Para assinalar o Dia Internacional da Doação de Livros, a Biblioteca Municipal de Penacova lança o desafio a todos(as) que tenham em casa livros de que já não precisam, convidando-os(as) entregá-los junto da receção a fim de lhes dar utilidade pública.
O Dia Internacional da Doação de Livros nasceu no Reino Unido com o objetivo inicial de motivar a comunidade a oferecer livros a crianças oriundas de famílias desfavorecidas. Ao longo dos anos, países de todo o Mundo têm aderido à iniciativa e acrescentado outras formas de celebrar a leitura.
Estudo de 2022 revela que mais de metade da população portuguesa não lê livros
Um inquérito do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em fevereiro de 2022 revelou que, nos últimos 12 meses anteriores à recolha de respostas, 61% dos portugueses não leram um único livro em papel, e, dos 39% que afirmavam ter lido, a maioria leu pouco.
Mais de metade dos portugueses não lê livros, uma realidade que está fortemente associada à educação, já que muitos não têm memória de os pais alguma vez os terem levado a uma livraria ou lhes terem oferecido um livro.
As conclusões constam de um inquérito às práticas culturais dos portugueses, realizado nos últimos meses de 2020 pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), e apresentado esta quarta-feira na capital.
Trata-se da primeira vez que é feito em Portugal “um amplo levantamento à escala nacional das práticas culturais dos portugueses em vários domínios da cultura”, destacou o administrador da FCG, Guilherme de Oliveira Martins, afirmando que este estudo nasceu precisamente da necessidade de conhecer esta realidade, da necessidade de ter um “ponto de partida”.
No que respeita aos hábitos de leitura, o inquérito revelou que, nos últimos 12 meses anteriores ao inquérito, 61% dos portugueses não leram um único livro em papel, e, dos 39% que afirmavam ter lido, a maioria leu pouco.
Quando questionados sobre a leitura de livros digitais, a percentagem desce ainda mais, com apenas um em cada dez inquiridos a responder que leu nesse suporte.
Segundo o estudo, o universo de quem leu constitui-se maioritariamente por pequenos leitores (27%, que leram entre um e cinco livros impressos), seguidos de médios leitores (7%, que leram entre 6 e 20 livros) e grandes leitores (apenas 1% leu mais do que 20 livros num ano).
A mesma relação se encontra entre a população leitora de livros digitais: 5% de pequenos leitores, 1% de médios leitores e 0% de grandes leitores.
Estes dados revelam uma descida nos hábitos de leitura face a 2007, de acordo com o “Inquérito à Leitura” realizado nesse ano, que registava uma percentagem de 55% de leitores de livros impressos.
Contudo, o “Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses 2020” chama a atenção para o facto de aquele estudo ter excluído as regiões autónomas, de a amostragem ter sido diferente e de o formato da pergunta de aferição dos leitores de livros impressos também ter sido distinto. Em contrapartida, o “Inquérito à Ocupação do Tempo”, realizado em 1999 pelo Instituto Nacional de Estatística, “indicava apenas 31% de leitores de livros em papel”.
As conclusões do presente estudo apontam igualmente para a existência de uma relação entre a educação e os hábitos de leitura, já que, na sua infância e adolescência, a maioria dos inquiridos não beneficiou de estímulos à leitura gerados em contexto familiar.
De acordo com os dados divulgados, a grande maioria dos inquiridos assume que os pais nunca os levaram a uma livraria (71%), a uma feira do livro (75%) ou a uma biblioteca (77%).
Por outro lado, 47% assumem que os pais nunca lhes ofereceram um livro e 54% afirmam que nunca lhes leram um livro de histórias.
No entanto, os mais jovens e aqueles cujos pais têm ou tinham qualificações académicas superiores reconhecem mais frequentemente esse apoio familiar, “dados que denunciam a persistência de assimetrias sociais na criação de hábitos de leitura, mas também sinalizam uma mudança”: “a democratização do acesso à educação potencia ganhos culturais nas gerações sucessoras”.
Um dos coordenadores do estudo, o investigador José Machado Pais, destaca a este propósito que “as práticas culturais se associam bastante às práticas de leitura”, ou seja, um leitor de livros tem uma maior propensão a desenvolver outras práticas culturais, “de onde todos os investimentos feitos na sensibilização, no interesse pela leitura, como o Plano Nacional de Leitura são bem vindos”.
“Todas as iniciativas tomadas em contexto escolar, familiar, associativo, nos media, todos são muito bem-vindos, porque fomentar o interesse pela leitura significa fomentar o interesse pela cultura em lato senso”, sublinhou.
Ainda sobre o papel da escola (com as visitas de estudo e os programas de incentivo à leitura, por exemplo), o responsável assinalou a sua relevância em contextos em que os jovens não beneficiam de socializações de âmbito cultural em contexto familiar.
Quanto às idades, é entre os mais jovens que se encontram maiores hábitos de leitura de livros impressos: 44% tinham entre 15 e 24 anos, 46% tinham entre os 25 e os 34 anos, 44% entre 35 e 44 anos, 33% andavam na casa dos 45-54 anos, 31% tinham de 55 a 64 anos, e 22% tinham 65 ou mais.
Proporção semelhante foi encontrada entre leitores de livros digitais, embora com índices muito inferiores, que oscilaram entre 17% e 1%.
Avaliando a relação entre as práticas de leitura e o grau de ensino são tanto maiores quanto o nível de escolaridade, atingindo os 68% entre os inquiridos com o ensino superior.
No que respeita às motivações de leitura, 68% dos inquiridos afirmam ler livros “por prazer”, uma percentagem que se eleva entre os mais idosos e os de mais baixa instrução, já que “os que menos prazer retiram da leitura (43%) são os jovens dos 15 aos 24 anos, precisamente os que mais leem para estudar ou realizar trabalhos escolares (45%)”.