Luís Pais Amante
Ao longo da minha vida tive Professores: na Escola Primária; na preparação para a admissão ao Ensino Preparatório; no Colégio, na Faculdade, no Post Graduação e, também, em especializações profissionais diversas.
Tudo isto se passou há muito tempo.
Mas, posteriormente, acompanhei os estudos dos filhos e, agora dos netos.
À profissão de Professor (independentemente dos níveis de ensino) estão ligados atributos de: preparação contínua; dedicação; afabilidade; disponibilidade; resiliência …e muita, muita paciência!
Ser Professora (ou Professor) era tido por respeito enorme, antigamente. Os Governos viam neles os “challengers” deste País. A Sociedade sabia que, sem eles, nem o conhecimento fluiria, nem as Regiões se nivelariam por cima.
Tinham Estatuto, local fixo -ou fixado- para trabalhar; podiam organizar a sua própria Família e ser Mulheres e Homens realizados. Também tinham remuneração apreciada, que puxava atractividade para a função, que é nobre.
Tenho muitas Amigas e muitos Amigos Professores, em variadíssimas áreas.
E todos me dizem o mesmo: fomos abandonados; ninguém nos respeita!
Ora bem, perguntemos:
– como é que se consegue viver num País que não normaliza a carreira profissional dos seus
Professores?
– que tranquilidade terão mulheres e homens que chegam a andar, semanalmente, 500
quilómetros para trabalhar?
– com quanto fica para si próprio -e para suprir as necessidades da sua Família- alguém que
ganhando pouco, tem de suportar viagens desta natureza e manutenção de duas casas?
– e os filhos deles, a que tipo de vida ficam sujeitos neste filme sinistro?
– subsiste algum tipo de vontade, nestas circunstâncias profissionais?
– quem é que está no mercado de trabalho à espera de vir a ser Professor?
É difícil responder a tais questões, não é?
O que é fácil concluir é que o Ensino (lactu sensu considerado) se vai degradando; que as
Escolas vão ficando -cada vez mais- com horários para preencher, em prejuízo dos Alunos, que é como quem diz do nosso País triste; e que os Psicanalistas vão enchendo, com os
Professores, os seus consultórios.
!… Não era este panorama que se pensou quando se trabalhou para Abril …!
“Paz, pão, habitação, saúde, EDUCAÇÃO”, como nos diz o poema que simbolizou a Revolução,
de Sérgio Godinho.
Que acrescentava: “ Só há liberdade a sério, quando houver LIBERDADE de mudar e decidir…”.
Neste preciso momento,
Os Professores surgem unidos, fortes, com sentido de classe e fartos de serem enganados por todos. Manifestam-se e acampam-se em frente ao Ministério que era suposto defendê-los, por ser essa, também, a sua função.
Não vai correr bem para o lado de uma fantasia chamada Governo; não vai correr bem para os Pais, que não tendo, nunca, demonstrado solidariedade para com aqueles que “tomam conta” dos seus filhos, vão ter que começar a pensar que precisam mesmo desta gente paciente.
E pode ser que venha a ter-se respeito pelos nossos Professores…
Assim eles próprios não desistam de lutar, uma vez que é válida a ideia de que se não formos nós próprios a fazer por nós, ninguém fará!
Pois é verdade Dr. Luís sei que estão muitos Professores a pedir a reforma por já não aguentarem mais.
Caros Leitores do PenacovaActual
Tomei conhecimento que um Professor nosso conterrâneo, Amigo de nós todos, fazedor de cultura, e Homem de enorme aprumo ético, se reformou…
Não levem a mal, pf, que dedique este meu artigo ao Senhor Professor David G. Almeida, que me habituei a respeitar muito para além do que lhe consigo exprimir.
VAMOS tê-lo na reforma activa e no Clube dos Avós Babados.
Abraço grande, Professor
Eis um tema bem convidativo e actual que, infelizmente, se arrasta há muito tempo.
Tal como ao Luís Amante, também a mim vários professores marcaram ao longo do percurso académico, a começar pela saudosa D. Inocência, na instrução primária. Além de que, também ao nível familiar e de relações sociais, ao longo dos anos sempre convivi com professores(as) dos diversos graus de ensino.
Acompanhei o progressivo desencanto que começaram a sentir pelo crescente desvalorizar do seu estatuto profissional e pessoal, a começar pelo inenarrável sistema de colocações que os espalha pelo país, quais meros peões abstratos de um qualquer jogo de tabuleiro, ao sabor dum sistema informático cuja programação e opções deixam muito a desejar. “É o algoritmo”, como agora está na moda dizer-se para justificar o injustificável e salvaguardar responsabilidades…
Para mais, muitas vezes aturando recorrentes situações graves de indisciplina durante as aulas, vivenciando inqualificáveis situações de violência física pessoal por parte dos alunos e dos respectivos encarregados de educação e vivendo um cinzento e angustioso viver, estou em crer que muitos(as) deles(as) só com grande esforço e amor à profissão é que não perderam a motivação.
