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Decorreu no dia 2 de Novembro, no Museu da Presidência da República, o lançamento do livro “António José de Almeida – 100 anos de uma Presidência”, que contou com a presença do Presidente da República bem como do Presidente da Câmara Municipal de Penacova e do Presidente da Assembleia Municipal deste concelho.

A apresentação editorial contou com intervenções do Prof. Doutor Luís Reis Torgal, da Prof.ª Doutora Ana Paula Pires  e da Dr.ª Elsa Santos Alípio, que prefaciaram o livro, enquadrando os discursos proferidos por António José de Almeida e selecionados para esta obra. Presidiu ao evento a Directora do Museu, Doutora Maria Antónia Pinto de Matos.

A edição deste livro, considerado como “uma obra imprescindível para conhecer melhor uma das personalidades mais emblemáticas do início da República e do século XX português” resulta de uma parceria entre o Museu da Presidência e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Trata-se da reedição dos textos mais relevantes do período em que António José de Almeida desempenhou funções de Chefe de Estado (1919-1923), tendo como base o trabalho de um grupo de amigos deste estadista que em 1933 reuniu e publicou as suas intervenções de político, escritor, jornalista e orador sob o título de “Quarenta anos de vida literária e política”. O volume IV dessa obra incide, precisamente, no tempo em que exerceu a Presidência da República: “O contacto com a Imprensa e as Universidades Portuguesas“; “As visitas do Rei da Bélgica e do Príncipe do Mónaco“; “A tumulização dos Soldados na Batalha“; “A revolução e a reacção de 19 de Outubro“; “A travessia aérea do Atlântico“; “A visita presidencial ao Brasil“ e “A imposição do barrete cardinalício ao Núncio apostólico em Lisboa“.

Na sua intervenção, o Prof. Doutor Luís Reis Torgal defendeu que António José de Almeida foi, por excelência, “O Presidente” da I República (1910-1926), sendo o único que conseguiu cumprir o mandato, apesar de ter sido a presidência mais difícil, bastando recordar a “Noite Sangrenta” e a instabilidade política que se traduziu na existência de dezassete equipas governamentais em apenas quatro anos. O seu percurso político e de estadista ficou também marcado pelo poder da Palavra, da Oratória, do Discurso, escrito e falado. António José de Almeida é “o Presidente” daquele período cuja memória prevalece também na toponímia de muitas vilas e cidades, além do Monumento à República, em Lisboa, curiosamente inaugurado já em pleno Estado Novo (1937).

Por sua vez, Ana Paula Pires, salientou que António José de Almeida foi um “construtor de pontes” em muitos aspectos da vida social e política. Salientou a pacificação com a Igreja Católica, a tentativa de sanar tensões e “manter pontes” de que foi acto simbólico a imposição do barrete cardinalício a Monsenhor Locatelli, Núncio Apostólico em Lisboa (1922). Igualmente a Travessia Aérea do Atlântico, cuja viagem acompanhou de perto, e depois a Visita triunfal ao Brasil no 1º Centenário da Independência daquele país. A Dr.ª Elsa Alípio anunciou a realização de uma exposição sobre os 100 anos da Visita Presidencial de António José de Almeida ao Brasil e destacou alguns aspectos marcantes da presidência deste estadista.

O actual Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, encerrou a sessão, proferindo uma importante alocução, no seu estilo professoral. Fez notar que António José de Almeida foi um na realidade um “homem de concórdia”, revelando uma grande coerência, sensibilidade e capacidade de antecipação. Coerência entre o estudante de Coimbra, o militante republicano nas Cortes, o opositor a D. Carlos, o lutador revolucionário (que mereceu a confiança da Carbonária), o membro do Governo Provisório, o Presidente do Ministério com Afonso Costa… Era também um visionário com grande poder de antecipação, porventura devido ao facto de ter sido, também ele, jornalista.

Recordou que a Visita de Estado ao Brasil ainda hoje ecoa no Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, onde a memória impressiva que ainda impera é a de António José de Almeida. A abertura de Portugal ao exterior é outra nota a registar.

Marcelo Rebelo de Sousa fez ainda notar que António José de Almeida promoveu o culto da Pátria, o culto da República, mesmo antes do 5 de Outubro; valorizou os símbolos da nacionalidade, deu vigor à “Alma Nacional” e reconheceu o papel do Cristianismo na História de Portugal.

António José de Almeida tinha o poder de oratória, de empatia, de sentido social (recorde-se que foi médico e jornalista). Poder de oratória dificilmente comparável: “ninguém o bate na oratória escrita e falada”, apesar de termos de reconhecer também alguns desses dotes em Bernardino Machado, Teófilo Braga e Teixeira Gomes. “Mas ele foi o maior” – acentuou o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa recordou ainda a Aclamação Fúnebre de António José de Almeida, ao ponto de o Presidente Carmona ter declarado “nacional” o funeral de um presidente do regime deposto. “Isto porque António José de Almeida era de todos os portugueses” e nisso “a ditadura nunca teve a coragem de tocar”.

A terminar, o Chefe de Estado referiu a Exposição do próximo ano, já anunciada na sessão por Elsa Alípio, e reforçou a necessidade de também, agora que Portugal tem uma numerosa comunidade brasileira, continuar a fazer a ponte Portugal-Brasil.

A intervenção do Presidente da República veio ao encontro do que já havia registado na sua Mensagem de Abertura ao livro agora apresentado:

“Não foi por acaso que António José de Almeida foi o único presidente da República Parlamentar a completar os quatro anos de mandato consagrados na constituição se 1911. Isso deveu-se, largamente, aos seus predicados pessoais e aos valores que defendeu no desempenho do seu múnus presidencial. Nomeadamente, o culto da independência, e da liberdade, combatendo as assimetrias nas suas diversas formas, a honestidade, a transparência e o espírito cívico acima do interesse pessoal. E, ainda, a constante preocupação de construir pontes e conciliar os portugueses em ambiente de grande adversidade social, económica e política.
A sua notável capacidade oratória, que arrastava multidões, fez, ainda, de António José de Almeida um pedagogo, nas diversas fases da sua vida. É por isso que contar a sua história- e a história da sua presidência – é uma forma de cimentar a Democracia, num tempo em que crescem os xenofobismos e os radicalismos. Conhecer a história, ter memoria, é fundamental para velar pela nossa Democracia. Cem anos depois, olhemos para António José de Almeida e o seu notável exemplo de pedagogia presidencial.”

 

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