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Saudade Lopes

Sei que acreditar naquilo que não é palpável ou visível torna se longínquo e frio na mente dos homens, acabando mesmo por nos tornarmos vazios de esperança e de amor, para contrariar é preciso abrirmos nos a realidades que para muitos podem ser banais.

Para mim um dos momentos que me tem preenchido e ajudado a compreender a vida, é sem dúvida alguma aquela pequena hora Dominical em que os sinos duma Igreja tocam assinalar a entrada dos crentes. É um espaço de encontro comigo, com Deus e com os outros, tendo como base simbolismos da vida. Tenho em conta que aquele bocadinho de tempo em oração e reflexão são “ferramentas especiais” que despertam a minha consciência para valores e miséria humana.

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No passado domingo contemplei sofrimento e ao mesmo tempo ação, senti que aquele Jesus silencioso dentro do Sacrário estava Vivo e era amado pelos homens. Em plena missa um jovem em sofrimento, carregado com o vício da destruição, pisou o chão do templo em silêncio a” pedir socorro”, virado para o altar de braços no ar; uma alma de Deus. Senti aqueles momentos com profunda emoção e observei a forma atenta e cuidadosa como o seu amigo Pe João saiu do altar olhando os seus olhos, acolheu-o com sorrisos e gestos indicando um banco para se sentar, o que ele acatou por breves instantes.

O sacerdote deu continuidade à celebração. Sensível à problemática humana, a tristeza estampou-se lhe no rosto até ao final. Tudo pareceu um puzzle, em que as peças se encaixaram nesse dia de Pentecostes.

A reflexão da homilia foi baseada na interpretação da comunicação e, segundo ele, uma das missões de um padre é pregar e anunciar No entanto, quantas pregações são ignoradas, quantas vezes a nossa mente está a ouvir as suas palavras, mas o nosso coração está fora noutras interpretações? Existem situações em que a comunicação é um ato de discórdia, aquilo que uma pessoa diz pode não ser o assunto que outro está a espera de ouvir. Ali mesmo, naquele templo, quantos não estariam a fazer juízos de crítica, a olhar de soslaio aquele jovem, jogar pedras ao outro? Seja ele quem for é fácil, mas cada pessoa é um indivíduo iniciado em processo de crescimento inacabado, somos frágeis, e a qualquer momento podemos cair e jamais nos levantarmos.

É nossa missão olharmos à nossa volta, acolhermos outro. Seja em que circunstância for, é sempre uma pessoa que deu início a sua história e por variadíssimas razões e contextos ainda não acabou. À saída da Igreja, uma vizinha condoída olhou o jovem com o coração e aproximou-se dele com palavras de conforto, foi buscar o seu carro e deu-lhe boleia para a aldeia, talvez até um prato de sopa quente partilhado na mesa da sua família, ou qualquer outra atenção ou mimo. Abençoada sejas Clarisse, pelo exemplo que me destes, e pelo modo transmissor do Evangelho. “aquilo fizeres aos mais pequenitos é a Mim que o fazes.

Tinha fome, deste-me comer.
Tinha sede, deste-me de beber.
Estava nu e vestisse-me.
Estava na prisão e foste-me visitar.”

Saudade Lopes

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