Sobre António Damásio que posso dizer que não seja do conhecimento de todos? Provavelmente nada. É um dos nossos cérebros brilhantes que foi brilhar para outro lado. Nasceu em Portugal mas escreve em inglês, concluo eu que também pensa em inglês… tem 77 anos, deu/dá um contributo enorme às neurociências, a que dedicou a sua vida académica. Fez a sua formação em Portugal mas depois procurou horizontes mais adequados às suas capacidades cognitivas, por isso pensa em inglês embora seja português. Não sendo um craque da bola é um craque a outros níveis e como tal é motivo de orgulho nacional. A sua elevada craveira intelectual deveria fazer dele um autor pouco acessível a nós leitores de domínios mais simples, contudo a sua excelente capacidade comunicativa , escrita e oral, faz dele um autor para todos os leitores e por isso hoje, da Serra, as palavras que correm brotam da fonte límpida de António Damásio em Sentir e Saber -A caminho da consciência.
António Damásio
Sentir e Saber- A caminho da consciência
“Os vírus possuem uma competência oculta que se manifesta quando encontram as condições propícias.”
“As mentes conscientes ajudam os organismos a identificar claramente aquilo de que necessitam para a sua sobrevivência e permitem que essas identificações sejam sentidas e hierarquizadas.”
“E quando os organismos são capazes de descrever mentalmente o grau das suas necessidades e conseguem empregar o conhecimento para reagir a essas necessidades, conquistam o universo.”
Sinopse
Em Sentir e Saber vamos caminhando pelos meandros da Vida, da importância e relevância da inteligência, da mente e da consciência para a continuidade dessa mesma Vida. Ao contrário das correntes filosóficas que pretendem dar um estatuto especial à consciência, como algo extra vida, Damásio, tendo em conta dados factuais científicos, estabelece uma relação entre Biologia e Consciência, considerando esta última como mais uma das inúmeras armas de que se dota a Biologia para continuar a Vida.
Os seres vivos mais numerosos e antigos do planeta são as bactérias, seres unicelulares e de uma simplicidade estrutural desarmante, contudo não há duvidas que são dotados de uma inteligência excepcional, que lhes permite percepcionar o ambiente e “decidir” estratégias de sobrevivência extraordinárias sempre em função dos ditames despóticos da homeostasia (equilíbrio interno), no entanto falta-lhes a mente e consequentemente a consciência.
Todos os organismos são dotados de equipamentos que lhes permitem percepcionar o ambiente e reagir-lhe, sempre tendo em conta o equilíbrio interno e a sobrevivência. Bactérias (os mais simples) e plantas (altamente evoluídas!!) são dois exemplos de sucesso extremo sem consciência. Os seres dotados de sistema nervoso (e mais tarde de cognição) com a informação recolhida do exterior constroem sentimentos, algo intrínseco e particular, que ao serem analisados pela mente permitem a formação de consciência que os impele na busca pelo equilíbrio (homeostasia). A consciência é mais um dos patamares evolutivos desenvolvido pela Vida no sentido de se preservar, que a nós, seres capazes de ler e escrever umas palavras (invenção recente que nos permite comunicar e optimizar a sobrevivência…) nos impõe responsabilidades acrescidas pois permite acumular conhecimento e nos responsabiliza pelo estado do Planeta. Hoje lidamos com o horror imposto por um vírus- um monstro não vivo, dotado de inteligência que se manifesta assim que encontra um hospedeiro- e também com as consequências de terríveis decisões que nos conduziram ao desequilíbrio ambiental em que nos encontramos. É a nossa consciência que nos permite buscar soluções e estratégias.
Boa semana com livros!!!
Anabela Bragança