Entrevistado pelo jornalista Ricardo Sousa, do Diário de Coimbra, Pedro Baptista é o o treinador do Chelo que conduziu a equipa ao bicampeonato da Divisão de Honra AFC de Futsal e pretende agora recolocar o emblema no Campeonato Nacional da 3ª Divisão. Ter mais atletas e equipas na formação é outra das metas.

Diário de Coimbra O Chelo conquistou há um ano a Divisão de Honra AFC pela primeira vez. Agora, repetiu o feito…
Pedro Baptista Sim, o ano passado ficou uma mágoa muito grande porque ganhámos tudo e não podíamos almejar a subida aos nacionais, por culpa própria, uma vez que não tínhamos formação e, por isso, foi uma época um bocadinho atípica. Para este ano, ficou a esperança de o conseguirmos. Sabíamos que ia ser difícil, as equipas que iam lutar connosco tinham-se reforçado bastante, mas tínhamos a ambição e a vontade de conseguir o inédito bicampeonato e, mais do que isso, ter a hipótese de conseguir lutar pela subida aos campeonatos nacionais, que era o objetivo na temporada anterior. Foi muito por aí que construímos a equipa e que começámos a trabalhar para conseguir esse objetivo.
DC: O facto de em 2021/2022 não terem podido lutar pela subida aos nacionais deu-vos mais força para este ano?
PB: Sim, porque acho que, a partir do momento em que conseguimos manter o plantel todo e ainda ir buscar mais alguns elementos que já conheciam o clube, já sabiam como é que trabalhávamos e como era o grupo, que é o mais importante, sentimos que, embora soubéssemos que ia ser difícil, que tínhamos hipóteses de conseguir. Ao longo da época fomos tendo pequenos exemplos de que tínhamos qualidade e que podíamos lutar com qualquer equipa, como sucedeu na Taça de Portugal, que nos deu uma noção da realidade e mais maturidade e experiência, porque temos uma equipa muito jovem – são quase tudo miúdos que saíram da formação há dois, três anos e batemo-nos bem contra equipas que estão nos nacionais e que têm outro andamento.
DC: A derrota com o Vilaverdense, em casa, na 2.” jornada da fase de Apuramento de Campeão, fê-lo duvidar de que o título distrital podia escapar?
PB:Esse jogo com o Vilaverdense foi complicado. Chegámos a esse encontro da 2a jornada ainda sem nenhum jogo disputado, porque o primeiro desafio com a Granja do Ulmeiro foi adiado. Ou seja, chegámos a esse jogo sem qualquer ponto e o Vilaverdense com três e podíamos ficar a seis. Fizemos uma primeira parte aquém. Estávamos a perder ao intervalo 3-1, mas senti no balneário que a equipa acreditava que era possível ganhar. Na segunda metade, virámos o resultado para 4-3 a nosso favor, só que depois tivemos infelicidade em dois momentos e acabamos por perder 5-4. Ficou um senti- mento de frustração, mas não me vou esquecer daquilo que um jogador meu me disse no final desse jogo: «Não te preocupes. Vamos ser campeões. Não vamos perder mais nenhum jogo». Aquilo marcou-me de alguma maneira. Foi ele que expressou aquele senti- mento, mas todo o grupo sentia isso. E a partir daí, apesar de termo jogado sempre pressionados porque não havia margem de erro, ganhámos os jogos todos.
DC: Este bicampeonato é reflexo de quê?
PB: É o culminar de um esforço de muitos meses de um grupo muito comprometido, que nunca virou a cara à luta. É o celebrar também da amizade, do companheirismo e é também uma prenda para os nossos pequeninos que este ano resolveram aceitar este projeto. Esta- mos muito felizes de os ter connosco. Queremos ter a oportunidade de lutar pela subida de divisão.
DC: Quais foram as maiores dificuldades que teve esta época?
PB: A maior dificuldade foi mesmo recrutar atletas para a formação. Foi um trabalho desenvolvido por mim, pelo presidente, pelo capitão dos seniores, o Da- vid. Um trabalho conjunto no qual tentamos ao máximo arranjar jogadores. Um projeto novo, que já queríamos ter começado na época anterior mas não foi possível, que consegui- mos com muito esforço. Começámos a época dos infantis com apenas quatro atletas, neste momento temos 12. No total, temos três escalões: infantis, juniores e seniores.
DC: Havia a necessidade de ter uma formação mais alargada para que os seniores possam chegar aos nacionais. Mas foi apenas isso que vos moveu para apostarem na formação?
PB: Não. O objetivo, além de querer chegar aos nacionais com os seniores, é criar uma base competitiva e que nos de um “alimento” aos seniores como te- mos agora, que nos permita ser uma referência no concelho, no qual os jovens se sintam integrados e seja uma mais valia para eles. Este ano, o único escalão que conseguimos criar foi o dos infantis, que era uma aposta minha, um escalão de base, e depois ter um escalão de competição, os juniores, que permitisse utilizar jogadores nos seniores. Foi muito por aí. A partir de agora, é tentar angariar mais atletas e ter mais escalões. Uma das vitórias desta temporada foi conseguir ter mais atletas, juntar gente da terra que sentisse a terra, para que eles sintam que o clube é deles e que podemos construir coisas bonitas.
