Soube ontem à noite do falecimento do Professor Armando Ponce de Leão Policarpo, através do seu discípulo e actual professor do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e nosso conterrâneo, de Gavinhos, Rui Marques. Além de ter morrido um Cientista de craveira internacional, que estava ligado ao concelho de Penacova, pois passava longos períodos na sua casa de Paredes, tinha-nos deixado um Escritor, que eu muito bem conhecia.
O seu segundo livro de contos (o primeiro que conheci), publicado em 2011 em Coimbra pela Minerva, foi pelo autor intitulado, de uma forma original, Homenagem a Andy Warhol (recordo que Andy Warhol é considerado uma das figuras mais simbólicas da pop art). Tem significativamente um Prefácio em favor do conto, de Fernando Paulouro das Neves, jornalista que (como se sabe) esteve ligado ao famoso Jornal do Fundão.
Nas breves e descosidas palavras com que me costumo referir aos livros que vou catalogando, tenho neste caso o seguinte, que escrevi na altura em que a obra foi publicada e que me foi entregue com uma dedicatória do autor:
A sua escrita tem muito interesse e este livro só não será conhecido a nível nacional por ter sido escrito e publicado em Coimbra. Se fosse em Lisboa seria louvado pelos críticos e anunciado em programas culturais da rádio e da televisão. Até porque não é todos os dias que nasce um escritor, vindo da área da Física, onde Armando Policarpo foi um eminente investigador de nome internacional. Tivemos uma troca de e-mails sobre o que escreve — apesar de eu ser um prosaico historiador e não um ficcionista — em que elogiei a sua escrita e a originalidade dos seus contos.
Devo dizer que o meu entusiasmo se tornou ainda maior depois de ter sido concedido ao conto a importância que merece, embora seja muitas vezes esquecido ou considerado como escrita menor. Na verdade, dois anos depois, em 2013, a canadiana Alice Munro, considerada “mestra do conto contemporâneo”, recebia a Prémio Nobel da Literatura.
E assim nos vão deixando e lembrando os valores deste concelho de Penacova. Afinal a preservação da Memória é uma forma de dar vida aos homens e às mulheres depois da morte.
Figueira de Lorvão, 18 de Abril de 2021
Luís Reis Torgal