Hoje da Serra as palavras a correr saíram da pena de António Alçada Baptista, o homem que via na vida a razão de escrever. Afirmava, sem pejo, que a escrita era muito menos interessante do que a vida, deve ser por isso que a sua escrita é tão aliciante. Viveu uma vida plena. Estudou Direito só porque sim, a razão nunca lhe interessou muito. Escreveu por amor, não à escrita mas à vida, uma obra vasta mas sem pretensões de sobreviver. Escreveu porque, no momento, era o que lhe apetecia. Apenas a pensar no presente, deve ser por isso que é intemporal. Sobretudo viveu. Viveu muito e muito bem, fez da tertúlia uma forma de vida, do convívio com os amigos a ponte para a eternidade. Por isso hoje o recordo na sua eternidade não desejada, mas alcançada, na sua alegria de ser e estar, na sua escrita intemporal e transbordante de vida e de humanidade. Que o Riso de Deus vos agrade como me agradou a mim.
António Alçada Baptista
O Riso de Deus
“A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.”
“…há pouco mais de um ano que, em Paris, ficámos encantados com aquele amor que, do cimo do acaso, nos tinha caído nas mãos mas, como as crianças, estávamos a desmanchá-lo para ver como funcionava por dentro.”
SINOPSE
O Riso de Deus é uma obra de continuidade dentro do estilo de escrita de Alçada Baptista. Ao longo do texto o leitor é convidado a fazer uma viagem pelo mundo interior das personagens. Cada um de nós vai ser confrontado com uma forma radical de questionamento dos valores e das opções que tomamos. Não podemos também deixar de refletir na forma como o passado/presente vai influenciar o nosso presente/futuro.
Neste romance o personagem principal – Francisco – vai-nos apresentar as suas escolhas. Essas escolhas são completamente diferentes das do comum dos mortais. As preocupações com as coisas comezinhas e vulgares não fazem parte do seu mundo. Tentou ter uma vida normal, como todos os cidadãos, mas acabou por desistir e por se dedicar à busca de satisfação espiritual. Dedica toda a vida a procurar valores e sentimentos, vivendo num mundo muito diferente da realidade. Não tem profissão tipo e não produz riqueza no sentido económico do termo, isto é, não produz algo que possa ser vendido. Ocupa todo o seu tempo na busca do amor – que ainda não encontrou numa única pessoa – e à amizade. Este estilo de vida pode ser mantido porque não tem preocupações materiais. Herdou do pai o suficiente para viver porque tem necessidades muito frugais.
Tem na sobrinha a sua alma gémea e este sentimento é recíproco o que cria uma aura de quase incesto que não se concretiza, mas que os acompanha ao longo do tempo.
Boa semana com livros!!!
Anabela Bragança