
Um dos melhores polinizadores é a abelha doméstica, Apis mellifera. Contudo, existe uma extensa lista de insetos com esse papel: abelhas selvagens, borboletas, besouros, vespas e moscas. A polinização é feita ainda por outros animais: roedores, morcegos, alguns lagartos e várias espécies de pássaros. O vento e a água têm também alguma importância como agentes de polinização. Em particular, o vento é responsável pela polinização na maioria dos cereais.
A apicultura é uma atividade que tem crescido bastante e que tem grande interesse económico, por via dos seus produtos de enorme valor alimentar, como suplementos e como terapêuticos. Esta é também uma atividade de extrema importância em termos de sustentabilidade. Contribui para o aumento da variabilidade genética e portanto também para a manutenção da biodiversidade. Em termos de higiene alimentar é uma mais-valia por razões óbvias.
Dantes, havia alguns pequenos produtores de mel em quase todas as aldeias de Penacova. A flora, contudo, modificou-se bastante. O plantio intensivo do eucalipto trouxe a possibilidade de produzir um mel com novas características, mas menos intenso nos aromas e cor, pois a disponibilidade de plantas selvagens com potencial para serem polinizadas pelas abelhas também tem diminuído. Nós somos o que comemos e a alimentação das abelhas também afeta a sua saúde e o seu desenvolvimento. Basta pensar que a abelha mestra nasce como uma larva normal, mas sofre modificações que a transformam sobremaneira em relação às obreiras, uma vez que se alimenta de geleia real.
Voltando ao crescente aumento de produtores de mel, nomeadamente, no concelho de Penacova e concelhos limítrofes, apesar de ser verdade o grande desenvolvimento da atividade em anos recentes, também é um fato que o entusiasmo dos apicultores tem diminuído consideravelmente, em anos mais recentes ainda. Isso é explicado pelo aumento do número de doenças das abelhas, de parasitas, como ácaros e piolhos e da mais recente ameaça: a vespa velutina, mais conhecida por vespa asiática. Tem crescido o interesse das autoridades pelo controlo desta espécie invasora que é, provavelmente, originária da China. A aplicação de armadilhas de captura e a disponibilização de meios humanos e materiais para a destruição de ninhos, bem como a existência de linhas de apoio para os cidadãos poderem comunicar o avistamento e localização dos ninhos, são exemplos desse crescente interesse.
Os polinizadores têm um papel tão preponderante na economia e na produção de bens alimentares que, caso eles deixassem de existir, os agricultores teriam que recorrer a outros métodos que nunca seriam tão eficazes e que acarretariam enormes custos financeiros e tornariam a agricultura demasiado cara. Há até quem estime que a nossa espécie não conseguiria sobreviver por muitos anos sem a presença dos polinizadores naturais. Este é mais um aspeto a ter em conta, quer na luta pela preservação da biodiversidade, quer no apoio aos nossos apicultores. É claro que as abelhas domésticas, só por si, representam uma percentagem que não é assim tão significativa para o número total dos polinizadores, mas não nos podemos esquecer que todos eles estão sujeitos a fatores que as atividades humanas podem ter um impacto substancial. Estou a falar dos fenómenos meteorológicas extremos, dos incêndios florestais, do uso inadequado do solo e da excessiva utilização de pesticidas e herbicidas na agricultura e afins, por exemplo.
Por outro lado, quase todos nós podemos contribuir para o aumento da aproximação de polinizadores das nossas florestas, campos, hortas e jardins. Basta que escolhamos espécies mais variadas e com grande potencial para atrair os mesmos polinizadores. Seria importante pensar nisso.
Ulisses Baptista