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Raymunda Martins de Carvalho nasceu no Brasil em 1878 e faleceu em Penacova no dia 11 de Fevereiro de 1958.

D. Raymunda, primeira a contar da esquerda, com a Banda Filarmónica de Penacova, em 1925, nas escadas do antigo Tribunal Judicial

Joaquim Augusto de Carvalho, nascido em Penacova em 1861, emigrou para o Brasil onde fez fortuna e casou com esta jovem brasileira. No final do século XIX o casal veio viver para Portugal, comprando em Penacova a Quinta de Santo António e construindo aí o Palacete cuja traça inicial ainda hoje mantém.

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Mais do que residência particular, aquele espaço afirmou-se desde muito cedo como local privilegiado de Convívio e de Cultura, tendo para tal sido construído um salão anexo. Os donos eram portadores de alta sensibilidade artística, em especial no campo da música. Raimunda foi professora de música e exímia executante de piano, foi encenadora de muitos espectáculos de variedades e dirigente de um grupo coral, o “Orfeon Penacovense”, que “durante muitos anos se impôs à admiração de toda a gente”.

A “Gazeta de Coimbra” de Maio de 1920 destaca, na primeira página, uma “matinée” musical que se realizou em Coimbra, no Ginásio Club. Esta audição das alunas de Raimunda de Carvalho constituiu “a consagração da distinta professora” e evidenciou as superiores “qualidades que possui, seleccionando e atraindo algumas vocações para a Arte.” No grupo das suas alunas aparece o nome de crianças e jovens de Penacova: Maria do Céu Gouveia Leitão, Maria da Pureza Leitão Barbosa, Maria Elisa Duque e Maria Luísa Soares.

A sua permanente intervenção social cultural foi diversificada. Além da vertente artística, foi dinamizadora da Cruzada Eucarística, da Catequese, da Obra das Mães e  da Conferência de S. Vicente de Paulo.

No palacete da Quinta de Santo António se realizou o Sarau oferecido à alta sociedade lisboeta, coimbrã e penacovense por ocasião da inauguração do Mirante (1908), tendo o “glamoroso” sarau sido preenchido com música clássica, poesia e dança.

Também aí permaneciam por longas temporadas muitas figuras das Artes, em especial da Música e da Pintura. Em Setembro de 1914, aquando do casamento da filha do casal, América Martins de Carvalho, com o Dr. Alberto de Castro Pita, esteve patente uma exposição do famoso pintor José Campas, que durante um mês ali estivera instalado e em Penacova pintara alguns dos seus célebres quadros. Mais tarde, em 1945, também aqui pernoitou e participou num banquete a Primeira Dama Maria do Carmo Carmona, quando veio a Figueira de Lorvão inaugurar o Asilo de Nossa Senhora do Rosário. Consta também que foi Raimunda de Carvalho que apoiou a permanência na vila do pintor Eugénio Moreira proporcionando assim que este artista nos legasse famosos quadros como a “Ferreirinha” e o “Vale do Mondego”.

Foi em 1937, dois anos depois de ficar viúva, que Raimunda Martins de Carvalho passou a receber hóspedes, provindos de Lisboa e um pouco de todo o país. Estávamos nos anos áureos do turismo em Penacova quando as pensões da vila, incluindo agora  a “Casa de Repouso da Quinta de Santo António”, se encontravam repletas de “aristas”, atraídos  pelos  “ares puríssimos” e pelas “paisagens encantadoras” de Penacova.

O anúncio publicitário, na década de quarenta, na revista de projecção nacional “Os Nossos Filhos” era muito sugestivo: “Precisa de fazer uma cura de repouso ou de mudança de ares? Vá para Penacova! É uma vilazinha sossegada e encantadora, a meia altitude e rodeada de pinhais. Ligada a Coimbra por uma das mais belas estradas do País. A dois passos do Buçaco! Paisagens surpreendentes! Ar puríssimo! / Na Casa de Repouso da Quinta de Santo António (Casa Católica) encontra todas as comodidades dum grande hotel, num ambiente familiar./ Telefone [curiosamente, o nº 10] casa de banho, salão de música, jardins e mata. Esta casa está situada no ponto mais alto da vila. Dos seus quartos amplos e higiénicos desfruta-se uma paisagem maravilhosa sobre o Vale do Mondego até à Serra da Lousã.(…)”.

A Casa do Repouso veio valorizar Penacova: “Pensão privilegiada pela sua situação e pela maneira fidalga como ali recebia os hóspedes, concorreu bastante para que Penacova se fosse, pouco a pouco, tornando centro turístico mais conhecido” – salientou o “Notícias de Penacova” em 1958.

Pelos anos cinquenta, ainda em vida de Raimunda Martins de Carvalho, a Diocese de Coimbra assumiu a posse, por doação, e a administração da Casa.

Do casal Joaquim Augusto e Raimunda nasceram América Martins de Carvalho, que casou com Alberto de Castro Pita (1914) e Mário Martins de Carvalho, funcionário das Finanças. Seus netos: Fernanda de Carvalho Castro Pita Botelho, Rui de Carvalho Castro Pita, José de Carvalho Castro Pita e Alberto de Carvalho Castro Pita.

Como acima referido, Raimunda de Carvalho faleceu, após um período de doença, no dia 11 de Fevereiro de 1958, com 80 anos de idade. A urna esteve coberta com as bandeiras do Município e da Corporação dos Bombeiros. O funeral ”constituiu sentida manifestação de pesar”. O Bispo de Coimbra fez-se representar pelo Cónego José Antunes, tendo os ofícios de corpo presente sido concelebrados por muitos sacerdotes do concelho e da diocese de Coimbra.

O jornal “A Comarca de Arganil”, bem como o “Notícias de Penacova” noticiaram o seu falecimento. O correspondente da “Comarca” em Penacova escreveu que Raimunda de Carvalho deixava saudades pela maneira como “a todos recebia e aconselhava” e pela “caridade larga que praticava, especialmente em benefício das crianças.” Oliveira Cabral registou no “Notícias” que esta “brasileira que há mais de sessenta anos serviu e ilustrou como ninguém a sua terra adoptiva” bem merecia que o seu nome ficasse gravado, a par de muitos penacovenses ilustres, num memorial a colocar junto à Pérgola Raul Lino.

David Gonçalves de Almeida

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