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Passados que são cinco anos (17 de Junho de 2017, dia do fatídico incêndio de Pedrógão Grande) sobre o seu lançamento, recordamos hoje, na rubrica que procura elencar o conjunto de obras editadas e patrocinadas pelo Município de Penacova, o livro “No Mosteiro do Vale do Silêncio”.

Tal como a autora, Sónia Marques Carvão, refere no Prólogo, “este pequeno romance pretende dar a conhecer a presença dos beneditinos nesta região e despertar interesse pelo conhecimento da sua História” e “da vida quotidina no século XII.” Trata-se, pois, de “uma obra que procura sensibilizar para uma época e para um Mosteiro que foi o berço de Portugal, no que diz respeito à sua constituição, cultura,arte das iluminuras e à contemplação”.

“Com uma história criada onde as personagens pertencem ao romance, só e exclusivamente, embora com alguns aspectos retirados de factos históricos”, o livro “promove a região, o seu património religioso e ambiental”. Adianta a autora que “sem entrar em detalhes de factos históricos, mas recorrendo a alguns deles para desenvolver o romance, que é disso que se trata, de um romance” foram consultadas algumas obras académicas e também literárias.

Em 2017, aquando do seu lançamento, naquele dia tórrido de Junho em que estive em Lorvão, escrevi noutro espaço o seguinte:
“Este romance tem como personagens principais um jovem monge, Bernardo, uma jovem rapariga do “povoamento”, Clara, e o Abade Lucas. Trata-se de uma viagem no tempo. Viagem ao passado, envolta numa dinâmica de regresso ao futuro. Depois de muitos séculos, o Mosteiro de Lorvão, vê regressar os Beneditinos, dando assim, vida e dinâmica aos espaços que, com a saída do hospital psiquiátrico, se encontravam à espera de uma utilização condigna.“Um clarão como se fosse um relâmpago bateu no grupo e no círculo ao mesmo tempo. Alguns bordados de algumas aves foram transformados em penas no momento em que a viragem para o futuro se deu. Todos juntos chegaram ao cimo das escadas do mosteiro actual.”Claro que todo este processo gerou alguma perplexidade na pacata vila.
“Vem ali outra pessoa! – exclamou o monge Antão quando um rapaz se dirigiu à porta da igreja do mosteiro.
– Boa tarde! – sou o guia deste mosteiro, quem são vocês pelo vosso traje? – perguntou o guia do mosteiro um pouco espantado.
– Somos os beneditinos deste mosteiro – respondeu o Abade Lucas. (…)
– Mas os beneditinos que estiveram neste mosteiro estiveram no século XII. Não podem ser vocês! – exclamou o guia.
– Nós somos os beneditinos que estiveram neste mosteiro no passado, só que fizemos uma viagem ao futuro. Estamos aqui porque estávamos no passado que era nosso presente e quisemos viajar ao seu presente, para nós era futuro que agora também é presente. Íamos ser expulsos. -disse o monge Bernardo…”
No entanto o fulcro do romance é a relação amorosa entre Bernardo e Clara (que nessa viagem ao futuro acabam por casar em 2016 na igreja de Lorvão). Mas voltando aos tempos medievais, tudo começou quando o monge e a jovem aldeã deram o primeiro beijo:
“Nesse momento, Clara não esperou por mais nada e beijou-o. O jovem monge esqueceu-se que era monge e aquele momento configurou-lhe o mundo como uma corrente que corre no leito profundo.”
Mais adiante, encontramos a seguinte passagem:
“- Vou copiar o códice do livro das Aves o mais rápido possível, tenho algo em mente. [diz Bernardo]
– O que tens em mente?- perguntou Clara.
– Direi, mas não hoje. – respondeu e foi para a sua tarefa.
Enquanto isso, os irmãos perguntaram:
-Que relação tens com o jovem monge, Clara?”
Como lidar com tudo isto?
O romance tenta explicar, e prepare-se o leitor para uma leitura mais demorada pois vai encontrar passagens como esta: “Como poderia existir sensorialidade sem materialidade? Para os beneditinos a sensorialidade podia ser o avesso que seria o direito. Noutro sentido, e esta sensibilidade era levada pela transcendência, a fim de ser visto o invisível ou aquilo que está naquilo que o outro não vê, poderia existir sensorialidade sem materialidade ”
O livro tece também longas considerações sobre a regra de S. Bento, aborda Teologia e Filosofia. A dado passo, imagine-se, Clara recebe uma lição de filosofia: “Nem um nem outro responderam e o jovem monge preferiu explicar a Clara o que era a dialética de Pedro Abelardo…”.

NOTA BIOGRÁFICA SOBRE A AUTORA:
Sónia Cristina Ferreira Marques Carvão nasceu em 1964. Oriunda de famílias de Chelo e Foz do Caneiro, nasceu no Rio de Janeiro, sendo filha de Rogélia Ferreira de Sousa e de Nelson das Lapas Marques. Ainda criança regressou do Brasil passando a maior parte da sua infância a adolescência em Chelo. A partir dos 17 anos passou a viver em Coimbra, trabalhando e estudando no Liceu José Falcão. Passado pouco tempo emigrou para Toronto, Canadá, onde trabalhou nos Serviços Portugueses de Turismo e fez estudos na área de Viagens e Turismo. Aos 24 anos regressou a Portugal, fixando-se em Cascais, onde ainda vive. Formou-se em Cosmetologia/Estética e passou a gerir uma empresa por si criada. Posteriormente licenciou-se em Filosofia na Universidade Nova de Lisboa. Fez ainda cursos de Filosofia para Crianças, Inteligência Emocional e Formação Avançada em Ética das Organizações. Com objectivos pedagógicos, escreveu “A Ferramenta que faz os Contos”, obra lançada também no Centro Cultural de Penacova, e ainda “Metodologia da Ferramenta que faz os Contos”. Trabalhou com crianças do 1º ciclo e hoje é professora de Psicologia e de Área de Integração numa Escola Profissional de Comunicação e Imagem, ao nível do ensino secundário. Neste nível de ensino dá explicações de Filosofia. Apoia também alunos do Ensino Superior no domínio da Filosofia.

David Gonçalves de Almeida

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