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David Gonçalves de Almeida

Este livro representa o culminar de um trabalho de pesquisa sobre a aldeia de Agrêlo, levado a cabo por Vera Fernandes e publicado em 2005. Apesar de se tratar de uma edição “familiar”, de autor, esta brochura, de 51 páginas impressas, é um documento importante para a história deste lugar pertencente à freguesia de Figueira de Lorvão.

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Agrêlo orgulha-se de ter tido um Foral. Refere a autora que, apesar de “votado ao esquecimento “, é inegável” a sua atribuição, “embora sejam escassas as referências ao mesmo. O “Foral de Agrêlo”, datado de 14 de Setembro de 1265 foi concedido por D. Afonso III.

O livro apresenta “indicações sobre a origem do povoado e acerca da evolução dos nomes das diversas áreas que o constituem”. Entende a autora que também “não podia deixar de mencionar a situação actual da aldeia, com referência às principais mudanças ocorridas até ao presente”.

Vejamos o índice:

– Introdução
– Agrêlo, uma aldeia com história
– O contexto histórico da atribuição do Foral a Agrêlo por D. Afonso III
– Os nomes de ruas e de áreas rurais mais antigas de Agrêlo
– A capela de Agrêlo
– As antigas profissões e actividades artesanais em Agrêlo
– Os espaços comunitários de Agrêlo
– Os recantos de Agrêlo
– O Rancho Folclórico Rosinhas de Agrêlo
– As outras curiosidades sobre Agrêlo
– Bibliografia consultada
– Anexo de imagens de Agrêlo
– Agradecimentos

O topónimo “Agrêlo” tem origem latina (agrellum) significando “pequeno campo”. Os termos “agra”, “agrícola”, vêm dessa palavra. D. Afonso III “terá ficado de tal modo encantado com a beleza da paisagem natural, com a fertilidade dos campos e com a abundância de águas, que pretendeu fixar cá a população, concedendo-lhe regalias, como a diminuição de tributos.”

A brochura contempla, entre muitos outros dados, os nomes  “curiosos e antigos”  de ruas e de áreas rurais: Rua da Sibana, Rua da Arrigueira, Rua da Malhada, Rua do Ameal, Fonte da Fome, Fonte da Rua d’ Além…Chão do Caniço, Atafona, Pensal, Vinha do Capitão, Funtão, Cabeça Gorda, Vale da Folosa, Zorro, Vale de Cavalo…

Em Vale de Cavalo se situam as antigas minas de galena (minério de cor cinzento-azulada que tem na sua composição chumbo e prata), hoje completamente abandonadas.  Muito antigas e envoltas em mistério, estas minas deram origem a várias lendas, que por exemplo, se encontram mencionadas em antigas Corografias de Portugal. 

O livro regista igualmente as antigas profissões e actividades artesanais, típicas das comunidades que se baseavam na agricultura, na pastorícia e na silvicultura: agricultor, pastor, moleiro, ferreiro, cardador, serrador, carpinteiro, ferrador, latoeiro, paliteira… Ficamos ainda a saber que todos os dias, os moleiros se dirigiam, “com os seus burros, para as azenhas ou moinhos de água, que hoje [em 2005] se encontram em ruínas, ou para moinhos de vento, de que hoje só resta um em Agrêlo, mas que felizmente ainda está bem conservado.”

Consegue-se imaginar o fervilhar da aldeia à volta dos moinhos de vento e das azenhas, dos lagares de azeite, dos alambiques, no cultivo dos campos, na guarda dos rebanhos, nas pequenas oficinas, na manufactura de palitos.

Falta referir um aspecto importante: o livro inclui um número razoável de fotografias que, mesmo não sendo a cores, complementam e enriquecem estes apontamentos sobre a aldeia. Podemos observar as seguintes imagens: 1-“Portões da Arrigueira”, junto ao Chão do Caniço”, onde terá começado a povoação de Agrelo. 2 – Casa de eira no “Chão de Caniço”. 3 – Casa de eira denominada de “Casa do ti Duarte”, construida em 1901; 4 – O moinho de vento de Agrêlo; 5 – Uma casa de xisto na “Rua da Sibana”; 6 – Uma casa de xisto na “Rua do Moinho”; 7 – A clarabóia de “Vale de Cavalo”; 8 – A entrada da mina de “Vale de Cavalo”; 9 – O “peso” do engenho de prensar os cachos de uvas; 10 – Uma pedra do “tanque” e o “escorredouro” do mesmo engenho de prensar os cachos de uvas, junto ao “Carreiro do Loureiro”; 11 – A Capela de Agrêlo; 12 – As “alminhas” que dão nome ao largo; 13 – Uma tradicional casa de xisto com um balcão, na “Rua da Fonte” (a antiga casa do “Padre Tamancas”; 14 – A Escola Primária de Agrêlo.

Alerta Vera Fernandes que “como qualquer trabalho relativo a factos históricos, esta recolha é passível de ser aperfeiçoada ou alterada, ao surgirem novos dados que lancem uma outra visão sobre os acontecimentos”. Fica também uma aspiração e um apelo: “Que da leitura deste trabalho […] resulte uma nova maneira de olhar cada pequeno detalhe, para cada gesto tradicional, para cada ruela de Agrêlo, para cada rosto cansado que tem sempre alguma história para contar”, um “novo olhar” sobre esta terra “que é um pequeno universo de história e de histórias.” E acrescenta: “Fica o apelo à conservação do que ainda resta de mais antigo e genuíno e o convite a uma viagem pela história de Agrêlo.”

Notas sobre a autora

Vera Mónica Carvalho Fernandes, é natural de Coimbra, onde nasceu a 24 de Março de 1977. Os avós maternos viviam em Agrêlo: o avô Amilcar era natural de Coimbra com ascendência em Vilarinho (Eiras) e a avó Zulmira era natural da terra onde vivia. Os  avós paternos, Silvério e Armanda, viviam em Palmazes (Sazes), e tinham raízes em Midões, da mesma freguesia.

Fez o ensino primário na Escola de Agrêlo e do 5º ao 12º anos frequentou a Escola C+S de Penacova. Formou-se  em Direito na Universidade de Coimbra. É jurista de profissão, trabalhando, nessa área, para o Instituto Nacional de Habitação (INH) e para o Gabinete de Inserção Profissional (GIP).

Sempre gostou de História e em particular da “História da nossa bela região e do concelho de Penacova.” Esta “singela monografia” – assim a classifica – sobre a terra que “a viu crescer“ foi “reunida e divulgada um ano após a morte do seu pai” e pretende ser uma homenagem póstuma, a quem “deve o incentivo para a escrever e o apoio nas recolhas e pesquisas.”

Confidenciou-nos que continua a escrever “sobre a História, os usos, a sabedoria popular e até sobre a natureza do nosso concelho”, mas, conforme nos referiu, falta-lhe “o tempo para partilhar com mais interessados esses tão simples textos”, que “para já são apenas para uso familiar.”

 

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