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David Gonçalves de Almeida

O Penedo da Cheira, hoje conhecido como Penedo do Castro, também já se chamou Penedo do Cambo e, mesmo até, Cabeço do Alarde.

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Penedo do Castro, não porque aí (que se saiba) tenha existido alguma construção pré-histórica, mas porque esta designação homenageia Augusto Mendes Simões de Castro; Penedo da Cheira, não por se situar junto à povoação da Cheira, mas porque, pelo contrário, terá sido o Penedo “da Cheira” a dar o nome à localidade; Penedo do Cambo porque teria a ver com o dispositivo aí existente em tempos recuados para envio de sinais de fumo ou de fogo1; Cabeço do Alarde, designação referida nas “Memórias Paroquiais” (1758) que estaria relacionada com a existência de alguma guarnição militar2 ou, por outro lado, acrescentamos nós, local onde se faziam as “pulhas” ou “passajolas”.

Penedo do Cambo: o termo “cambo” poderá significar um pau ou peça comprida, por vezes com um gancho na ponta. Ora, refere Luís Miguel Real, “não raras vezes, o facho possuía um braço comprido e dobrado na ponta, para dependurar a respectiva gaiola ou caldeirinha. (…) Em Portugal, ainda se conservam algumas gaiolas em ferro que ficavam penduradas no mastro dos fachos, para exibir os sinais de fogo.”

De acordo com aquele investigador da Universidade Nova de Lisboa, em artigo recente na revista “Medievalista”, o Penedo da Cheira teria sido, na Idade Média, um ponto estratégico de observação e comunicação inter-regional. Comunicação que era conseguida, quando a longas distâncias, através de mensagens visuais tendo como base uma fonte incandescente, uma fogueira ou uma caldeira, que naturalmente, exalaria algum cheiro que ia atingir as narinas mais sensíveis das populações da vizinhança. Assim, o topónimo “Cheira” terá surgido com a função de “facho”, termo que deriva do latim “flagare”, originalmente com o significado de “arder”, mas que no latim vulgar terá derivado também para “exalar odor”, isto é, “dar cheiro”. Luís Miguel Real entende que este topónimo “Penedo da Cheira” é análogo a um outro ponto estratégico de emissão de sinais luminosos ou de fumo, o “Cabeço da Chama”, na Serra do Açor.

A que cheirava então a Cheira?

Provavelmente, a lenha, palha3 e, quem sabe, a qualquer outra substância que, sendo facilitadora da combustão, seria pouco agradável ao olfacto de quem vivia por perto. Conjecturas?

Seja como for, este estudo4 de Luís Miguel Real (a par de outros, por exemplo sobre a Torre de Miranda” / Castelo de Penacova) faz todo o sentido e introduz novos elementos a ter em consideração quando se investigam as origens de Penacova e as suas relações com o Mosteiro de Lorvão.


[1] De acordo com Luís Miguel Real in Revista Medievalista, no 32, 2022, que cita, a este propósito o livro de J. Leitão Couto e David Almeida “Patrimónios de Penacova”.
[2] Idem, ibidem
[3] Refere L.M. Real: “É uma solução já utilizada pelos romanos e que vem representada na célebre Coluna de Trajano. (…) aolado da torre de sinais, aparecem medas de palha e uma pilha de toros de madeira, os combustíveis necessários para realizar mensagens por fumo ou fogo, conforme as circunstâncias.”
[4] Artigo intitulado “A presúria de “Uilla Coua” e as origens do Mosteiro de Lorvão: os documentos 19 e 47 do Liber Testamentorum e o contributo da arqueologia”

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