David Gonçalves de Almeida
O livro “(Farinha Podre) S. Pedro de Alva. Figuras e Factos para a sua História”, integra-se no vasto conjunto de obras publicadas por Alfredo Fonseca, quer sobre aquela freguesia e a sua experiência como autarca, quer sobre as vivências marcantes na Guerra do Ultramar. Mais especificamente sobre S. Pedro de Alva, escreveu também “Os Sampedralvenses da Diáspora” (2012), “Divagação sobre a Génese das Nossas Gentes” (2015), “Memórias Imperfeitas de um Ex-Autarca” (2016) e “Casa do Povo de S. Pedro de Alva” (2018). Tendo como temática a sua experiência de vida como militar, como autarca, como empresário, publicou “Memórias do Sofrimento na Guerra de Moçambique” (2001); “Pegadas dos Meus Pés” (2006); “História do Batalhão de Artilharia 1885” (2010), “Episódios na Guerra do Ultramar (Moçambique) II” (2022) e “Tarde é o que Nunca se Faz” (2022). Se bem contarmos são dez títulos. É obra!
“(Farinha Podre) S. Pedro de Alva. Figuras e Factos para a sua História” tem como fontes principais as actas da Junta de Freguesia entre 1864 e 2009. Predomina a transcrição daquelas que apresentam conteúdo mais significativo intercalada por alguns comentários do autor.
O livro inicia-se com a temática da extinção do concelho de Farinha Podre (1836 – 1853). São transcritas diversas petições de órgãos locais no sentido da revogação daquela decisão. Segue-se uma acta de de 5 de Janeiro de 1864 onde se destaca a necessidade de nomear uma Comissão Promotora da Instrução Popular. Até 1871 será o tema da Instrução Pública e a construção de uma Escola que preencherá as primeiras páginas do livro. Quanto às actas da Junta a primeira citada é a de 2 de janeiro de 1874. O livro mais antigo existente é desse ano. Alfredo Fonseca lamenta esse facto, não se compreendendo o que terá sido feito de documentação anterior. Também existe um hiato entre 1923 e 1937, tendo os livros de actas desaparecido.
O Prefácio é assinado por Luís Lopes Adelino, à época presidente da Junta de Freguesia. No seu texto de uma página salienta que em muitos destes dados “pulsam os corações, espelham-se rostos, simboliza-se a luta, sabe-se do depoimento de de vários passos dados pelos concidadãos que fizeram vida nesta terra e lhe deram a figura digna que hoje tem” e faz questão de exarar “um sincero obrigado ao autor que em muito contribuiu nas últimas décadas, para manter a originalidade e identidade das gentes do alto concelho.”
Na Introdução, Alfredo Fonseca reconhece que “a vida de um cidadão é efémera”, pelo que “descrevê-la é um dever de todo o ser humano, porque só assim se saberá na posteridade quem foram essas pedras ancestrais”. Inevitavelmente, essas “figuras cairão no esquecimento e as suas memórias passarão sem deixar rasto, como uma cortiça na corrente de um rio”.
Consciente de tudo isso e no sentido de dar o seu contributo “para o enriquecimento da história desta freguesia de São Pedro de Alva e região “ propõe-se “dar início a uma cronologia ou síntese simples e modesta, assente na verdade, dado que para mim isso é o mais importante.”
O autor não se conforma com a extinção do concelho. Nesta obra ressalta o sentimento de que nem tudo foi feito nesse “fatídico” ano de 1853 e nos que se seguiram, no sentido de anular a decisão de extinguir um concelho que, apesar de contar com uma experiência de apenas 17 anos, se afirmava na região com potencialidades muito superiores, por exemplo, ao concelho de Tábua. Inconformismo que leva Alfredo Fonseca a dizer: “Maldito seja quem tais medidas tomou e que a terra lhe seja tão pesada em cima, como o peso do monumento a Cristo Rei, no alto de Almada, ou o Mosteiro dos Jerónimos em Belém”.
Como já referido, nas primeiras páginas do livro são apresentados curiosos documentos relativos ao descontentamento das populações e dos poderes públicos após a extinção, transcrevendo um conjunto de petições dirigidas ao Rei e à Câmara dos Deputados. O autor passa de seguida a citar, por vezes com grande pormenor, actas das sessões da Junta de Paróquia e Junta de Freguesia percorrendo os momentos mais marcantes ocorridos entre esses tempos e os nossos dias. Ficam, assim, acessíveis a muito mais pessoas, os documentos que atestam as atribulações, mas também os sucessos desta localidade que entretanto recuperou o título de vila.
NOTA SOBRE O AUTOR
Alfredo dos Santos Fonseca nasceu na freguesia de S. Paio do Mondego (à época, S. Paio de Farinha Podre) no dia 30 de Maio de 1944. Frequentou o Ensino Primário nas Escolas das Ermidas e da Atouguia. Feita a 4ª classe e o Exame de Admissão ao Liceu, não teve, como tantos jovens desse tempo, possibilidade de prosseguir estudos. Aprendeu a arte de alfaiataria, mas no dia 27 de Abril de 1966 partiu para a Guerra do Ultramar. Regressou no dia de Santo António de 1968, casou em S. Pedro de Alva e aí tem vivido até ao presente. Foi agente da “Singer”, correspondente de diversos Bancos, representante da Esso Gás e igualmente de cinco Companhias de Seguros.
Aos 27 anos passou a exercer o cargo de Secretário da Junta de Freguesia. Estávamos em 1972. Daí, até 2001, cumpriu 3 mandatos como Secretário, 3 como Presidente e 1 como Presidente da Assembleia de Freguesia. Depois de deixar a vida autárquica assumiu a Direcção da Casa do Povo. A par de toda esta actividade conseguiu conciliar a sua vida de comerciante na área do mobiliário e electrodomésticos, revelando o seu grande espírito empreendedor.
Agora aposentado, dedica-se à família, aos amigos e à escrita, onde desde sempre se revelou como grande comunicador, crítico e interventivo, quer nos seus livros, quer, na imprensa local e regional.
FICHA BIBLIOGRÁFICA / BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL
(Farinha podre) S. Pedro de Alva : figuras e factos para a sua história / Alfredo Fonseca. – [S.l.] : Alfredo Fonseca, 2011. – 256 p. : il. ; 23 cm
Link : http://id.bnportugal.gov.pt/bib/bibnacional/2006421