Estamos todos saturados do isolamento social e da obrigação de confinar. Com a chegada do verão e dos dias mais quentes, a vontade de passar tempo ao ar livre e a apanhar sol, quer seja em esplanadas, no campo, nas piscinas ou nas praias, nunca se fez sentir de forma tão vincada como agora. É urgente não esquecer, apesar disso, que continuamos a atravessar uma pandemia e que o risco de contágio pelo novo coronavírus (que já parece tão velho!) está longe de ser nulo. Todos os cuidados com vista à nossa proteção são poucos, e por isso devemos preferir fazê-lo apenas com as pessoas do nosso agregado familiar e, de preferência, num local calmo e pouco frequentado, para evitar corrermos riscos desnecessários.
E por falar em proteção, é inevitável falar da exposição solar sem falar nela. A pele é o maior órgão do nosso corpo. Protege-nos do calor, das agressões que resultam em ferimentos e das infeções, ajuda-nos a controlar a temperatura, para além de armazenar água e produzir vitamina D. É constituída por duas camadas – a mais superficial é a epiderme, uma camada constituída por células pavimentosas. A cor da nossa pele é produzida por células chamadas melanócitos, que se localizam na parte inferior desta camada. Ainda mais profundamente, encontramos a derme, que contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e glândulas produtoras de suor, que ajuda a arrefecer o corpo, e outras produtoras de sebo, uma substância oleosa que ajuda a manter a pele hidratada.
Da radiação solar que chega à Terra, a radiação ultravioleta (UV) representa apenas 5%, mas é suficiente para nos preocupar. Enquanto os raios UV C são geralmente bloqueados pela camada de ozono, os raios UV A e UV B chegam à superfície da Terra e têm consequências nefastas para a nossa pele. Os raios UV A provocam o envelhecimento prematuro da pele, enquanto os raios UV B são responsáveis pelas queimaduras solares e pelo bronzeado, mas ambos aumentam o risco de desenvolver cancro da pele. Há cada vez mais casos dos vários tipos de cancro da pele devido, essencialmente, à mudança de comportamentos a favor de uma exposição à radiação UV exagerada ou inadequada. Quando a radiação UV incide sobre a nossa pele, esta reage aumentando a sua espessura e pigmentação, fenómeno conhecido como bronzeado, cuja finalidade é proteger a nossa pele da referida radiação, que é interpretada como uma agressão.
Se observarmos com atenção a pele dos nossos antebraços e compararmos, por exemplo, a face interna com a superfície exterior, vemos as diferenças: mais manchas, mais rugas, mais “sinais” na pele exposta do que na pele não exposta. É também por isso que em relação à exposição solar, como em quase tudo, é preciso moderação. Com a exposição repetida à radiação UV, podem ocorrer mutações nas células da pele, levando a um crescimento não controlado e ao aparecimento de um cancro da pele. É por isso que é fundamental estarmos conscientes das consequências da exposição excessiva da nossa pele ao sol, e tomar medidas para que esta exposição, quando acontece, não deixe de ser segura.
É preciso lembrar que a exposição à radiação UV acontece sempre que praticamos desporto ao ar livre, tratamos do nosso jardim ou no caminho a pé para o trabalho, e não só quando fazemos praia propriamente. Além disso, há alguns medicamentos que, quando tomados, aumentam a sensibilidade ao sol, pelo que quem os toma deve redobrar estes cuidados (são exemplos a maioria dos anti-inflamatórios não esteróides, corticóides, alguns antibióticos, antidepressivos, entre muitos outros – deve informar-se junto do seu médico sempre que inicia um novo medicamento, verificando se este cuidado adicional faz sentido). É por isso que a proteção da pele exposta da radiação UV é necessária em todas essas situações, todos os dias. Esta é medida por um sistema denominado FPS (fator de proteção solar). É indicado em todos os protetores solares e possui quatro níveis de proteção: baixo (fator 6 a 10), médio (15 a 25), alto (30 a 50) e muito alto (50+). De certeza que já todos ouvimos alguém aconselhar que devemos evitar a exposição solar nas horas de maior intensidade, sendo os períodos mais seguros o início da manhã (antes das 11 horas) e o final da tarde (depois das 17 horas). Mesmo nessas horas, e para uma exposição solar segura, devemos aplicar um creme ou spray protetor solar com um FPS igual ou superior a 30, cerca de 30 minutos antes de sair de casa. O valor do fator de proteção multiplica o tempo que a nossa pele se encontra “segura” durante a exposição solar, em relação ao tempo que estaria segura se não o usássemos. Assim, se usamos um protetor FPS 30, significa que a nossa pele ficará segura durante 30 vezes mais tempo do que se não o usássemos. Devemos repetir a sua aplicação de 2 em 2 horas e após o contacto com a água, mesmo que o protetor solar seja à prova de água! A sua aplicação é obrigatória, mesmo em dias nublados e mesmo quando escolhemos ficar à sombra do chapéu de sol na praia – os raios de sol são refletidos e, portanto, não estaremos, de todo, protegidos!
Quando saímos à rua, devemos expor-nos gradualmente ao sol, pois a pele necessita de tempo para se adaptar. E mesmo quando saímos apenas para um pequeno passeio ou para tratar da nossa horta, e escrevo agora em especial para a população mais idosa que muitas vezes descura este cuidado, além da aplicação do creme protetor solar, é fundamental usar chapéu, de preferência com abas, para proteção da pele da face. A roupa deve ser larga e deve proteger os ombros, os braços e as coxas. É preciso lembrar também que no verão, mas também no resto do ano, é importante que estejamos atentos à nossa pele e que evitemos agressões profundas (os tão conhecidos “escaldões”). Quem tem sinais, deve vigiar o seu contorno, variações no tamanho e na cor e estes devem ser vistos por um médico se alguma coisa neles se modificar. Nos dias de sol, mas também nos outros, para a saúde da nossa pele e não só, é fundamental não esquecer de beber água (pelo menos 1,5L) e manter uma dieta equilibrada, incluindo nas refeições do nosso dia as frutas e os legumes. Vamos cuidar de nós?
Joana Fernandes Duarte
Médica Interna de Medicina Geral e Familiar na USF Buarcos | Figueira da Foz