O presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) Região de Coimbra disse hoje à agência Lusa que os agentes da Educação dos 19 municípios criaram um manifesto para a região depois de um encontro onde quebraram barreiras.
“É um manifesto geral e abstrato e, em anexo, há um conjunto de 90 medidas mais concretas e mais objetivas que ainda estão a ser debatidas para juntar ao documento que será enviado aos municípios e entidades da Educação, assim como ao Governo”, explicou Emílio Torrão.
O presidente falava à agência Lusa no final de um ‘bootcamp’ organizado pela CIM Região de Coimbra, em Pampilhosa da Serra, onde juntou cerca de 40 responsáveis, entre vereadores da Educação e diretores de agrupamentos escolares.
O “I Bootcamp – O Interior da Educação no Centro da Natureza – O Manifesto de uma Região” foi, no entender do também autarca da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, “uma provocação intencional” aos agentes da Educação.
“Estas pessoas, normalmente, no dia-a-dia têm um relacionamento institucional, às vezes, mais distante, e que hoje, e nos últimos dias, puderam apreender outra realidade. É um setor que passa por algumas dificuldades, muito em particular as dificuldades de relacionamento entre as várias instituições que lidam com a Educação”, reconheceu.
Neste sentido, Emílio Torrão disse que constatou, no final do encontro de três dias “que as barreiras quebraram-se, havia uma enorme alegria entre todos, uma grande facilidade de diálogo e isso já ninguém tira” aos participantes.
“Perceberam que até estão muito mais próximos do que julgavam nas ideias que têm sobre a Educação, porque efetivamente houve um enorme consenso na concretização deste manifesto, com as linhas programáticas gerais, e na assimilação e na conclusão para as propostas de medidas concretas”, adiantou.
Emílio Torrão disse que as pessoas concluíram que “é possível dialogarem melhor, construírem uma escola melhor e promover uma educação melhor com o diálogo e com o sentido de responsabilidade e missão conjunta. Uma missão de solidariedade, de espírito de corpo e de interligação”.
“Essa foi a mensagem que saiu daqui: é possível, desde que queiramos. E isto vai refletir-se no ambiente escolar de forma natural com melhor diálogo, melhor tolerância, melhor compreensão e uma melhor confiança entre as várias realidades e os vários agentes da Educação”, considerou.
Entre as medidas que fazem parte do documento está, por exemplo, que “o ensino profissional tem de se especializar mais e, em particular nos territórios de baixa densidade, como é o caso da Pampilhosa [da Serra] a regra de que as turmas têm de ter um mínimo de alunos não pode funcionar”.
“Porque é muito pior não ter qualquer opção de ensino profissionalizante aqui na Pampilhosa [da Serra] do que mandar os alunos para Coimbra de autocarro ou para outras escolas da região”, defendeu o autarca.
No seu entender, “são medidas que se devem aplicar quando o Ministério da Educação deixar de ter a ideia de que os territórios são todos iguais e que a realidade tem de ser vista sempre da mesma maneira”.
Para já, precisou, “são para os municípios e a própria comunidade escolar refletirem, mas a mais importante está ganha, que é o diálogo e a forma como estas pessoas se relacionaram e a confiança com que saíram deste encontro” e, por isso, já ficou agendado um segundo para 2024, em Mira.
A CIM Região de Coimbra é constituída pelos municípios de Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua, Vila Nova de Poiares, Mealhada (distrito de Aveiro) e Mortágua (Viseu).
MANIFESTO DA EDUCAÇÃO DA REGIÃO COIMBRA
Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mealhada, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Mortágua, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua, Vila Nova de Poiares
A Educação na Região de Coimbra é uma prioridade e para o assumir, a Comunidade Intermunicipal promoveu o encontro entre Vereadoras/es da educação e Diretoras/es de Agrupamentos de Escolas e Escolas não agrupadas para refletir, construir pontes, caminhos comuns e definir as linhas orientadoras de toda a Região.
Partindo da reflexão conjunta sobre a diversidade e riqueza do território da Região de Coimbra, tendo a defesa da educação como principal propósito, as/os participantes foram divididas/os em grupos que, em conjunto, dialogaram sobre conceitos, ideias e realidades individuais e coletivas. Este processo contou com a participação de especialistas de diferentes áreas do conhecimento que promoveram e ampliaram reflexões em torno de 7 temas chave. Considerando o pensamento e o papel de todas/os neste processo, unimos vontades e fazeres e construímos este manifesto como uma estratégia intencional de união neste território.
Enquanto agentes educativos no território:
1. Acreditamos que ser criança é saltar muros e barreiras na descoberta livre do ser de cada uma. É ser protagonista da sua história, descobrindo e criando o seu próprio caminho na relação com as/os outras/os.
2. Defendemos que valorizar o brincar é abrir as portas do conhecimento, da originalidade, da criatividade e do autoconhecimento. É desfrutar da alegria e brincadeira livre.
3. Temos consciência que aprender é desconstruir, experimentar e arriscar, na individualidade do seu caminho e na relação com as/os outras/os e o mundo à nossa volta.
4. Fortalecemos o papel da escola na educação, fazendo germinar a semente do que é cada uma/um, num processo de transformação, inovação e cooperação.
5. Reconhecemos a autonomia das escolas impulsionando e facilitando percursos e caminhos alternativos, na oportunidade para outras tomadas de decisão.
6. Entendemos o papel dos municípios na educação como suporte e ligação à comunidade numa parceria estratégica e corresponsável pela educação.
7. Apoiamos a inovação abrindo portas para a descoberta e compreensão do mundo em busca de novos caminhos.