Luís Pais Amante
Percorro a pé a Rua Principal
Da minha terra, Penacova
(Sede de concelho na Beira Litoral)
À noite
Nas vésperas da Páscoa
Com ovos poucos no folar
Os meus passos sincopados
Não estão numa eira de quintal
Nem eu estou de saltos altos, afinal
Mas ecoam, ecoam
E batem
No silêncio da quietude, sem gente
Neste pedaço de mundo, profundo
Não se sussurra, não se fala
Não se olha, nem se vê
Ninguém está lá à janela
Como estava antigamente
Nenhum namora com Ela
Que já lá não está, sorridente
E o choro da criança?
Ou a discussão do casal sobre a poupança?
Não há!
Só enxergo o colorido da luz fosca
Que se mistura na tosca penumbra
Do espaço
Onde não está qualquer mosca
Sequer
O quadro que se me oferece
Rasga-me o coração
Pungente
O cérebro habitua-se ao silêncio
Magica, pensa, magica, pára
… E pergunta-me simplesmente: – porquê poeta?
Luís Pais Amante
Casa Azul
A propósito da fotografia (bela) registada pela lente hábil do meu sobrinho João Amante.
Este poema e a fotografia do Sobrinho João fazem um conjunto extraordinário.
Parabéns.
Bela poesia a fazer o retrato da realidade do interior do nosso país.
Excelente poema de Luís Amante! Diz-nos muito, hoje, daquilo que muitos não conheceram! PENACOVA … …
Na verdade, que diferença de quando era criança, havia mais convivência.
Lindo poema !!! Fica o consolo que o ruído dos passos do poeta a caminhar pela Rua Principal ocupa seu espaço e quebra o silêncio.
Que belas palavras. Um poema espetacular.
Em plena semana de Páscoa o meu querido amigo Dr. Luís consegue tirar um
COELHO da cartola.
Ser poeta é isto, de uma fotografia consegue fazer um relato poético da sua amada Penacova.
Linda foto e lindo poema. A foto do neto e o poema do avô, que forma linda de representar a Páscoa, a partilha dos olhares afetuosos com a família. Este poema trasmite o contraste entre a desertificação do espaço exterior, a rua deserta, e a imensa riqueza o “povoamento” da vivência interior, repleta de ecos de um passado que nos transmite bonitas lembranças, afetos genuínos. No nosso país, tantas aldeias lindas, que estão ao abandono o que nos entristece tanto, sobretudo a quem cresceu povoando essas ruas, enchendo – as de sons e aprendendo todos os dias com quem seu espaço partilhou. Fica a esperança que as novas gerações possam apropriar- se destas aldeias cheias de história e reinventa- las.
Um belo poema onde palpita a nostalgia do passado. Grande abraço e Santa Páscoa para todos vós.
Este meu poema (inspirado nesta bela fotografia do meu sobrinho João) é a transmissão de uma constatação: Penacova tem sido maltratada por nós todos! e é,também, um apelo aos que ainda pensem, como eu, que a situação é resoluvel, mas com muita união: mãos à obra.
A magia do poeta que num contraste tirou da cartola memórias de um passado rico, que hoje contracena com um presente sombrio. De certo que estas ruas tiveram muitas alegrias e encheram de felicidades muitas famílias. Ainda acredito que terão momentos auspiciosos, se tal não fosse o poeta aqui não o descreveria. Bem haja, kamba diame Luís.
A magia das palavras bem combinado, parabéns pelo lindo poema.