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Nos 47 anos da Revolução de 1974, a democracia vive o tempo em que é mais desafiada. Mais provocada.

Há ameaças internas, do próprio sistema democrático que testam as bases em que se funda a nossa liberdade, o pluralismo, a tolerância, a participação cívica e política.

Os partidos, que são o esteio da participação política, em especial os do arco da governação, genericamente afastaram-se do seu propósito. Colocaram para segundo plano a construção de soluções que efetivamente respondam ao desenvolvimento dos territórios e das pessoas, evidenciando-se como arenas de interesses e vaidades pessoais, palcos de disputas e satisfação de sede de poder, de dependentes da política.

Os agentes políticos deixaram de se bater por ideias, mas por poder e influência

A política tem efeito repelência sobre os melhor formados e mais preparados.

Afirma-se o relativismo moral, em que comportamentos eticamente reprováveis ou ilegais são aceites e banalmente tolerados como normais, sem censura social ou penalidade legal.

A vergonha e as convicções parecem estar no mercado, em câmbio permanente consoante os interesses.

O país tornou-se uma “bambochata de ligações familiares, financeiras ou políticas. (…) dominado por uma elite minúscula que vive em circuito fechado, pejada de conflitos de interesses.”, como afirmou João Miguel Tavares na sua crónica no Jornal Público do passado 20-04-2021. Os portugueses são cada vez meros convidados a pagar, sempre mais e mais, os erros de uma cada vez mais fechada elite, que vive em teia e decide e negoceia, catastroficamente, entre si própria.

Há a imposição do pensamento único, e atropelo de quem pensa diferente, de quem não segue a “manada” ao ritmo do “post” mais popular.

Os cidadãos perderam o incentivo a questionar criticamente, porque não vale a pena ou por medo, de perder emprego ou estatuto, num país em que, como poucos outros, quase tudo depende do Estado, que está em todo o lado.

Faltam referências e exemplos. Faltam lideranças seguras, referências de verdade.

Enquanto isto debitam-se neste dia bonitos discursos e palavras, de bocas cheias de evocações de cartilha, mas com sem qualquer capacidade de autocritica.

Se estas ameaças emanam de dentro do sistema, a solução tem que estar dentro.

É batida, porque muito eloquente, a frase do grande Churchil: “a democracia é a pior forma de governo com a exceção de todas as demais.” A democracia, para o ser verdadeiramente, não tem alternativa a si própria. É dentro do sistema democrático, nos seus componentes, que tem que se dar a mudança. Isso faz-se com mais participação.  Com mais apelo e chamamento à participação política. Ninguém pode dizer, nunca, que a política é com os políticos. Negar a participação política é negar a democracia e negar a democracia é matá-la. E os partidos não podem ter receio de chamar e acolher os melhores, porque se vão no mesmo enterro.

Terão que ser as novas gerações a salvar os valores que fundaram o mundo livre. Pegando na “espinha” da liberdade, igualdade e fraternidade, têm que ir reconstruindo já, agora, a “casa” da defesa do bem comum em detrimento de estratégia de poder pessoal, da tolerância pelas ideias alternativas, contra a imposição do pensamento único, da igualdade de oportunidades independentemente de ideias políticas, do cuidado e proteção próxima aos mais frágeis, contra a indiferença.

A democracia precisa de pessoas novas, não formatadas ao discurso e atuação que nos trouxe às debilidades atuais

É urgente passar do 25 abril de boca.

Mauro Carpinteiro

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