“Desde muito cedo os doces acompanharam as refeições conventuais, principalmente em certas datas festivas, servidos como pitanças ou, como hoje se diria, como suplemento alimentar, mas foi sobretudo a partir dos séculos XV e XVI que a elaboração doceira conventual ganhou fôlego, devido, em grande parte, à maior divulgação do açúcar e de certas especiarias, como a canela.”
Nelson Correia Borges
Tendo como autor o Professor Doutor Nelson Correia Borges, nosso ilustre conterrâneo, o Município de Penacova publicou em 2013 Doçaria Conventual de Lorvão 1. Num momento em que o património gastronómico se assume como património imaterial a proteger é inegável a oportunidade e a pertinência da edição deste volume.
Refere-se na Nota Prévia que esta obra pretendeu “reunir e sistematizar todas as receitas recolhidas e também algumas que já estavam publicadas”, sendo, assim, possível “congregar neste livro praticamente todos os doces referidos na documentação monástica e ainda outros que o não são, mas que a tradição oral conservou.”
Além do texto de apresentação, assinado pelo Presidente da Câmara, Dr. Humberto Oliveira, e da Nota Prévia, o livro tem como capítulos:
- Mosteiro de Lorvão: uma casa com (muita) história (O tempo dos monges; A corte no mosteiro; Damas na clausura. A marca das preladas; Esplendor e declínio de uma comunidade)
- Doçaria Conventual – A doçaria dos conventos; A arte da doçaria em Lorvão
- Tomar chá (e doces) em Lorvão ou o bule que se partiu
- Anexo Documental
- Receituário
Esta publicação, pautada também por um excelente grafismo e valiosa documentação fotográfica, apresenta detalhadamente o riquíssimo receituário conventual (p. 85-171), resultante não apenas da consulta de manuscritos, mas também da tradição oral passada “de mães para filhas e muitas vezes resguardadas de estranhos, como segredo de família». As cinquenta e três receitas são apresentadas por ordem alfabética do nome dos doces.
«Expoentes de hábitos alimentares refinados, regalo de paladares exigentes, os doces conventuais foram amáveis personagens de uma vida quieta e gentis embaixadores no século de um ideal de vida que os novos tempos vieram pôr em causa» (p. 48), escreve o autor, acrescentando noutro passo que «de dádiva prestigiante passaram a humilde mercadoria». de tal modo que o próprio Alexandre Herculano escreveu, revoltado, uma carta a Serpa Pimentel, redactor do jornal «A Nação», um «grito lancinante” em que se “pede esmola para as monjas de Lorvão» (p. 72).
A terminar, consideramos importante salientar quem é o Autor. Nelson Correia Borges, natural de Lorvão (1942), licenciou-se em História em 1976 e fez o Doutoramento em Letras, na especialidade de História da Arte, com a dissertação Arte Monástica em Lorvão. Sombras e Realidade. Das origens a 1737, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Tem como áreas de investigação a arte monástica em Portugal (séc. XVI-XIX); o Rococó em Portugal; a arquitectura e talha em Coimbra e região (Barroco e Rococó) e a cultura e arte populares. Vogal correspondente da Academia Nacional de Belas Artes, desde 1985, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa e fundador de quatro associações de defesa do património: o GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, o Grupo Folclórico de Coimbra e a Confraria dos Sabores de Coimbra.
David Gonçalves de Almeida
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1 BORGES (Nelson Correia), Doçaria Conventual de Lorvão. Câmara Municipal de
Penacova, 2013. 176 pág. ilustradas. ISBN: 978-972‑99628-3-7.
http://id.bnportugal.gov.pt/bib/bibnacional/1970305