O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebe hoje o Prémio Camões, quatro anos depois de ter sido distinguido, numa cerimónia a realizar no Palácio de Queluz, que simboliza o regresso aos valores democráticos no Brasil.

A cerimónia, que está marcada para as 16:00, no Palacio Nacional de Queluz, no concelho de Sintra, está integrada na visita oficial a Portugal do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que começou na sexta-feira, dia 21, e decorre até terça-feira, dia 25, e será presidida pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal.
Chico Buarque foi o vencedor da 31.ª edição do Prémio Camões, na sequência de decisão unânime do júri constituído por Manuel Frias Martins e Clara Rowland (Portugal), Antonio Cícero e Antonio Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola) e Nataniel Ngomane (Moçambique), mas a cerimónia de entrega nunca se realizou depois de ter feito várias críticas às políticas culturais do anterior Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que na altura se recusou a assinar o diploma, cuja entrega formal estava prevista para abril de 2020.
Reunido no Rio de Janeiro a 21 de maio de 2019, o júri fundamentou a sua escolha realçando a “qualidade e transversalidade” da obra de Chico Buarque, “tanto através de géneros e formas, quanto pela sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”.
A atribuição do Prémio Camões ao músico e escritor brasileiro reconhece “o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, um trabalho que “atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura no mundo contemporâneo”, concluiu o júri na sua declaração.
O autor de “Estorvo” e “Leite Derramado” é um apoiante do Partido dos Trabalhadores (PT), defensor de Luiz Inácio Lula da Silva, que foi novamente eleito em outubro do ano passado.
Entretanto, a pandemia de covid-19 obrigou ao adiamento da cerimónia de entrega do prémio, que foi agora remarcada, coincidindo com as celebrações do 25 de Abril e com a visita de Estado, de cinco dias, de Lula da Silva a Portugal.
Sobre a entrega do Prémio Camões de 2019 que agora se concretiza em Portugal, a ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, considerou que simboliza o regresso aos valores democráticos no Brasil, lembrando que Chico Buarque é “um artista que sempre se envolveu e se colocou na luta a favor da democracia” e contra a ditadura, através das suas obras.
Também a editora Clara Capitão, do grupo Penguim Random House Portugal, que edita a obra de Chico Buarque, na chancela Companhia das Letras, destacou que a entrega do prémio ao escritor e músico brasileiro, “depois de anos de espera, significa que o Brasil voltou a viver um tempo de democracia e esperança”.
Nos termos do Regulamento, Portugal e o Brasil organizam de forma alternada as reuniões e as cerimónias de entrega deste galardão.
Depois de Chico Buarque, foram distinguidos o professor e ensaísta português Vítor Manuel Aguiar e Silva (2020), a escritora moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o escritor brasileiro Silviano Santiago (2022).