Luís Pais Amante
Lembro-me de se dizer, antigamente
“Quanto mais conheço o Homem, mais gosto dos cães”?
Pois é! Agora, o que se gosta mesmo mais é do Iphone
Porque ele substituiu, com muita vantagem, o telefone
E a televisão e a tela do cinema, no Verão
Parece um “home”, como se diz no calão
Dorme connosco na mesa de cabeceira
Por vezes, até, se enrola por baixo do edredão
Anda connosco no bolso, na pasta ou na carteira
No carro, no comboio, no avião
!… chama-nos, insistentemente …!
Nos modos de tom que quisermos, mais suave ou estridente
Põe-nos em contacto com o mundo
E chega a comportar-se como qualquer vagabundo
Inconveniente, muitas vezes
Intromitente, também
Transmite alegrias e tristezas
E faz companhia, sem chatear os fregueses
… mas não permite interação
… nem conversação à mesa familiar
… nem visão para além do teclado iluminado
Certo é que sabe tudo (numa certa versão) pelo Dr. Goggle
O tempo que faz hoje e o que vai fazer depois
Quanto já percorreste até aqui e o que falta pra chegar ali
Onde está o melhor sítio pra comer
Ou o local mais em conta pra dormir
Ouve tudo, através da gravação
Envia mensagens
Monta vídeos
Faz fotografias
Comunica em e-mail’s
Recorda-nos as tropelias da vida
E consegue mesmo deixar que se vejam algumas partes
Do desejo e da fantasia
Tem, portanto, muitas funções
É amigo do peito e dos nossos corações
E faz muitos registos e anotações
Provocando ciúmes pela atenção que lhe damos
Pelo tempo que lhe dedicamos
Tudo como acontece com os amigos, ou não?
!… tudo como se passa a tratar da nossa solidão… !
Luís Pais Amante
A filmar um som de saxofone brilhante para mandar aos Amigos.
Poema bastante atual. Gostei imenso
Nada contra o senhor iPhone, mas é um telefone que não me diz muita coisa, como tudo na vida conforme é moderno, também tem as suas limitações. Ganho espaço e fama no mercado tem muitos admiradores.
Que poesia maravilhosa e realista
Bela poesia. De facto um grande telemóvel feito por um grande homem, que acreditou nas suas ideias e hoje pelo mundo vagueia. Parabéns Sir. Luís, pelo tema e ideia.
Muito bom. O final do texto foi a chave de ouro. Abre as portas do não dito.