Marília Alves
Em 4 de junho de 1989, o exército chinês avançou com tanques para dispersar na praça de Tiananmen, em Pequim, protestos pacíficos liderados por estudantes, aos quais se juntaram outros grupos da sociedade, que pediam reformas políticas, liberdade de expressão e de imprensa para o país.
Os protestos começaram em meados de abril de 1989, após a morte de Hu Yaobang, um líder liberal do Partido Comunista Chinês, que lutou por um sistema político mais aberto e se tornou um símbolo da reforma democrática. À medida que as manifestações cresceram, o governo declarou a lei marcial, em Pequim, a 20 de maio de 1989. Na noite de 3 para 4 de junho, soldados chineses e a polícia invadiram a Praça Tiananmen, disparando contra a multidão e esmagando manifestantes com veículos militares. Estimativas calculam entre mil e quinhentos e quatro mil mortos e chegam aos dez mil feridos. O governo chinês nunca divulgou um número oficial de mortes, defendendo com “unhas e dentes” que a repressão dos “tumultos contra revolucionários” tenha levado à morte de apenas duas centenas de civis.
Desde o massacre, as informações sobre o ocorrido são suprimidas, para apagar a memória, e muitos cidadãos chineses continuam sem saber o significado histórico do incidente. Ainda assim, até 2019 era possível realizar vigílias em homenagem aos civis que foram terrivelmente massacrados e executados no dia 4 de junho de 1989, na Praça Tiananmen, mas a aprovação da “lei das fake news”, pelo governo, impede, agora, qualquer referência ao ocorrido, que é um não-acontecimento para a maioria da população. As gerações mais novas pouco ou nada sabem sobre o sucedido.
Volvidos 34 anos, o Partido Comunista Chinês informou que estariam milhares de agentes policiais, no passado domingo, dia 4 de junho, nas ruas para impedir manifestações ou referências ao massacre, inclusive as homenagens das mães que perderam os filhos durante os protestos. Centenas de chineses foram detidos durante o dia. A polícia tem também detido ativistas dos direitos humanos devido a publicações que recordam o massacre nas redes sociais, incluindo no Twitter — banido na China continental — e ameaçado outros ativistas para que não assinalem a efeméride.
Na China, em Macau ou em Hong Kong, o propósito é o mesmo: que se “passe a esponja”, para que todos esqueçam que Tiananmen existiu. E para que o mundo fique com a ideia de que a China comunista/capitalista é um oásis de paz, onde os seus concidadãos vivem felizes, em prosperidade financeira e sem motivos para protesto. Por outro lado, não vá o povo lembrar-se que existe um sistema chamado democracia …. Os que resistem, tentando homenagear publicamente as vítimas do massacre, à imagem e semelhança de qualquer crítico ou opositor do regime, são silenciados, aprisionados, eliminados.
No reino de Xi Jinping vive-se em paz, só que é a paz dos cemitérios, em que dia-a-dia a liberdade vai definhando e a autocracia florescendo. Tudo isto, com a nossa complacência e com o nosso esquecimento, também, especialmente quando vamos comprar produtos às lojas chinesas – e não só – fabricados por pessoas que ganham um vigésimo do que é usual na Europa, para além de não serem detentoras de quaisquer direitos, liberdades e garantias, não só como cidadãos, mas, sobretudo, como trabalhadores.
Este sistema enriquece os milionários do Ocidente, pois a maioria das marcas de renome são fabricadas por pessoas que trabalham nas condições referidas. E o preço destas marcas nas lojas não é propriamente para pobres, logo não é só o Partido Comunista Chinês que ganha com isto, mas, mais ainda, as sociedades proprietárias de marcas de luxo médio ou superior.
Durante quanto tempo mais isto vai acontecer? …. Enquanto o Ocidente permitir que um grupo reduzido de pessoas tenha vantagens económicas trilionárias com a venda de princípios que na Europa não são aceitáveis. E não é o consumidor final que beneficia com isso, porque paga o mesmo. Os custos de produção, através da exploração do trabalho humano, é que são claramente inferiores.
Não nos esqueçamos de que a EDP, as seguradores mais importantes e parte do setor financeiro nacional … já são propriedade da China, e desde há alguns anos. Assim sendo, é uma realidade que não é próxima, mas que está em nós, como noutros países ocidentais, uma vez que dominam setores estratégicos para a vida de qualquer país, pela calada, e sem grandes foguetes …. No nosso caso, houve muitas pessoas que, seguramente, receberam muito dinheiro/proveitos, porque, noutra situação, não entregariam setores estratégicos de mão beijada ao Partido Comunista Chinês.
Thank you for this article. The world selectively forgets things they don’t want to remember when it comes to doing business and the injustices of global capitalism.