muitas páginas, 610, para haver exactidão. Ao longo destas 610 páginas o autor recorre a descrições de lugares com uma minucia de Garcia Marquez ou até do nosso tão saudoso Eça. É impossível não nos sentirmos a passear pelas ruas de Genebra, é impossível não sentir o frio da neve ou o calor do sol. As descrições das personagens são de mestre. A visão que o leitor tem é tramada, cada personagem é descrita pelos olhos de outra, assim o que nos chega é um humano, com virtudes e defeitos, cuja existência é validada pelo outro. No que nos deixa isto? Num texto soberbo em que somos obrigados a ir lendo porque queremos desvendar as vidas, o que está por trás de cada uma das personagens, porque são assim.

Joel é ele próprio uma personagem, que mergulha neste romance por imposição de Scarlett (como em E Tudo o Vento Levou). Scarlett Leonas é uma jovem inglesa que se encontra na Suiça em férias da vida. É linda, inteligente e rica! Deve ter uma vida algo monótona porque obriga o Escritor, em férias, a desvendar o mistério do quarto que falta no hotel onde estão instalados. Escavando um pouco descobre que o Sr. Rose mandou retirar o número 622 da porta do quarto e colocar aí a 621bis. Motivo?? Um assassinato, com sangue e tudo, ocorridos anos antes e que nunca foi solucionado.

São muitas as personagens, todas excelentemente construídas, tanto física como emocionalmente, que engrossam a trama. As mais relevantes são Macaire, Lev e Anastasia, (porque será???) Jean-Béné e Sinior Tarnogol. Cristina, Arma, Sol, Wagner, Dr.Kazan, sr. Rose, Irina, Olga, Abel, Horace são fundamentais por fazerem parte de todas as vidas aqui envolvidas.

A história é-nos contada em 3 tempos distintos, com personagens e personalidades próprias. Os espaços temporais são:15 anos antes do homicídio; o momento do homicídio (que ocorre durante o Grande Fim de Semana); o presente. No presente o mistério, cujo desvendar escapou à polícia Suíça, é revelado. Para além do mistério principal existem outros de menor monta que tornam a leitura ainda mais viciante. A acção desenrola-se à volta de um dos mais importantes bancos suíços, com 3 séculos de existência, envolvendo duas famílias aparentadas e rivais, e da sua organização interna.

O assassinado só é revelado já o livro vai longo, mas é preceptível umas dezenas de páginas antes. O assassino é revelado no final, como convém, mas alcançável um pouco antes (sem tirar o interesse ao livro!!!)

Existe neste livro uma componente especial, a homenagem do escritor ao seu editor, Bernard de Fallois, que morreu em janeiro de 2018. Assim, Bernard entra pelo texto adentro como convidado de honra, e ocupa um lugar majestoso, aquele que ocupou na vida do escritor, que sente em relação a ele uma gratidão imensa.

Boa semana com livros!

Anabela Bragança

 

 

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