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Ao longo dos nossos dias, passamos por períodos em que o nosso corpo e cérebro vão alternando entre estados de grande atividade (normalmente durante o dia) e estados de descanso e recuperação (durante o sono, normalmente à noite). Esta constatação é óbvia e claro que todos sabemos e passamos por isso… Faz parte da nossa essência humana. Mas, caros leitores, já alguma vez refletiram porque é que isso acontece? E se vos dissesse que estes ciclos não são uma resposta passiva do nosso organismo?!

É verdade… o ciclo sono-vigília não é uma resposta passiva do organismo, mas sim controlado e regularizado por um relógio interno. Como se tivéssemos um sensor que indicasse a todo o nosso corpo os momentos em que deve estar em atividade e os momentos em que deve estar em descanso. Interessante, não é? Somos mesmo “máquinas” complexas.

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A existência do nosso relógio biológico já é bastante debatida (e há muito tempo) na comunidade científica e existem inúmeros estudos a comprovar a sua existência. Neste sentido, têm sido realizadas investigações que demonstram que, mesmo em isolamento e privados de pistas temporais e sociais, os humanos continuam a demonstrar ciclos diários de sono e vigília, nomeadamente ao nível da sua temperatura corporal e resposta urinária (que vão oscilando de acordo com este ciclo, também). Sabem o que isto significa e que é impressionante? A expressão de temporalidade circadiana dos nossos neurónios implica que não se trata apenas de uma propriedade emergente, mas sim uma característica intrínseca à sua própria bioquímica!

Contudo, tal como todos os processos biológicos, este relógio interno não é perfeito e, por isso, os nossos ritmos desenrolam-se em períodos que podem ser ligeiramente menores ou maiores que um dia solar (ou seja, de um modo mais simples, significa que podemos ter ritmos circadianos maiores ou menores do que 24 horas). Não obstante, o nosso relógio biológico não deixa de ser mesmo muito robusto…

A sua localização é no núcleo supraquiasmático, que consiste num agregado de aproximadamente 10 000 neurónios! Porém, nós não temos apenas um núcleo supraquiasmático, mas sim dois… Eles encontram-se em cada hemisfério cerebral, muito próximos ao hipotálamo, e acima do quiasma ótico, a cerca de 3 cm atrás dos olhos. Esta localização é bastante estratégica já que, descrito de um modo simples, é através dos olhos que recebem pistas acerca da luminosidade do exterior e, a partir daí, fornecem o sinal para a nossa sincronização temporal interna, em concordância com o ciclo claro-escuro dado pelo movimento de rotação da Terra. Complexo, não é?! Mas para complicar ainda mais, se vos dissesse que não temos apenas este relógio interno? A verdade é que, embora este seja o nosso relógio principal, também temos relógios periféricos. Todas as células do nosso corpo têm relógios extras que são sincronizados por este relógio principal!

Além disso, não é só a luminosidade que gere o nosso relógio biológico, existem também outras pistas ambientais, designadas por sincronizadores externos, que auxiliam a sua regulação interna, como por exemplo, a alimentação e a própria organização social humana (que nos impõe uma temporalidade, em média entre as 8 horas da manhã e as 18 horas da tarde, decorrendo geralmente nesses horários as atividades laborais e educacionais). Contudo, há também uma parte da população que está biologicamente dessincronizada com estes horários sociais comuns e, por isso, vive no que se designa por Jet Lag social.

De igual modo, cada pessoa tem uma tendência individual para ter preferência pelo período da manhã (indivíduos matutinos), ou pelo período da tarde (indivíduos vespertinos). De referir que esta predisposição é designada, em biologia, por cronótipo e é uma característica herdada geneticamente e que sofre adaptações perante as condições ambientais. Além disso, a nossa preferência diurna (matutina ou vespertina) influencia o nosso desempenho… Ou seja, por exemplo, uma pessoa vespertina (que tem tendência a deitar e acordar mais tarde), terá mais dificuldade em acordar cedo para fazer qualquer obrigação social (como trabalhar ou ir à escola) e, por isso, o seu desempenho e adaptação a este horário poderá não ser totalmente eficiente. No entanto, de salientar, que a maioria da população tem horários intermédios entre estes dois extremos (matutinidade/vespertinidade).

Para além dos já descritos cronótipos, existem outras consequências que o ser humano pode experienciar devido à regulação diferencial do seu ritmo circadiano. Descrito de um modo mais simples, há pessoas que podem “ter o seu relógio avariado”… Podendo  apresentar perturbações do ritmo circadiano (ter as fases do sono atrasada ou adiantada) e mesmo perturbações ao nível do humor (interferindo aqui também a sazonalidade, sobretudo no que toca a aspetos de luminosidade, um importante sincronizador externo).

E os vossos relógios biológicos, caros leitores? Como estão a funcionar?

Termino o artigo de hoje, lançando-vos o desafio de avaliarem o vosso cronótipo: será matutino/a ou vespertino/a?  Eu sou moderadamente vespertina!

Aceda a este link e descubra também o seu: https://institutodosono.com/teste-de-cronotipo/

Mariana Assunção

Fontes:

Alóe, F., de Azevedo, A. P., & Hasan, R. (2005). Mecanismos do ciclo sono- vigília. Brazilian Journal of Psychiatry, 27(1), pp. 33-39. Doi: 10.1590/S1516-44462005000500007

Hastings, M. (1998). The brain, circadian rhythms, and clock genes. BMJ, 317(7174), pp. 1704–1707. Doi: 10.1136/bmj.317.7174.1704

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462009000100015

https://www.bbc.com/portuguese/geral-45963965

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1114487/

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