Portanto, nem sequer é preciso falar “eduquês” para ter a percepção da gravidade da actual situação dos professores portugueses.
Erros têm sido muitos, por parte dos sucessivos governos, mas também por parte das estruturas sindicais, não sendo exagero dizer que há um certo senhor dirigente sindical – há tantos anos sindicalista profissional que já nem deve saber o que é ser professor… – que, ao longo dos anos, mais parece ser quem, na prática, estabelece (ou tenta estabelecer…) as políticas do sector.
Pessoa que muito se congratulava, e congratula, com a extensão dos estragos causados pelas greves ás actividades lectivas, proclamando diariamente, com evidente entusiasmo e ênfase, em directos televisivos, o número de alunos sem aulas nesse dia. Como se alunos sem aulas, fossem motivo de congratulação!…
Ora se como diz o Sérgio Godinho: “Só há liberdade a sério, quando houver LIBERDADE de mudar e decidir…”; então convém não esquecer que só teremos essa liberdade de mudar e decidir se estivermos apetrechados com conhecimentos (competências, como agora se diz), ou seja, se o Ensino funcionar transmitindo-nos esses conhecimentos/competências.
Mas o ensino só funciona se os professores funcionarem, de corpo e alma, empenhadamente.
E para isso, há que os apoiar, dignificar e valorizar. Custa assim tanto a perceber?
Li o artigo com muita atenção e, no fim, fiquei com profunda convicção de que o futuro no nosso País está cada vez mais ameaçado a menos que haja o bom senso de quem governa de tomar urgentes e eficazes medidas para reverter a actual situação dos professores.
O excelente artigo do amigo Luís Amante é suficientemente elucidativo para quem possa e queira contribuir para solucionar o problema actual do ensino em Portugal.
Muito obrigado estimado Amigo Luís, pela dedicatória que muito me honra e pelo artigo em defesa dos professores. Foram de facto 42 anos ao serviço da Educação, em várias vertentes, vivenciando, quer pessoalmente, quer junto de tantos colegas e demais elementos da comunidades educativa, os problemas que se foram agudizando e nos conduziram à actual situação.
Que “voz nunca lhe doa “nesta defesa da justiça social, dos valores, dos direitos e dos deveres, com que, há cerca de 50 anos, os portugueses sonharam. Continue a escrever (em prosa, em verso) porque temos falta em Penacova (e no nosso Portugal) de vozes como a do meu Amigo.
Reforma activa…assim o espero e desejo a todos os que se encontram nesta fase da vida. Se for junto de netinhos que nos derretem com ternuras, tanto melhor!
Grande abraço deste seu admirador e amigo
David Almeida
É uma situação que deve ser revista não há profissão que não passa pelo professor, deve haver mas respeito e valorização por essa profissão, pois a escola é a base do futuro profissional, graças a grande dedicação dos professores.
Um oportuno comentário sobre a actual situação dos professores neste país. Dou graças a Deus por ter uma filha professora, há mais de treze anos a leccionar no estrangeiro. A triste acção de sucessivos governos tem empurrado os jovens para a emigração, quando tanta falta fazem ao País que os viu nascer.
Abraço
Não sou professora mas contacto com professores de várias escolas, com muita regularidade. Hoje a tarefa dos professores é de uma enorme exigência. As escolas lidam todos os dias com situações muito complicadas a nível disciplinar, de desrespeito pelo trabalho de toda a comunidade educativa.Temos crianças com problemas socio- emocionais muito sérios que afetam toda a dinâmica escolar colocando muitos desafios aos professores. A Escola, no que respeita às exigências curriculares não mudou muito nos últimos anos, mas a sociedade mudou, é necessário um olhar muito sério sobre a Escola sob pena de se pagar um preço muito alto futuramente.
Realmente é triste ver como os professores sao tratados hoje em dia. Uma profissão que deveria ser mais valorizada e nao o é.
É muito infeliz ver o ponto a que chegamos
Este artigo do Luís reflecte o desânimo profundo da generalidade do grupo profissional dos Professores, que tem sido abandonado pela máquina do sistema de ensino.
Infelizmente perdeu-se o foco no lema “ensinar aprendendo e aprender ensinando” sobretudo pela exigência abusiva das tarefas burocráticas em que a nossa Escola se transformou.
Evidentemente as questões de carreira e retributivas (em todos os níveis do Ensino, também se evidenciam, agora.