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Hoje da Serra as primeiras palavras a sair são minhas e são um pouco constrangedoras. De alguma forma habituei-me a abusar dos vossos olhos… Quando escrevo esqueço-me que não é para mim e para o meu António que estou a escrever. Esqueço-me que deveria ser para vós, e por isso deveriam ser palavras cuidadas, com algum profissionalismo ao invés destes desabafos emotivos e emocionados. Juro-vos que tento, mas não sai nada de jeito. Acho que fica ainda pior. Como me comprometi com o PA, preciso de cumprir. Pode ser que um dia a coisa saia mais a vosso merecer, por agora ainda só sai assim…

No sábado passado fui fazer uma visita à minha minorca que mudou de lugar, o intuito inicial era só mesmo uma visita para demonstrar o meu descontentamento com a sua mudança para mais longe, mas acabei por me deixar tentar… ela conhece-me tão bem… Pespega-me na frente com um Arturo Pérez- Reverte, e claro está que não resisti. Por isso por hoje as palavras a sair desde estas serranias são espanholas e muito duras (acabou a trégua imposta pela Dina!!!). Conheci o verbo de Pérez-Reverte através de um peso pesado, que hoje se converteu numa série televisiva de nomeada, A Rainha do Sul. Fiquei agarrada ao livro durante uns dois ou três dias. Este que hoje vos deixo é pequenino, de leitura rápida, mas que me custou muito. Confesso que para conseguir continuar a leitura, ia prá ai num quarto do texto, tive que ir ver o fim, equacionei não continuar por me estar a sentir pouco bem… mas acabei!!!

Hoje deixo-vos com Cães Maus Não Dançam de Arturo Pérez-Reverte. Um texto fenomenal em que o narrador é um cão que tem uma alma do tamanho do mundo, uma capacidade de amar os seus amigos que o levam a arriscar a sua vida, já de si difícil e complicada, para os salvar, uma abnegação que o levam a desistir de um grande amor por saber que o seu amigo fará o alvo do seu amor bem mais feliz, enfim um Cão…

Arturo Pérez-Reverte

Agence Opale / Alamy Stock Photo/Fotobanco.Pt

Cães Maus Não Dançam

“O meu dono julgava que eu lutava por ele, mas enganava-se. Sempre lutei por mim. Devido à minha raça e ao meu carácter, sou um lutador nato: naquele tempo pesava cinquenta quilos, media setenta e quatro centímetros das patas à cernelha e tinha uma boca com fortes caninos na qual teria cabido a cabeça de uma criança. Nasci rafeiro, cruzamento de mastim espanhol e cão-de-fila brasileiro.”

“O Agilulfo- um podengo magro, filosofo e culto que sabe destas coisas- garante que nasci para o combate; que sou um guerreiro antigo com uma estirpe gladiadora tão velha como a história dos humanos. (…) Um currículo e peras, diz o Agilulfo. Talvez por isso, acrescenta, os cães da minha casta já tenham, desde cachorros, olhos de velho, alma cheia de cicatrizes e olhar resignado, feito de sangue e fatalidade. O Homem tornou-nos assassinos, ou quase. E sabemo-lo.”

Sinopse

Negro, o narrador, é um rafeiro apenas por fora. Tudo nele aponta para uma nobreza que nenhuma escala de pedigree pode alguma vez alcançar. O seu nascimento resultou do cruzamento de duas raças poderosas, o mastim espanhol e o cão-de-fila brasileiro, contudo o resultado foi um cão fiel e leal, sobretudo a si e aos seus amigos. A lealdade ao dono prende-se apenas com o seu apurado instinto de sobrevivência, nada mais para alem disso. Já a sua lealdade aos seus amigos é inquestionável. Algures no seu passado um humano qualquer deu-lhe um nome adequado a um cachorrinho, mas a sua vida de lutas violentas até à morte deixaram a sua memória tão afectada que já há muito que o esqueceu, agora é apenas Negro, um cão que sobreviveu aos ringues de luta até à morte e ficou para contar essas histórias e para escrever outras.

O bebedouro da Margot, uma boeira da Flandres que garante as normas de higiene do bebedouro, mantendo gatos mijões e pombos cagões afastados, bem como plásticos e outros lixos, é o local de encontro dos cães da redondeza e é aí que Negro fica a saber que os seus dois grandes amigos, Teo e Boris, o Bonitão estão em apuros. Foram apanhados pelos humanos semelhantes aos que o condenaram a dois anos de tormento no Esfoladouro. O destino de ambos é terrível, mas ainda estão vivos quando Negro decide resgatá-los. Para proceder ao resgate Negro sujeita-se a enfrentar o seu passado e a correr riscos de vida impensáveis. Teo alcança a liberdade que sempre desejou e Boris, o Bonitão, cão de boas famílias e capa de revistas acaba por aceitar a fatalidade da sua beleza.

Boa semana com livros!!!

 

Anabela Bragança

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Anabela, não é fácil o momento pelo qual estás a passar, e a tua escrita é disso reflexo. Se te sentes bem a escrever, partilhando com os teus leitores as tuas escolhas, deves continuar a fazê-lo, porque todos nós agradecemos.

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