David Gonçalves de Almeida
A primeira exposição retrospetiva sobre a obra do pintor Martins da Costa, intitulada “Martins da Costa… [d]aquilo que fica”, foi inaugurada no dia 7 de Outubro de 2017 no Museu da Quinta de Santiago em Leça da Palmeira.
Esta exposição abarcou cerca de cinco décadas da produção artística daquele pintor, entre os anos quarenta e o final do século XX, reunindo obras pertencentes aos acervos do Museu Nacional de Soares dos Reis, do Museu da Faculdade de Belas Artes do Porto, do Museu Municipal de Coimbra, da Câmara Municipal de Matosinhos e de alguns coleccionadores particulares.
O evento, promovido pela Câmara Municipal de Matosinhos, incluiu também a apresentação do livro “Martins da Costa, Contos Vividos”, obra que havia sido lançada em primeira mão no dia 23 de Julho de 2016 em Penacova. Na Quinta de Santiago estiveram presentes Humberto Oliveira, presidente da Câmara de Penacova, entidade que editou aquela obra e Álvaro Coimbra, que a partir das crónicas de Martins da Costa publicadas, quer no “Jornal de Penacova”, quer no jornal “Nova Esperança”, coordenou a edição deste livro, cuja publicação contou com o apoio da Família Martins da Costa e a concepção gráfica de Diogo Rocha (OMdesign), neto do artista.
A obra e o exemplo de vida deste “homem luminoso” não pode ficar “confinada às colecções particulares, a esta exposição e a este livro. É muito, mas é muito pouco” – afirmou Helder Pacheco, evocando de seguida os casos de Júlio Resende e de Nadir Afonso, à volta dos quais existem Fundações e Polos Culturais, em Gondomar e em Chaves, respectivamente. Nesse sentido, lançou o desafio para que um projecto semelhante fosse concretizado, precisamente, em Penacova.
“Descobrimos nesta exposição João Martins da Costa nascido em Coimbra, habitando no Porto, viajando pelo Mundo, e refugiando-se em Penacova, local onde terá vivido uma infância feliz e cujo abrigo procurou e encontrou, aproveitando as coisas simples da vida, vivendo genuinamente todos os momentos, respirando a beleza pura da natureza.”- escreve Cláudia Almeida, Museóloga no Museu Quinta de Santiago, no excelente catálogo da exposição (hoje trazido ao nosso apontamento semanal) que, refira-se, inclui também um importante estudo de Maria Leonor Barbosa Soares sobre a vida e a obra do pintor.
Do referido texto assinado por Cláudia Almeida destacamos, igualmente, as seguintes passagens:
[…] A história da relação da Câmara Municipal de Matosinhos com o pintor João Martins da Costa tem início em 1968, com urna exposição individual no então Posto de Turismo, da qual surgem as primeiras obras do artista na coleção municipal, tendo sido vastas vezes seleção em inúmeras exposições do Museu. “Martins da Costa…[D]aquilo que fica” é uma mostra que se pretende retrospetiva, abarcando cerca de cinco décadas do seu intenso e vasto percurso artístico, desde o seu trajeto académico, nos anos 40-50 até sensivelmente ao final do séc. XX.
[…] As paisagens que encontramos nestas salas são necessariamente diferentes. As de Penacova, o refúgio, as do Porto, com maior buliço, as das suas viagens, atentas.
[…] Discípulo de Dordio Gomes e de Joaquim Lopes, premiado diversas vezes no seu percurso escolar e, nos anos seguintes, beneficiando de bolsas de estudo que permitiram alimentar a sua “incansável ânsia de saber”, e saber mais, de experimentar técnicas e soluções plásticas, de ver ao vivo as obras dos grandes Mestres internacionais, de viver paisagens de outros países, de as poder retratar nas suas telas, como que impressões de memória. Impressões e memórias, que para além de pintar, escreveu.
[…] Da leitura das suas crónicas conseguimos perceber que apesar de viver nessa dicotomia “Eu+Eu”, nunca traiu a sua essência, recusando inclusivamente ceder às pressões comerciais de então e retirando-se por sua vontade do meio artístico, passando a viver numa casa que pensou e construiu, numa encosta projetada para o Rio Mondego, em Penacova até à sua morte em 2005. […]
O catálogo desta exposição é, também ele, um documento precioso. Além dos textos referidos apresenta um grande conjunto de reproduções fotográficas dos trabalhos de Martins da Costa. De entre eles, relativos a Penacova (todos pertencentes a colecções particulares) constam deste catálogo “O Olival”, 1991, óleo / tela; “Penacova”, 1945, óleo / madeira; “O vale do Mondego”, 1984, aguarela / papel; “Chuva no vale do Mondego”, 1992, óleo / tela. Ainda, sem título, mas que nos sugere o Penedo da Carvoeira, um óleo sobre madeira, datado de 1981.
David Gonçalves de Almeida