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Pedro Viseu

Ontem, sem pompa e com alguma circunstância, foi descerrada, na Pérgola Raul Lino, uma placa de alto relevo a evocar os 100 anos do nascimento de Martins da Costa.

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O município, como é seu hábito, enviou a todos os orgãos de comunicação social da região, uma nota de imprensa a dar conta de tão importante acontecimento para a cultura de Penacova e do País. Nessa comunicação realça o seu papel na concretização de tão elevado objetivo, que é o da construção da Casa das Artes Martins da Costa, e da atribuição do seu nome à rua onde o pintor construiu em Penacova a sua casa-atelier.

Tudo estaria bem até aí, pois é de particular importância o reconhecimento, por parte das autarquias, daqueles que elevaram o seu nome, no caso, o de Penacova. É aliás consensual que assim aconteça, porque isso traduz-se numa mais valia para qualquer localidade, aquando associado ao seu passado, tem pessoas cujo percurso de vida vale a pena realçar. O que não está correto (a meu ver), e se torna inaceitável aos olhos de alguns, é que, por questões meramente políticas, os responsáveis por tal reconhecimento tivessem, propositadamente, ocultado o desempenho daquele que mais contribuiu para o objetivo alcançado, somente porque se trata de alguém que concorre contra o candidato do partido político que atualmente gere os destinos do nosso concelho o que, na perspetiva de quem o representa, seria uma oportunidade para reconhecer a importância do candidato da oposição.

Mas assim não aconteceu. Contrariamente ao que era justo e esperado, os responsáveis pela “pasta” da cultura do município de Penacova, chamaram a si, falsamente, todo o protagonismo no reconhecimento da obra e vida do pintor, sem cuidar de reconhecer (ou agradecer), todo o trabalho desenvolvido por quem tornou possível aquela homenagem.

Com a obra do artista em fundo, um encontro muito produtivo em 2020, com Álvaro Coimbra, Humberto Oliveira, presidente da câmara de Penacova, Diogo Gama Rocha, neto do pintor e Rita Gama Rocha onde se alinharam vontades para concretizar um projeto que faça justiça ao legado deixado por Martins da Costa.

Senão vejamos. Já em 2014, Álvaro Coimbra, atual candidato independente à Câmara Municipal de Penacova, jornalista da RTP, defendia que “o antigo Tribunal de Penacova deveria acolher um museu dedicado a Martins da Costa que mostrasse a dimensão da sua obra, com recurso às novas tecnologias, com oficinas de pintura para a população escolar, que apoiasse os novos talentos e que, no fundo, materializasse a homenagem que Penacova ainda não fez a Martins da Costa”. Nesse contexto, contactou com a família do pintor no sentido de transformar em livro os manuscritos que lhe foram sendo enviados pelo Prof. Martins da Costa para publicação no (extinto) Jornal de Penacova, do qual era diretor.

A ideia foi prontamente acolhida, tanto pela família do pintor, como pela vereadora Fernanda Veiga, na altura responsável pela pasta da cultura do município. Nessa sequência, o município decidiu instituir, em 2016, o prémio “Martins da Costa, um prémio de pintura com periodicidade anual, cuja primeira edição seria apenas dirigida aos alunos do terceiro ciclo do Agrupamento de Escolas de Penacova, o qual foi apresentado nesse ano no Agrupamento de Escolas de Penacova, na presença da vereadora da cultura, Fernanda Veiga, dos netos do pintor, Diogo e João Gama Rocha e do agora candidato Câmara Municipal de Penacova, Álvaro Coimbra.

O prémio “Martins da Costa” teve 4 edições. A última realizou-se no ano de 2019 devido à pandemia que impediu a realização das seguintes.

Do trabalho desenvolvido por Álvaro Coimbra, com a colaboração do município de Penacova, resultou o livro “Martins da Costa – Contos Vividos”, obra literária que recebeu, nos Estados Unidos, uma distinção Prata nos “Creativity International Awards”, na categoria “Print & Packaging”, pela “qualidade gráfica que representava e que foi desenvolvida pela equipa de criativos da empresa Omdesign, liderada por Diogo Gama Rocha, neto do artista, e por se considerar que “ao longo do livro, a agência de publicidade portuguesa incluiu várias reproduções e pormenores de obras de João Martins da Costa, que reflectem o seu talento sem precedentes, ao mesmo tempo que tornam o livro apelativo e fácil de ler”.

Dada a sua importância, o livro “Contos Vividos”, de Álvaro Coimbra e Diogo Gama Rocha, foi apresentado em 2017, pelo Prof. Hélder Pacheco, que também assina o prefácio, na exposição do museu Quinta de Santiago, organizada pelo município de Matosinhos. Nesse mesmo ano, o livro “Contos Vividos” venceu quatro prémios, pela excelência da sua qualidade gráfica.

Meus caros leitores, se aquilo que vos escrevi, não é motivo mais do que suficiente para que o trabalho desenvolvido pelo impulsionador do interesse por Martins da Costa, por parte do município de Penacova, fosse reconhecido no dia em que foi evocado o centenário do nascimento de João Martins da Costa, então não sei o qual é o verdadeiro interesse (para a cultura) daqueles que atualmente compõem executivo municipal.

As tomadas de atitude por parte deste executivo municipal, perante aqueles que, por algum motivo, entende poderem ofuscar a sua importância no dia-a dia dos penacovenses, são contrárias a todas as práticas admitidas em democracia (da qual se autoproclamam acérrimos defensores) e de tal ordem que me fazem lembrar os métodos utilizados por alguns regimes totalitários no início do séc. XX, quando, por exemplo, manipulavam as fotos que publicavam, e delas faziam desaparecer aqueles que consideraram amigos e que, por razões várias, passaram a ser considerados dissidentes.

Se é com atitudes destas que os atuais detentores dos destinos do concelho de Penacova, pretendem continuar a representar que os elegeu, então devem estar convencidos que todos os penacovenses votam de olhos fechados e não se preocupam com a salvaguarda da verdade democrática e com a proteção dos seus legítimos e verdadeiros interesses.

Pedro Viseu

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