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Maria Helena Marques

Neste dia em que se celebra o “Dia do Pai, 19 de Março, dia de São José, venho lembrar, com respeito e saudade, meu Pai e meu sogro. Qualquer deles homens impolutos, dignos exemplares do mundo humano.

Cada um deles usou, como ferramenta de trabalho no dia a dia, uma “pena”.

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Meu Pai, professor Joaquim de Oliveira Marques, natural deste Concelho, além de ser “mestre escola “, teve a seu cargo, simultaneamente, a Delegação Escolar que fazia ponte entre todas as Escolas do nosso Concelho e a Direção Escolar de Coimbra que ele ,aqui representava. Esse cargo deu-lhe imenso trabalho e um horário pleno que ele cumpriu escrupulosamente com dedicação, competência e, direi mesmo com sacrifício, que o foi para ele e para a família mais chegado. Teve até ajuda de colegas, tais como o Professor Pimentel (Penacova) o Professor Vítor de Lorvão e Joaquim Luís (Figueira de Lorvão). Exerceu esse cargo durante 32 anos.

Por ter veia de escritor, homem culto e sábio, mas humilde, desde os anos 30, ainda ele era estudante, já era articulista no Notícias de Penacova cujo Diretor a essa data, era José de Gouveia Leitão. A rubrica que meu Pai assinava era a “Nota da Semana” e outras que ele assinava como O.M. e também Zito e Z.

Já nos anos 40 – Fevereiro de 1943 foi nomeado Diretor do mesmo, cargo que exerceu até pouco antes do seu falecimento que ocorreu em 1976.

Sua “ferramenta mor “foi, pois, a “pena” / caneta que ele soube usar com mérito, isenção e muito espírito de sacrifício, pois as horas que podiam ser de merecido repouso eram aplicadas na organização do Jornal que era um semanário.

Terei que salientar que, como Pai, soube muito bem usar a sua “pena” para se dirigir por carta às suas filhas que estudavam longe da casa mãe. e as orientava e expressava, junto com minha Mãe, o seu Amor –

Mas falemos agora do Pai / sogro, alentejano de gema, António Rodrigo Chibeles da Mata que honrou o seu trabalho, usando a “pena” que, desta vez era a enxada.

Desde o Alentejo, – Alcáçovas até ao Concelho de Penacova, inclusive, muitas tarefas agro/pecuárias exerceu, cumprindo-as com esmero, eficácia e honradez.

Tinha um sentido de justiça muito apurado e, por isso, soube denunciar e lutar pelos seus direitos e de seus pares. O trabalhador agrícola tem sido sempre o “parente pobre ” da sociedade que esquece e até ignora o valioso contributo do seu trabalho para que cheguem os alimentos à nossa mesa…

Mas, melhor que ser eu a descrever vou deixar que seja ele a descrever a vida do agricultor. São quadras que lhe ouvi repetir de cor, muita vez e com a emoção de quem a viveu:

Eu trabalho sem medida
À chuva, frio e calor
Há tanta gente perdida
Ninguém lhe dá o valor

Eu começava a trabalhar
Assim que começava a ver
Acreditem podem crer
Que eu estou farto de penar…

Eu queria explicar
Como dantes se vivia
Quase ninguém sabia
Fugir à escravidão
E, para ganhar o meu pão
Trabalhava noite e dia!

Eu tenho uma enxada
Que era do meu avô
Foi só o que me ficou
E até ficou encabada
Não me deixou mais nada
E tem-me dado tanta dor !…

É a “pena” (caneta) do cavador
E ´não precisa de tinteiro
Com ela ganhei dinheiro
À chuva, ao frio, ao calor…

O Trabalho do campo é duro
E é muito ignorado
Já me sinto enfadado
Há muitos anos que o aturo.
Sempre com pouco futuro..
P´ró resto da minha vida..

Eu nasci p´ra agricultura
Foi infeliz a minha sina
Muita gente não imagina
Esta vida não se atura !…

Faz sempre ruim figura
Ao pé de qualquer senhor
Mas o verdadeiro agricultor
É quem faz a sementeira
É quem limpa o pó da eira
Ninguém lhe dá o valor!…

Mais palavras para quê?
Simplesmente me curvo e lhes tiro o chapéu.

Maria Helena Marques

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