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O Ministério Público deduziu acusação contra o motorista de Eduardo Cabrita, indiciado de homicídio por negligência. A acusação foi conhecida na passada sexta-feira e, logo durante a manhã, o ministro da Administração Interna afirmou que era “só um passageiro” do carro envolvido no atropelamento na A6, que resultou na morte de um trabalhador da limpeza de autoestradas. Defendeu que a acusação ao motorista corresponde ao “estado de direito a funcionar, temos de confiar, ninguém está acima da lei”.

Durante a tarde desse mesmo dia, o ministro apresentou a demissão. E é um cheiro a oportunismo político que não se pode: a pouco mais de um mês das eleições legislativas antecipadas, o ministro decidiu afastar-se para não prejudicar o partido socialista. “Não posso permitir que este aproveitamento político absolutamente intolerável seja utilizado no actual quadro para penalizar a acção do Governo contra o senhor primeiro-ministro ou mesmo contra o PS. E por isso entendi solicitar hoje a exoneração das minhas funções de ministro da Administração Interna”.

Cabrita faz parte do governo desde 2017. Enfrentou mal muitas situações, ou antes nada fez quando os acontecimentos exigiam outro posicionamento ético, nomeadamente e só para citar os mais recentes, no caso das golas anti fumo e, no mais trágico, a morte do cidadão ucraniano no aeroporto de Lisboa, torturado às mãos de pessoal do SEF, organismo que o governante tutelava. A gravidade dessa situação exigia a assunção da responsabilidade política que está inerente à República, partindo do pressuposto que os servidores agem de acordo com a ética exigível em qualquer sociedade “minimamente” democrática e com estado de direito. E, na eventualidade do próprio, por aquilo que se viu, estar mais interessado no cargo do que verdadeiramente no serviço ao povo, o presidente do Conselho de Ministros deveria demiti-lo no imediato. Era o mínimo exigível.

Contrariamente, Eduardo Cabrita sempre disse que não se demitia e o primeiro-ministro redobrou publicamente a confiança política no amigo de longa data, o que parece ser um critério para fazer parte deste Governo constituído, como é sabido, em enormes redes de amizade e parentesco. E apesar de ter aceite agora a exoneração, António Costa não exonera a sua responsabilidade, por não o ter feito há mais tempo. E aceitou porque há eleições antecipadas. Mas se o PS ganhar, não me espanta nada que Cabrita venha a ser chamado para fazer parte do novo executivo.

Tudo isto põe a nu uma triste realidade consubstanciada no facto de, ostensivamente, estarmos a ser governados por pessoas que ao invés de estarem preocupadas com o desenvolvimento do País, estão apenas e só descaradamente centradas nas suas carreiras político-profissionais. E se o Ministério Público não tivesse deduzido agora a acusação, Cabrita continuava no governo. É uma questão mais do que óbvia. Quando já devia ter saído há muito tempo. O ministro não era um mero passageiro de um táxi.  Estava num carro oficial, do ministério que o próprio dirige, politicamente tem toda a responsabilidade. Em momento algum deste processo foi solidário com alguém, não foi ao funeral, não ajudou a família e, nas declarações públicas, insinou sempre que a culpa é do trabalhador que morreu.

Em suma, trata-se de um político paradigma da nossa democracia –  que não é um passageiro do poder, ainda que o seja do sistema, pois está há muitos anos em cargos públicos, já anteriormente com Guterres e depois com Sócrates – e que busca, claramente, o poder para se servir e não para servir, exibindo uma arrogância e sobranceria injustificada tendo em conta a sua ineptidão, e atirando a culpa para os subalternos, ou seja exibindo condutas frontalmente contrárias à ética republicana, tão apregoada pelo partido socialista.

 

 

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