Num passado nada distante
“Ter galo” queria dizer ter sorte
Era um modo popular de enfatizar os sucessos da vida
Ou, visto ao contrário, as agruras da morte
“Cantar o galo” significa, ainda hoje
Entrar num Ano Novo saudável
Num amanhecer confortável
E, biblicamente falando
É condição para demonstrar a negação do evidente
A sorte e a morte
Não andam juntas muitas vezes
E agora, realmente, só se vêem passar é revezes
Ele é a Saúde que continua doente
Ele é a inflação que tem nível imprudente
Ele é a Educação que não está nada inocente
Ou a comida das crianças, tão líquida, que já não precisa de dente
Se somarmos a isto tudo a guerra
O desnorte na Política cá da terra
Com Ministros a fugir
Outros a empedernir
O Primeiro a fingir
O Presidente a sorrir
… E casos muitos, muitos, muitos …
Constatamos que estamos em tempos complexos
Rodeados de Pessoas que não encontram os nexos
E deixam de verificar todos os pontos, conexos
Onde é que tudo isto vai parar?
Como é que nos vamos safar?
Quem é que nos anda a tentar baralhar?
Tudo nos leva a crer que estamos num País sem norte
Ao qual a negação dá suporte
Que o “galo” já não nos dá sorte
… e que, se calhar, até já tem vergonha de cantar!
Luís Pais Amante
Atordoado com mais notícias que nos chegam de Vinhais.
Nós olhamos para a televisão portuguesa, cá de longe e só conseguimos ver histórias um pouco degradantes.
A realidade do que se vive nestes tempos, aonde há pouco comprometimento, dos elementos do parlamento.
Muito bom uso da poesia para a crítica da actualidade do nosso país. Muitos parabéns
Magnífica crítica da situação política actual, em jeito de poesia.
Por isso, seja-me permitido um pequeno comentário, em tom ligeiro, sem entrar numa análise política pura e dura.
Como diz o povo na sua sabedoria milenar, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.
Claro que isto não é para que nos acomodemos, e baixemos os braços perante as coisas menos boas que nos rodeiam e nos atacam – os revezes, de que fala o Luís Amante – mas sim para que saibamos enfrentar essas dificuldades, esforçando-nos por as ultrapassar e por aprender a criar condições para que elas não possam repetir-se.
Por isso, enquanto sociedade, temos que nos erguer e ir à luta contra o derrotismo e a desesperança que, de forma difusa, mas enredados numa teia comunicacional agressiva e sempre pressente, parecem querer instalar-se por cá, para grande alegria de certas agendas político-partidárias…
Não deixemos que isso aconteça e, quem sabe, talvez o galo volte a cantar vigorosamente para nós!
Realidade de tempos muito difíceis, para o mundo inteiro.