Os resultados eleitorais emergidos do passado domingo – com uma clara progressão à direita – só me deixaram dúvidas e inquietações e sem pretender com este artigo desvalorizar as escolhas democráticas de cada um e de todos nós eleitores.
Como foi possível, Carlos Moedas ser eleito Presidente da Câmara de Lisboa?
Foi Secretário de Estado Adjunto do governo de Paços Coelho, entre 2011 e 2014, e interveio no processo de privatização da EDP, dos CTT, da PT, da TAP e da ANA, entre outras empresas públicas. Depois disso, a mulher de Moedas foi directamente ocupar uma confortável cadeira na administração dos CTT, vendido por tuta-e-meia ao partido comunista chinês.
Foi Comissário Europeu, de 2014 até 2019, onde deteve o maior orçamento de sempre para a Inovação, Conhecimento e Ciência, que serviria para as Universidades darem o salto substancial e cuja obra e resultado os portugueses/contribuintes desconhecem, sendo grande parte dos dinheiros doados a Fundações, ainda que o próprio e os pares (alguns) concluam que fez um excelente trabalho.
É por demais notório que o dito sempre esteve, não do lado dos mais frágeis e necessitados, mas dos poderosos e das negociatas arquitectadas em gabinetes obscuros visando o lucro de uns tantos (poucos). Ora, governar a maior cidade do País não é o mesmo que fazer negócios na Goldman Sachs. Mas, mesmo assim, os eleitores – ainda que com uma vantagem de pouco mais de 3 mil votos – acreditaram que seria a melhor opção de governação.
Está visto ao que vem: se com Trocos perdeu na campanha e nos debates – que surgiram centrados nas questões das ciclovias que saíram caras a Medina -, com Moedas ganha eleições.
Outro caso paradigmático, a eleição de Santana Lopes na Figueira da Foz. Santana há muito que perdeu toda a credibilidade pública e política, à excepção da Figueira que o credibiliza e onde voltou a ganhar com um bom resultado, ainda que sem maioria. Confirma-se a máxima da campanha “Com Santana, até a Figueira abana”. O povo gosta da propaganda, do show-off e tem memória curta, pois parece ter esquecido o buraco nas contas aquando do anterior mandato do dito à frente daquela autarquia.
O PSD ganhou 32 novas presidências, o PS apenas 5. É certo que estes resultados têm também a ver, e muito, com as orgânicas sociais de cada concelho, mas traduzem uma progressão claramente à direita. Enquanto isso temos uma preocupante perda dos candidatos dos partidos que considero, efectivamente, de esquerda e que defendem, de facto, os interesses de quem trabalha. O PCP teve o pior resultado de sempre nas autárquicas. O Bloco de Esquerda foi superado pelo Chega, que conseguiu parece que, no total, 19 vereadores e 173 deputados municipais. Pergunta-se: onde o Chega foi buscar votos, como e a quem? Seria bom sabermos. A velha máxima: conhecer o inimigo para melhor o combater! Parece que, tal como num passado ainda não muito longínquo, há um fascista em cada esquina.
Os partidos que acabaram por ter maior protagonismo são o PSD e o Chega, mas por motivos diferentes: o primeiro porque apesar de ter perdido as eleições de facto, os meios de comunicação enquadraram-no como o vencedor, porque ganhou a câmara da capital de forma absolutamente inesperada e mais 31 novas presidências; o Chega porque domina a arte da propaganda, tem acesso aos media e apesar de ser um partido exíguo, de uma pessoa só, demonstra ter uma estrutura e meios de um partido de dimensão muito superior.
A par destes resultados, metade do eleitorado persiste em não ir votar e em não querer escolher com critério mais avisado. Pontuou-se em 46,6 por cento de abstenção, a segunda maior de sempre.
Sendo certo que a esquerda perdeu, em parte, porque permanece dividida nos grandes objectivos, mesmo quando a direita se une em coligações estratégicas, surge claramente que a maioria dos eleitores vota em partidos que não defendem claramente os seus interesses. Um operário/trabalhador por conta de outrem que vota num candidato do PSD ou PS está a defender menos os seus interesses do que se votar no BE/PCP/CDU. Admite-se assim a analogia. E quanto ao Chega, fica por demais evidente, depois de ouvirmos os candidatos sem qualquer programa ou objectivos, que nada têm a ver com o interesse para o bem comum e tanto assim é que não apresentam propostas nesse sentido.
Aliás, em Portugal, a avaliar por estes resultados, parece que a classe trabalhadora está cada mais reduzida. Só me ocorre Gedeão: “Não há mas. Todos temos culpa e a nossa culpa é mortal”. Sê-lo-á se não acordarmos a tempo.
Marília Alves
A autora esteve ausente, em parte incerta, na campanha de Penacova, onde todos os candidatos, sem excepção, se mostraram muito claros, concretos e concisos nas suas propostas, com programas cuidados e atividades de proximidade(porta-a-porta, entenda-se) a roçar o excesso.
E não é de todo são, reiterar com rótulos ridículos o partido de André Ventura, até porque, como nos descreve a história, o fascismo é regime que mais se aproxima do anti-capitalismo, em cuja antítese se tornou o Chega.
A autora destila uma superioridade moral típica da esquerda e do PCP.
Em termos de radicalismo, está tudo “dito”. O de direita é péssimo e o de esquerda é maravilhoso.
Contas simples.