Maria Helena Marques
Estamos num mês especial, em que esta palavra tem muito sentido e uma grande razão de existir e que muito empolga o nosso Povo português.
Todos sentimos a necessidade dessa descontração e a alegria que a “festa” nos proporciona, tanto mais quanto a vida por vezes nos pesa pelas mais variadas razões. É ver como o povo ucraniano, quando as sirenes se calam, trata de vir para a rua querendo implantar uma normalidade que os conforte e os reúna aos outros cidadãos.
Somos seres eminentemente sociais.
Mas voltemos ao mês de Junho que vivemos neste momento.
Diziam os nossos avós que ele era o “mês dos três rapazes”, querendo eles referir-se aos Santos Populares tão festejados pelo nosso povo.
Por isso se canta: “Aí vem santo António, /depois são João, /no fim vem são Pedro /para a reinação”!
Não faltam quadras e cantigas que exaltem o valor e qualidade de cada um deles e, não faltará aldeia, vila ou cidade que não tenha como padroeiro ou devoção a qualquer um.
Para além dos que se festejam na minha freguesia – Santo António e São João – já vivi o Santo António em Lisboa com as suas belas marchas, os casamentos na Sé e os arraiais onde não falta a sardinha assada como principal petisco.
A verdade é que, tendo também experimentado as festas Juaninas do Porto, terei que lhe dar o voto mais elevado.
É única na vivência, pois desacomoda toda a gente da cidade e arredores e todos os demais forasteiros que se vêm juntar, vindos dos mais diversos cantos do país e não só.
Toda a gente sai à rua nessa noite de São João! Elas enchem-se de colorido e algazarra, pejadas de gente que, outrora ostentavam seus ramos de cidreira e o famoso alho porro com que martelavam e perfumavam as cabeças de quem lhe passasse perto. Nos tempos que correm pouco usam isso, pois substituíram por “martelinhos ou martelões” de material leve e que fazem soar um “tic tac” ao martelar a cabeça do vizinho. Esse som ecoa rua fora…
Naquela noite, misturam-se, sem qualquer preconceito ou animosidade, as pessoas das diversas classes sociais, raças ou credos numa genuína, alegre e fraterna convivência que impressiona pela raridade.
Toda a noite se percorre rua atrás de rua sem dar conta do cansaço. Só lá pela madrugada já ao nascer do sol é que a folia abranda, mas outros virão continuar a folia, por terem descansado mais cedo…
Mas, há um momento especial em que tudo pára, mais ou menos em silêncio, para assistir ao espetáculo do fogo de artifício que vai fazer do rio Douro e das suas pontes, um caminho e cascatas de luz!
Nesse deslumbramento nenhum triste pensamento nos assalta! É tempo de extasiar!
Vivi isto há uns anos atrás e mais que uma vez, julgo que já não será tanto assim, mas pelo que relata a comunicação social, ainda não perdeu a identidade.
Por cá vamos fazendo as nossas romarias, com os gaiteiros (os Zé Pereiras) arcos e balões, ruas, igrejas e capelas enfeitadas e com o andor do santo padroeiro em destaque. Dantes estralejavam foguetes. Agora usam formas mais silenciosas e coloridas e menos estrondosas para iluminar o ambiente. Há música de baile, há gente que se abraça e cumprimenta efusivamente para matar saudades pela ausência no estrangeiro.
No ar e à mesa, onde se reúne a família e os amigos, há um convidativo odor a “chanfana”, leitão e/ou cabrito ,além de outras especialidades da gastronomia local que regalam o paladar…
Que saudável é o ambiente de Festa! Recarrega energias, descontrai, provoca encontro e gera alegria, tão necessária à nossa saúde mental!
Viva a festa! “Esta vida são dois dias e, amanhã já está na conta”!…
Maria Helena Marques