Saudade Lopes
Descrever terras gaulesas, até ao passado mês de Outubro, era para mim apenas e somente as memórias de infância reproduzidas em ausências afectivas e descrições intensas vividas e ditadas pelo meu pai no curto espaço que lhe era permitido vir ao seio familiar.
Um sonho que me invadiu a alma durante décadas e que se dissipou em poucos meses.
Uma peregrinação à cidade de Lourdes com Mlopestour, uma empresa local que tem sido uma alavanca turística para os Penacovenses, deu-me a oportunidade de conhecer este circuito religioso e cultural, bem como a sua envolvência destacando principalmente os Pirenéus franceses.
Um roteiro em família com destino à cidade de Paris, levou-me a interiorizar locais e sítios onde tantos emigrantes portugueses passaram tempos difíceis para atribuírem mais valias à sua família, senti, então amargura destes homens vazios de todo o conforto, a calcorrearem esta terra, desconhecendo o dialeto.
Agora, com a música!
Para completar este ciclo, no passado fim-de-semana, uma viagem à cidade de Niort abrangeu a minha linha de memórias, pois numa zona lindíssima pela sua envolvência de ilhas e pântanos, onde o verde dos campos de cereais e o amarelo da cultura da colza, ” extração de óleo”, se estendem em dimensões inatingíveis à minha visão, um local limpo e silencioso que me transmitiu a tranquilidade desejada.
O ponto alto da minha presença nesta cidade foi a música, linguagem universal, ouvida e sentida de várias formas e costumes, dependendo do estado da alma. A música é algo transcendente à minha existência, a música é rir, chorar e deixar transbordar, um veículo que transportou sentimentos para o ao outro lado do mundo, nas décadas passadas. Quantos homens e mulheres se serviram da música para aliviar as suas tensões, mesmo que só cantarolassem, desviavam a carga emotiva da falta da família que se tornava pesada. À época toda a comunicação era impraticável, não havia aconchego imediato de imagem, de palavras escritas ou pronunciadas inter-parentais, restava somente uma caneta, um papel para diminuir as distâncias que normalmente diziam: “minha querida filha espero que estejas bem, eu também fico bem graças a Deus” mensagem a chegar ao destinatário ao final de oito dias. Pode confirmar o magnífico casal Manuel Pimenta e esposa, emigrantes há 52 anos, gente Minhota que pela sua genuinidade e boa disposição, proporcionaram momentos muito agradáveis com os seus cantares e dançares, e sempre presentes como animadores e tradutores do grupo.
Dei por mim agradecer a época em que vivo a nível económico, cultural e de liberdade, a minha música é inserida em estados de alma completamente diferentes. Foi ensinada, pensada, trabalhada por um Maestro, organizada com arte e propósito em cada tempo, em cada pausa, o som da minha voz flui, pelas suas mãos e pela sua expressão corporal e facial. Um jovem talentoso Penacovense que não faz vida da música mas faz da música VIDA! A sua entrega minuciosa e exigente deixou bem latente aos franceses que nos escutaram, a identidade e a intensidade dum coro português, que apresentou todos os temas do programa de dois concertos sem qualquer partitura, mas sim de memorização, sabendo que poucos coralistas têm ensino musical. Tanto o Divo Canto como o Oriana Vocal Ensemble, brilharam nas suas actuações, tendo finalizado os concertos, unidos nas vozes com dois temas e com acompanhamento musical de piano, de violino, e de saxofone, e sob maestria de Pedro André Rodrigues, uma excelente coordenação de sons harmoniosos que fizeram estremecer uma Catedral com de cerca 400 pessoas.
Um fim-de-semana em harmonia, a música associada à vida na partilha de culturas, conhecimento e amizades. Uma organização perfeita daqueles que providenciaram este intercâmbio, desde o acolhimento, às refeições, a acomodação nas suas casas, actos especiais, feitos com muito carinho e atenção. Um agradecimento especial a todas as pessoas que receberam o grupo e um abraço especial aos meus anfitriões, o Joseph e Martine.
A nível oficial, os Paços do Concelho de Niort estavam preparados para receber e acolher os portugueses duma forma organizada e agradável, tendo mesmo sido oferecido um beberete e uma lembrança ao Maestro.
Um agradecimento especial também a quem nos dirigiu aos destinos, José Carlos e Bruno, com o seu desempenho de motoristas, proporcionaram bons momentos aos viajantes.
E para terminar, convido todos a estarem presentes no próximo Domingo, dia 14, no Centro Cultural de Penacova, para saborearem a música do grupo e comemorarem connosco o seu vigésimo aniversário.
Saudade Lopes