Saudade Lopes
Na envolvência do acolhimento dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude, e entre várias iniciativas da decoração no espaço, destacava-se uma faixa de pano branco pendurado na rua principal de Penacova, com letras bem visíveis “Há pressa no ar”.
Fiquei pensativa e interroguei-me qual o significado deste slogan, talvez pudesse destacar a pressa que temos em querer fazer muitas coisas e deixarmos o essencial; a pressa que temos para sermos os maiores, sendo que, afinal, ninguém é maior do que ninguém; a pressa que temos em passar por cima do outro, quando não gostamos que ninguém passe em cima de nós; tantas pressas me ocorreram, que mergulhei na realidade que estava ali acontecer.
Chegou um carro dos nossos Bombeiros, sem pressa, a transportar a singela Cruz de Madeira, que já percorreu quase uma centena de países em diversos transportes, desde avião, barcos, gruas, tratores, trenós e em braços humanos, parou solenemente junto daqueles jovens, que cantavam o hino das jornadas orientados pelas suas catequistas, ansiosos por aquele momento. Tal como estes, foram e são milhares de jovens que esperam e se preparam para acolher o Santo Padre iniciando as Jornadas desta forma.
Ao retirarem a cruz do carro e transportarem a mesma até à Igreja, observei o brilho nos seus olhos e, enquanto a carregavam naquela pequena procissão, fiquei a pensar nos milhares de ombros que já a carregaram e quanto significado tem tido este símbolo na sua vida, na sua família, no seu país, no mundo, jovens convertidos à paz e ao amor pelo próximo, jovens atentos e sem pressa…
E foi desta forma que, no passado sábado, todas as paróquias do Concelho de Penacova vivenciaram momentos emotivos únicos, as Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal não voltaram a pisar chão Nacional nas próximas décadas, centenas ou nunca mais. As pessoas que acompanharam este percurso ou aquelas que trabalharam para embelezar o encontro, foram gente disponível silenciosamente e sem pressa…
Não podia deixar de acontecer, a nossa Filarmónica de Penacova abrilhantou e acompanhou os momentos com o som dos seus belos instrumentos, conduzidos por todos os jovens e menos jovens que se prezam a continuar a engrandecer Penacova, pelas suas atuações e tudo decorreu serenamente e sem pressa…
A imagem Nossa Senhora Salus Populi Roma, também símbolo das Jornadas, que retrata a Virgem Maria com o seu filho nos braços, caminhou pelas mãos das jovens que a olhavam ternamente como quem estava a pedir a sua proteção, e têm sido tantas mãos e braços a tocarem este símbolo, que me fazem crer na esperança de um mundo mais humano. Muitos rostos sorridentes saem apressadamente das suas casas para partilharem a sua vida através de Maria.
“HÁ PRESSA NO AR” da autoria de Matilde Luís, sim, pressa para tantos jovens da minha paróquia, da minha diocese, do meu país, do mundo se libertarem e saírem da sua concha, para procurarem horizontes que os preencham. Tantos perigos escondidos no meio dos escombros humanos em que a droga, o álcool, as teclas absorvem a juventude, que tantas vezes mergulhados nestes e noutros vícios a vida lhes vai passando ao lado. Quanta felicidade não pairaria em tantas famílias, se os seus educandos fizessem parte deste percurso das JMJ?
Ainda para recordar, que o mesmo dia de sábado foi longo para muitos Penacovenses pelas vivências dos Símbolos, mas também no evento organizado pela Câmara Municipal de Penacova. Foi enorme a minha emoção, quando durante a noite e pela primeira vez, entrei e pisei o palco do casino da Figueira da Foz, indescritíveis momentos que ficarão para a vida, bem haja o meu Maestro e quem organizou o evento.