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Maria Helena Marques

O tempo roda incessantemente e, quando olhamos para o passado, já muito temos para contar.

Vem ao caso, tendo em conta que se acabou de viver uma festa importante da Academia de Coimbra – a Queima das Fitas-revisitar tempos que vivi ligados a esse tema.

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O meu primeiro contacto com esta realidade aconteceu, quando era menina dos meus onze anos.

Para frequentar o Curso Geral do Liceu que depois finalizei no Porto, fui morar em Coimbra na Rua dos Coutinhos que vai direitinha ter à Sé Velha Da janela da casa eu avistava bem aquela zona que era muito frequentada pelos estudantes, tanto mais que fica bem próximo da Velha Universidade.

Sendo assim, a Serenata Monumental da Queima das Fitas estava ali, mesmo, ao meu alcance. Podia ver e ouvir.

Noites de encanto! Vozes maravilhosas! Emoção ao rubro!

É bom lembrar que, nessa época, aconteciam muitas serenatas na noite de Coimbra, para além daquela.

Os “capas negras”, dedicavam-nas às moças que pretendiam namorar ou brindar as que já eram namoradas.

Muito romântico!

Dei conta de algumas pois, duas casas acima daquela onde eu morava, havia um Lar de meninas estudantes que, como se pode entender, eram razão para algumas dessas serenatas….

Pude,até, observar alguns “aconchegos” dos namorados, envoltos nas suas capas, que os defendiam dos olhares curiosos. 

Ah! O fruto proibido é o mais desejado! Nessa altura era tudo mais recatado, mas não deixando de acontecer…

Mais tenho na minha memória:

Mesmo em frente à casa onde morei existia (não sei se ainda existe) a “República Baco”. Tudo rapazes!

Da janela do meu quarto ou de outra, observei muitos comportamentos… O nome “Baco”- deus do vinho – condizia muitas vezes com as suas práticas em termos de “sede”…

Posso afirmar que era uma grande “bagunça” o que por lá se passava… Mas salvava tudo isso o dedilhar das guitarras que de vez em quando soavam!

Durante o ano havia várias atividades festivas, como, por exemplo, a “Latada” que acolhia os novos alunos, os chamados “caloiros”.

Na época da Latada, as Repúblicas, penduravam da janela para fora tudo o que era “ferro velho” desde panelas, testos, lavatórios, penicos, tudo o que fizesse barulho ou fosse cómico…. Era uma sinfonia, quando o vento lhe dava… Bem pude escutar. estando em frente à “Baco”…

Mas havia, também, muitas “Praxes académicas ” que deveriam ser cumpridas a rigor, pois de contrário, as “Trupes” constituídas por grupo de estudantes já veteranos ou pelo menos não caloiros, faziam – nas cumprir, castigando de algum modo os abusadores (as) consoante as regras da Praxe..

Se os caloiros ou os “bichos (os alunos dos liceus) andassem na rua depois das 18 h que era a hora a que badalava a “Cabra” (sino da torre da Universidade), apanhados por uma” trupe”, apanhavam umas tesouradas no cabelo que os deixava um tanto descompostos…. A salvação era ir junto com um veterano ou pelo braço de uma dama. Algumas bem que foram apanhadas de repente…

Quando um veterano encontrava caloiro e o mandava “cumprimentar o Doutor”, o caloiro tinha que zurrar de joelhos no chão…

Enfim, era um desfilar de ideias que embaraçassem os caloiros. 

No ano seguinte eles iam -se pagar, fazendo o mesmo aos que chegavam…

A Praxe também impunha regras no uso do traje académico e a licença de exibir as fitas de cada Faculdade. Não podiam exibi-las vestidos à “futrica” (traje de quem não era estudante).

Jamais as estudantes vestiriam mini saia ou calções com o traje académico, como eu vi acontecer no Cortejo deste ano….

Os carros dos Cortejos, diria que tinham mais piadas, críticas, gracejos… Era o momento de “desabafar” contra as posturas de professores, da sociedade, da política e dos políticos de então…

Eu, propriamente não fui uma aluna da Universidade de Coimbra, mas acompanhei muito esta caminhada, por ser do Distrito e ter tido, lá, familiares, como o meu marido, nessa altura namorado, mais tarde os filhos e agora as netas.

Quando acompanhei meu marido, anos 60, o Sarau era no Teatro Avenida e as noites da Queima eram no Parque Dr. Manuel Braga.

Sei que pouco é como dantes, mas cada época tem a sua estória. Bom será que não se deixem morrer todas as tradições. São elas que deixam Saudade!

Maria Helena Marques

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