DC: Vem aí a Taça Nacional. Subir ao Nacional da 3a Divisão é mesmo o objetivo?
PB: Sim, desde o início da época que é esse o nosso objetivo. Vamos participar num grupo com mais três campeões dos seus distritos, julgo que to- das as equipas vão querer subir. É uma prova em que a margem de erro é mínima. O nosso objetivo está delineado desde o início. Cumprimos o que era o “passaporte” para chegar à Taça Nacional e agora serão mais seis jogos de intensidade altíssima. Temos de ser muito competentes e trabalhar bastante nos detalhes. Vai ser uma prova complicada, exigente, mas acredito que tenho um plantel à altura. Subir à 3.a Divisão é o nosso objetivo. Queremos voltar a colocar o clube nas provas nacionais. É muito gratificante para um concelho tão pequeno como Penacova e para uma aldeia tão peque- na como o Chelo ter um clube a disputar as provas nacionais. Queremos subir ao Nacional e ficar por lá alguns anos.
DC: Já conhece os adversários?
PB: Sim. O Ladoeiro (campeão da AF Castelo Branco) é uma equipa mais jovem, mas com muita qualidade, com alguns jogadores que não são portugueses. O Sabugal (campeão da AF Guarda) é também uma equipa jovem, que integra muitos juniores e que competiram bastante bem no campeonato distrital. É complicada pela intensidade que coloca no jogo. O Gaeirense (campeão da AF Leiria) desceu dos nacionais na época passada, uma equipa rotinada, com muita qualidade. Vão ser mais seis “finais” que esperamos que nos detalhes caiam para nós e que daqui a um mês e meio estejamos a festejar a subida à 3a Divisão.
DC: E ainda há Supertaça AFC frente ao Vilaverdense que, por certo, vão querer vencer novamente…
PB: Sim. Gostamos de estar nas decisões, de lutar por títulos. Falhámos na Taça AFC que era um objetivo, mas conseguimos o campeonato. Agora, temos a Taça Nacional na qual está o nosso foco total. E depois quando for marcada a Supertaça, lá estaremos para fazer o melhor possível e tentar ganhar mais um troféu.
DC: Sendo um treinador ainda novo (27 anos), é difícil impor a liderança perante os atletas mais velhos?
PB: Já éramos amigos antes de haver a relação treinador- atleta. Essa relação de amizade mantém-se. Nos treinos e nos jogos houve sempre respeito e a minha liderança nunca esteve em causa. Mas tenho uma liderança partilhada. Por exemplo, muitas vezes, a abordagem ao jogo é decidida por eles, eu dou algumas soluções, eles escolhem a mais vantajosa, porque são eles que jogam. Os jogadores mais velhos vejo-os como um apoio, alguém que me pode ajudar, são adjuntos dentro do campo. Não tenho nenhum problema com isso, acho que ganhamos todos. Tem corrido bem.
DC: É difícil ser treinado por si?
PB: (risos) Acho que sim. Sou um bocadinho intempestivo às vezes, gosto de trabalhar as coisas ao pormenor e sou muito exigente com eles. Mui- tas das vezes acabo por colocá-los em situações complicadas porque quero sempre mais. Mas eles já conhecem a minha personalidade e não tenho problema nenhum, no meio ou no fim do jogo, de lhes pedir desculpa por alguma atitude menos correta que possa ter tido.
DC: Sendo natural do concelho de Penacova dá um gozo especial treinar um clube do mesmo concelho?
PB: Sim. Sentimos mais as coisas porque estamos com os nossos. Olhamos para dentro do campo e são os que cresceram connosco, olhamos para a bancada e são os pais, a família, os amigos. E, parecendo que não, sendo um conterrâneo tem um gosto especial porque além de estar a fazer crescer uma equipa, estou a fazer crescer o meu concelho. É muito por aí que lutamos. No plantel dos seniores temos 17 atletas e apenas quatro não são do concelho de Penacova. Isso diz muito da maneira como lidamos com as coisas. Estamos a lutar pela nossa felicidade pessoal e coletiva, mas também por algo que é nosso e que fomos habituados a gostar já desde pequenos.
DC: É melhor treinador do que foi jogador?
PB: De certeza absoluta. A pandemia trouxe um bocadinho a necessidade de repensar os objetivos. Na altura já tinha decidido que, à partida, ia deixar de jogar, já não tinha o mesmo prazer de treinar. Como treina- dor, obriga-me a ver o jogo de maneira diferente, mas também o facto de ter sido jogador permite-me também gerir o grupo e as opções de forma diferente, porque já senti na pele o que é ficar de fora.
DC: Qual é o sonho por concretizar?
PB: Subir de divisão e criar mais um escalão de formação para o ano.