Publicidade

David Gonçalves de Almeida

Pode Gondelim orgulhar-se de ter sido uma importante villa onde existiu um Paço que pelos anos de 984-985 estava na posse de netos de Munia Dias e Alvito Lucides[1] e, ter sido também, morada de Príncipes[2] e berço de figuras importantes da nossa história. A José Pereira Baião, figura insigne das Letras e da Oratória, podemos juntar Domingos de Lemos, um penacovense ilustre inteiramente desconhecido de muitos de nós. Em Gondelim nasceu no ano de 1694, tendo ingressado na Companhia de Jesus onde se notabilizou como boticário no Colégio da Baía. Aí permaneceu durante 16 anos (1732-1748), depois de ter passado pelo Colégio de Olinda em 1722.

Publicidade

É na obra “Artes e ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760)”,  publicada em 1953, que encontramos uma síntese biográfica deste ilustre penacovense[3]:

LEMOS, Domingos de (1694-1753). Natural de Gondelim (Penacova), onde nasceu a 27 de Maio de 1694. Entrou na Companhia, na Baía, com 25 anos, a 13 de Julho de 1719 (Cat. de 1725). Farmacêutico («pharmacopola»). Já o devia ser quando entrou, porque em 1722 aparece no Colégio de Olinda no exercício do cargo. Em breve voltou para o Colégio da Baía e aí residia em 1732, com o qualificativo de «insigne» em sua arte. Em 1746 e 1748 tinha dois ajudantes, donde se infere a importância do Laboratório baiano e a sua categoria de mestre. Faleceu no mesmo Colégio da Baía, depois duma actividade ininterrupta de mais de 20 anos, a 7 de Fevereiro de 1753.

Compreender-se-á melhor este percurso de Domingos de Lemos se tivermos em consideração  que a Companhia de Jesus, apesar de se ter dedicado desde a sua fundação principalmente ao trabalho missionário e educativo, também se evidenciou na actividade farmacêutica. As péssimas condições sanitárias com que se depararam em terras de Vera Cruz obrigaram os jesuítas a juntar ao seu papel de “médicos da alma” a missão de  serem igualmente “médicos do corpo”. Sendo insuficientes os medicamentos “importados” da Europa, desde logo procuraram outros que as plantas autóctones podiam fornecer.

Ajudados pelos conhecimentos das populações indígenas sobre a natureza e os efeitos terapêuticos de certas plantas, passaram mesmo a cultivá-las e a aprofundar o seu estudo. Os colégios dos jesuítas tornaram-se, deste modo, detentores de um riquíssimo receituário particular, que incluía não só as fórmulas dos medicamentos, mas também os processos de preparação.

As boticas jesuíticas eram dependências especiais dos colégios, anexas às enfermarias. A elas se recorria quando as populações eram atingidas por epidemias ou quando ocorriam casos de calamidade pública. A botica do Colégio da Baía, onde Domingos de Lemos se evidenciou, revelou-se como a mais bem estruturada de todas as que existiam na rede jesuítica, tornando-se um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos colégios do Brasil. Da reunião dos saberes e medicamentos produzidos em cada Colégio resultou (em 1776) uma importante compilação (260 receitas) intitulada Colecção de várias receitas e segredos particulares da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil. Compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais celebres que tem havido nestas Partes.

Estas receitas, prescritas para um grande número de doenças, demonstram o importante  contributo dos Jesuítas, em especial o Colégio da Baía, na história da medicina brasileira. Quando este colégio foi saqueado e sequestrado em Julho de 1760, por ordem do Marquês de Pombal, o desembargador incumbido da acção judicial logo comunicou superiormente que havia feito as diligências necessárias para se apoderar da botica do Colégio e de algumas receitas particulares.

David Gonçalves de Almeida


[1] – Cf. Manuel Luís Real: “O significado da basílica do Prazo (Vila Nova de Foz Côa), na alta Idade Média duriense”
[2] – Aqui se terão criado, de acordo com o Portugal Renascido, os Príncipes de Leão, Ramiro e Bermudo.
[3] – Conseguimos localizar nos livros de registos paroquiais o assento de baptismo de “Domingos, filho de Pedro Rodrigues (?) e de Antónia de Lemos”, baptizado a 27 de Maio de 1693. Há aqui um desfasamento nas datas, já que na síntese biográfica acima transcrita se refere o ano de 1694.

Publicidade

Artigo anteriorRegime do teletrabalho igual para a função pública e para o privado e licença parental aumenta em dias e valor
Próximo artigoAeródromo Municipal de Coimbra volta a estar certificado como prestador de serviços de navegação aérea

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui